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Marquinhos brinca com fama graças a boneco da MTV e diz que opinião forte já o prejudicou

Marquinhos é um dos raros jogadores com opiniões fortes no futebol brasileiro - Lucas Uebel/TRATO,TXT
Marquinhos é um dos raros jogadores com opiniões fortes no futebol brasileiro Imagem: Lucas Uebel/TRATO,TXT

Marinho Saldanha e Carmelito Bifano

Em Porto Alegre

21/10/2011 07h01

"O que você acha disso Marquinhos?", dizia Paulo Bonfá e a câmera filmava um sorridente manequim vestindo a camisa do São Paulo, com gengiva avantajada. "Este é o Marquinhos, homem de olhar penetrante, sempre com algo nobre a dizer", acrescentava Marco Bianchi. Este diálogo pouco ortodoxo se dava numa brincadeira com o meia que atualmente defende o Grêmio. Ele "furou" um programa, deu espaço para a piada, e acabou ganhando fama com ela.

  • Marquinhos faltou um programa Rockgol da MTV em 2004 e teve lugar ocupado por um manequim. O sucesso foi tão grande que virou personagem fixo e ganhou fama com a brincadeira dos apresentadores

Hoje, 7 anos depois, o jogador ainda é lembrado como "Marquinhos do Rockgol", da MTV, mesmo que seu personagem tenha deixado de aparecer no programa em 2007. Completamente diferente da anedota televisiva, o camisa 19 do time gaúcho é homem de opiniões fortes e que já até o atrapalharam. No futebol cada dia mais pautado por declarações brandas, ele destoa.

Jogadores de opinião forte são cada vez mais raros. Jargões como "graças a Deus conseguimos o resultado", "o time se esforçou e o que vale são os três pontos", "o professor nos deu apoio e o grupo é maravilhoso" se proliferam nas manifestações dos atletas. Mas não com Marquinhos. O meia do Grêmio é raro exemplo de quem fala o que pensa independente de prejuízo com isso.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, ele lembrou o caso do "manequim famoso", comentou a relação com Ganso e Neymar no Santos em 2010, se disse "culpado" por polêmica envolvendo o camisa 10 santista e não mudou uma vírgula do que disse contra Jonas, do Coritiba, após drible "abusado" na 28ª rodada do Brasileirão.

  • Edu Andrade/Agência Freelancer

UOL Esporte: Ser um jogador de opinião o prejudica?
Marquinhos: Prejudicar, sempre prejudica porque tem o lado bom e o ruim de você ter opinião própria. A maioria das pessoas se esconde atrás das palavras. Às vezes, tem dúvida ou medo de se expor, mesmo que a exposição da opinião seja verdadeira. Eu sempre falei o que achava. Nem sempre somos donos da verdade, mas acredito que sempre tive isso como um ponto forte e positivo. Quando você acha alguma coisa, tem que debater. Claro, tem que ter conhecimento da causa que está debatendo. Acredito que a minha opinião é forte, mas sempre respeitando o próximo.


Fiquei mais conhecido por não ter ido, pois fiquei dois ou três anos aparecendo na MTV e no Rockgol, do que se eu fosse. Se tivesse participado, seria apenas um programa. Sei lá uma hora, uma hora e meia, o Marquinhos ia estar lá e depois ia sumir. Depois do episódio, um monte de pessoas me perguntavam se eu era o Marquinhos do Rockgol

UOL Esporte: Alguém já te aconselhou a evitar expor a tua opinião?
Marquinhos: Já, principalmente, após jogos. Quando o resultado não é positivo, você fala algumas coisas e na ocasião é inoportuno. Não que não seja verdade, mas, às vezes, é inoportuno porque é um momento depois de uma derrota. Numa situação que houve com a arbitragem, com o próprio jogador adversário, que pode ter feito alguma coisa que sabemos que não é o correto, mas como falei, nunca tive problema com os clubes, com os jogadores, com os diretores ou com os treinadores. Acredito que o meu comportamento está sendo bem resolvido e bem aproveitado. Até porque nunca tive problema com ninguém.

UOL Esporte: Algum colega já te cobrou alguma opinião que você externou?
Marquinhos: Não, até porque se for para falar, será entre eu e o colega, pois ninguém precisa saber o que está certo ou errado. Dependemos um do outro. É claro, se for colega do mesmo time, temos momentos no vestiário ou em outras ocasiões para conversar sobre o fato ocorrido, mas sempre respeitando... Até porque, como tenho essa abertura, também dou essa abertura para o colega falar o que está certo e errado. Dialogando a gente chega a uma conclusão correta.

UOL Esporte: Você acha que falou alguma coisa a mais na questão do Jonas [do Coritiba]?
Marquinhos: Aconteceu porque o jogo estava parado. Não foi uma ocasião que a jogada estava rolando. Tanto é que na partida contra o Santos teve a mesma situação, só que com a bola rolando. O Borges tentou fazer a mesma coisa, fiz a falta, só que o jogo estava valendo. Lá estava parado e com um jogador deles caído. Era o Davi, com quem trabalhei no Avaí e vinha de lesão, e ficamos preocupados. Tanto é que o Tcheco jogou a bola para ele e parou o lance. Nisso, eu olhei para ele e ele foi fazer... Tipo, a gente que está no futebol há muito tempo, sabe que ele foi fazer graça para a torcida, em uma ocasião que não precisava. Tanto é que ano passado aconteceu isso a meu favor e eu também reivindiquei com o Neymar, que não precisava fazer aquilo. Mas é no calor do jogo. Às vezes, a gente fala, quando é a favor, tudo bem, quando é contra, a gente sente. Mas acredito que ele se passou um pouco, até porque eu nem encostei para ele fazer aquele escarcéu todo. Eles estavam ganhando por 2 a 0 e não precisava fazer aquilo. E ele começou a falar um monte de coisas com a mão no rosto e deitado no chão. Não peguei ele, tanto que nenhum jogador do Coritiba me tirou dali. Então, quer dizer, ele sabe que fez errado. Sabe que estava conversando e ele falando um monte de besteiras. Na ocasião saímos um pouco de cabeça quente, mas nada do que eu falei foi para prejudicar. Como disse, ele é um bom jogador, mas, com esses erros, ele pode aprender para que no futuro eles não o atrapalhem.

Carmelito Bifano/UOL Esporte
A maioria das pessoas se esconde atrás das palavras. Às vezes, tem dúvida ou medo de se expor, mesmo que a exposição da opinião seja verdadeira. Eu sempre falei o que achava ocorrer. Nem sempre somos donos da verdade, mas acredito que sempre tive isso como um ponto forte e positivo

* MARQUINHOS DISPAROU CONTRA JONAS APÓS A PARTIDA CONTRA O CORITIBA

UOL Esporte: Como foi a relação no Santos com o Neymar e o Ganso?
Marquinhos: Eles brincavam bastante. O Neymar é mais brincalhão do que o Ganso, que tem uma postura mais série. Mas em nenhum momento, o Neymar ultrapassa o limite. É um menino que gosta de brincar. Não se preocupa com outras coisas, sem ser o futebol. Faz aquilo por amar o que faz. No ano passado, a gente sabia que eles ainda eram promessas e nos primeiros meses se tornaram praticamente uma realidade. O Dorival foi muito feliz de montar o grupo e dar liga. Acontecer isso no futebol, a gente sabe que é muito difícil.   Ano passado foi histórico. Em seis meses a gente chegou a 100 gols na temporada, então, foi um ano espetacular. Além do mais, eles foram para a seleção. São dois meninos maravilhosos. Tinha mais amizade com os casados, até porque tenho meus familiares e sempre estava junto com o Arouca, Edu Dracena e Durval. Fora de campo, tinha mais afinidade com essas pessoas, mas dentro de campo e nas concentrações, sempre brincava com eles, que são maravilhosas e tem muito a oferecer para a gente.

UOL Esporte: Além do chapéu do Neymar no Chicão, teve outra polêmica no Santos em 2010, com relação ao Ganso ter se negado a sair...
Marquinhos: Na ocasião do Neymar, foi a réplica, pois na final anterior, contra o Corinthians, o Chicão tirou onda com o Neymar. Daí ficou aquela rusga. Como a gente fala, quem apanha nunca vai esquecer, mas quem bate, às vezes, esquece. Então, o Neymar fez aquilo como um troco. Para ter noção como eles são tão diferenciados, eles combinavam isso dentro do vestiário. A gente vai estar ganhando e vamos descontar o que eles fizeram com a gente. Tínhamos que segurar eles às vezes, mas nunca vimos maldade no coração dos meninos. E acredito que até hoje não tenha. O lance do Ganso, eu não estava no campo. Na ocasião, um dos culpados pela situação fui eu, pois tinha sido expulso no primeiro tempo. Foi uma situação chata, principalmente, depois do jogo. Se a gente perde o título ali, ficaria muito chato para o Dorival [Jr, então técnico do time].  Ali já criavam um clima que o Dorival tinha perdido o grupo. A gente sabe que se fala muitas coisas, mesmo que não sejam verdade. Naquela ocasião, o Ganso teve uma hora que baixou e se sentiu cansado. O Dorival, como tinha uma substituição, não podia errar. Ele perguntou para o Ganso se ele queria sair e ele disse que queria. Depois falou que não queria. Como era um clima de decisão, a gente se passa um pouco. Ainda bem que deu tudo certo e conseguimos o título. Naquela ocasião, todo mundo salientou que o Ganso teve personalidade, mas acho que foi uma personalidade que não precisava ter, mas depois eles sentaram, conversaram e até hoje são amigos.

Carmelito Bifano/UOL Esporte
O lance do Ganso [se negar a ser substituído], eu não estava no campo. Na ocasião, um dos culpados pela situação fui eu, pois tinha sido expulso no primeiro tempo. Foi uma situação chata. Principalmente depois do jogo. Se a gente perde o título ali, ficaria muito chato para o Dorival

*Nota da reportagem: Ganso se negou a ser substituído na final do Paulista de 2010, contra o Santo André. Lembre como foi a partida

UOL Esporte: Na época que você defendia o São Paulo [2004], um programa da MTV, o Rockgol, fazia uma brincadeira com você colocando um manequim no seu lugar. Você se recorda disso, como era "se assistir" na televisão...
Marquinhos: [Risos] Eles me convidaram para o primeiro programa na MTV. Eu aceitei, mas tínhamos jogo contra o São Caetano, pelas quartas do Paulistão, dentro do Morumbi, pelo empate, então, tudo caminhava a favor para a classificação. Mas como o futebol é o único esporte coletivo que nem sempre o favorito passa, tivemos um acidente. Não passamos e eu perguntei para o Cuca, que era o técnico, para o Juca, assessor de imprensa do São Paulo, e para o presidente se eu poderia ir no programa. Até porque era um programa de comédia. Mas eles me disseram que não era para ir, pois a torcida estava chateada com a derrota em casa para o São Caetano. Cheguei mais tarde em casa, pois tinha saído para jantar, e olhei o programa. Eles estavam comunicando que eu ia chegar e eu não chegava. Então, eles pegaram um manequim e colocaram a camisa do São Paulo, com uma gengiva que não é a minha. Aquilo ficou durante um tempo. A minha esposa ficou muito irritada. Queria processar, mas eu pensei: paciência, era para ir e não fui. Ela me pediu para ligar, mas eram coisas maiores que eu não podia passar por cima. O diretor, o presidente e o treinador falaram que era melhor não ir. Resumindo, fiquei mais conhecido por não ter ido, pois fiquei dois ou três anos aparecendo na MTV e no Rockgol, do que se eu fosse. Se tivesse participado, seria apenas um programa. Sei lá uma hora, uma hora e meia, o Marquinhos ia estar lá e depois ia sumir. Depois do episódio, um monte de pessoas me perguntavam se eu era o Marquinhos do Rockgol. Falava, não, sou o Marquinhos que eles inventaram o personagem do Rockgol. Quando trabalhei no Santos, pedi desculpa para o pessoal da MTV, mas como era funcionário, acatei a ordem do patrão. Achei legal, pois apareci em muito mais programas do que se tivesse ido no que fui convidado.

*Nota da reportagem: O campeonato citado por Marquinhos é o Paulista de 2004. O São Paulo foi eliminado pelo São Caetano por 2 a 0 no Morumbi.

UOL Esporte: E o pessoal no vestiário te 'zoava' muito...
Marquinhos: Se zoava... Muito... Riam muito, falavam que eu estava bem no programa. Mas aquilo não me incomodava. É como eu falei, fiquei mais conhecido por ser o personagem do programa do que se eu tivesse ido lá. Era um programa de humor. Se eu tivesse ido talvez não tivesse sido bom para mim. A torcida estava chateada. Teve aquela situação de se dizer que o São Paulo era 'pipoqueiro'. Então acertei sem querer. Minha esposa não gostou. Mas não tem problema. No final eu acabei indo a muitos programas, sem ter ido a nenhum. Fiquei no ar mais de três anos [risos]