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'Mentor' do Itaquerão quer erguer arena com cara de EUA: "será a antítese do Engenhão"

Luis Paulo Rosenberg diz não gostar de futebol, mas trata o Corinthians como "religião" - Renan Prates/UOL
Luis Paulo Rosenberg diz não gostar de futebol, mas trata o Corinthians como "religião" Imagem: Renan Prates/UOL

Carlos Padeiro e Ricardo Perrone

Em São Paulo

06/09/2011 07h00

Economista renomado, Luis Paulo Rosenberg é o principal responsável por viabilizar o estádio Itaquerão, provável palco da abertura da Copa do Mundo de 2014. Braço direito do presidente Andrés Sanchez, o diretor de marketing diz dedicar 40% da sua agenda aos interesses do Corinthians e fala em erguer o estádio mais moderno do mundo.

“Desde o projeto até a construção, fizemos tudo da forma como (pausa para pensar)... Como uma Microsoft faria”, definiu, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. “Será um estádio para eventos, não para sentar lá e só ver o jogo. É muito norte-americano.”

Sobrou até para o Engenhão, que virou exemplo de como não se deve fazer um estádio, na concepção de Rosenberg. “O modelo que pra mim serve como antítese do nosso é o Engenhão. Isso aí é século passado.”

O cartola definiu como “oba-oba” as dúvidas em relação ao tempo em que o estádio será erguido. “Hoje é mais difícil fazer um shopping do que um estádio, principalmente o nosso”, decretou.

Sobre as questões pendentes, como o empréstimo junto ao BNDES e a retirada dos dutos da Petrobrás no terreno da futura arena, o economista demonstra tranquilidade e afirma que tudo estará resolvido até o final do ano, embora não tenha apresentado argumentos ou fatos convincentes para defender sua tese.

Na última quarta-feira, Rosenberg recebeu a reportagem do UOL Esporte em seu escritório, um casarão de 140 anos na região do Pacaembu. Abriu mão do terno e gravata para utilizar uma camisa do seu time do coração e falou praticamente durante uma hora, antes de sair às pressas para um almoço com o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, a quem considera seu “mestre”.

Além de falar sobre o estádio, o dirigente corintiano defendeu a rivalidade sadia entre os clubes e justificou as frases provocativas que frequentemente adota.

Confira os principais assuntos tratados por Rosenberg:

- O PROJETO DO ITAQUERÃO

“Nosso estádio é sem dúvida é o mais moderno do mundo, porque incorpora tudo o que a Fifa quer, e os padrões são muito mais exigentes hoje do que foram na Copa da África. É o único estádio no Brasil feito a partir do marketing. Nasceu de uma pesquisa de consumidor, e a partir disso ficou estabelecido o número de camarotes, de cadeiras vips, de numeradas, de balcões de venda de alimento, de lojas... É muito legal nesse aspecto, é muito norte-americano.”

- A ABERTURA DA COPA

“Em outubro vai ser oficializado, será o preto no banco, e temos um diálogo contínuo com a Fifa. Será um estádio para eventos, não só um lugar onde você senta e vê o jogo. Não vamos fazer um novo Engenhão de jeito nenhum, não quero isso daí, é século passado. O nosso será uma máquina de fazer dinheiro. A Fifa sabe apreciar isso. Não é possível que o centro econômico da América Latina [São Paulo] não terá a abertura ou fechamento da Copa, então estamos tranquilos quanto a isso."

- BNDES, DUTOS, SELO VERDE

“Não existe nenhum desafio tecnológico. Os dutos não carregam combustível, só óleo, e ficam a um metro e meio de profundidade. Então não tem erro. A questão de quanto custa e quem paga é porque envolve uma empresa pública de capital aberto [Petrobrás] e um clube privado. Se fosse o governo, já estaria resolvido."

“Somos muito criteriosos, em busca do menor preço, da sustentabilidade. Brigo por cada centavo. Minha unidade de compra é um ‘Kaká’, que vale 80 milhões. Se economizo 4 milhões, por exemplo, é 5% do Kaká, a perna esquerda dele. É uma operação financeira complicada, um projeto com amortização de 40 milhões e 40 milhões de juros todo ano no começo.”

“Somos uma entidade privada e não posso ir ao BNDES pegar dinheiro. Temos de montar uma engenharia financeira com uma instituição no meio para criar um fundo imobiliário. Ela fica com a concessão do estádio como garantia, aí eu pago ele, ele paga o BNDES, e eu recebo o dinheiro de volta do excedente. Aqui nesse escritório 80% das operações financeiras que realizamos foram mais simples do que essa. O BNDES tem a linha disponível, está lá o dinheiro esperando para o estádio da cidade de São Paulo na Copa, mas tem as regras dele."

“O meu projeto já foi feito pensando no selo verde, ao contrário dos outros. Fiz o projeto certo e só preciso da autenticação quando estiver fazendo a construção.”

- A RIVALIDADE COM PALMEIRAS E SÃO PAULO

“Parte da nossa doutrina é aguçar a rivalidade, por isso toda vez eu faço uma gracinha com ‘bambi’, ‘panetone’ etc. O São Paulo precisa de mim, eu preciso dele. Posso dar uma sugestão, um conselho, me juntar a eles. Estamos no mesmo barco, nosso inimigo é a mediocridade e a safadeza no futebol, não é o São Paulo nem o Palmeiras, esses são meus adversários na hora do jogo e com quem quero manter relações amistosas enquanto instituição."

“O fato de eu estar sempre brincando é muito mais para desarmar, dizer ‘vem, me chama de gambá, de galinha’, para trazer o clima de brincadeira e não jogar a gente dentro do rio, caramba.”

Nota da Redação: Ao afirmar “jogar a gente no rio”, Rosenberg se referiu ao torcedor do Corinthians encontrado morto no rio Tietê no dia do clássico contra o Palmeiras.

“Quanto mais forte o São Paulo, mais forte eu sou. Quando alguém me diz que o São Paulo conseguiu aumentar o valor do seu patrocínio, eu vibro. Subiu a barra, e como a minha é a mais alta vai me empurrar pra cima.”

“Sinto que a nova geração, por causa dos títulos recentes, tem maior birra maior com o São Paulo do que com o Palmeiras. Eu acho difícil o Palmeiras perder o trono de ser o nosso grande rival, pelo fato de ter nascido dentro do próprio Corinthians.”

- RELAÇÃO ABALADA COM O SÃO PAULO?

“Olha, eu converso mais com o marketing do São Paulo do que com o do Palmeiras, pelo fato de estar na mesma faixa econômica e de ter interesses comuns grandes.”

- CORINTHIANS RELIGIÃO E AMANTE ARGENTINA

“Tenho um defeito de nascença: não gosto de futebol. Desde pequeno eu nunca fui ver um jogo de futebol que não seja do Corinthians. Ir ao estádio é inadmissível para mim. O Corinthians está muito mais perto de religião do que de esporte.”

“O Corinthians é que nem amante argentina, de dia detona o seu cartão de crédito, bate em você, briga com os filhos do casamento, e à noite é uma felicidade incomparável.”

- ELOGIOS A ANDRÉS SANCHEZ

“Trabalhar com o Andrés é uma experiência fantástica. Em toda minha vida, consegui ter dois chefes, o Andrés e o Delfim [Netto]. São duas pessoas extremamente lúcidas, rápidas no raciocínio e com uma capacidade de delegar absoluta, então é muito legal. São estilos totalmente opostos. O do Andrés é semelhante ao do Lula. Tem talento para aceitar pessoas de formações diversas e assumir as loucuras dos auxiliares. O Delfim é uma concepção analítica.”