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Operação "mãos limpas" da Fifa terá apoio de ONG que luta contra corrupção internacional

Batter anuncia novo comitê de ética da Fifa, que deverá investigar a vida dos executivos - Dolores Ochoa/AP
Batter anuncia novo comitê de ética da Fifa, que deverá investigar a vida dos executivos Imagem: Dolores Ochoa/AP

Carlos Padeiro

Em Zurique (Suíça)

21/10/2011 13h26

A ONG Transparência Internacional vai encabeçar a formação do novo comitê de ética da Fifa, fiscalizando desde a nomeação dos executivos da entidade até a participação de todos em contratos pelo mundo, revelou o presidente Sepp Blatter, esta manhã em Zurique, em  entrevista coletiva, transmitida pela internet.

Como presidente da Fifa, Sepp Blatter apostou nas mudanças: “A Transparência Internacional nos ajudou a desenhar um plano de fiscalização interna e teremos um membro dessa ONG na composição de nosso novo comitê de ética”, revelou o dirigente.

Blatter ainda revelou que o amigo de João Havelange, Henry Kissinger, deverá ajudar com “alguma consultoria, mas que não aceitou fazer parte do novo órgão fiscalizador”.

Os 15 nomes que comporão o novo comitê de ética da Fifa serão conhecidos em dezembro. O primeiro relatório do grupo será divulgado em março de 2012.

“Não podemos divulgar todos os nomes agora porque ainda estamos formando esse grupo. Mas posso adiantar que teremos grandes nomes da política e outros segmentos dispostos a fazer esse trabalho”.

Uma das missões do comitê será investigar a vida dos executivos da Fifa antes mesmo de serem nomeados.  “Um país pode apresentar um grupo de pessoas corruptas, mas isso não transforma o país inteiro em corrupto”, disse Blatter tentando limpar o nome da Fifa com o instituição.

A ONG Transparência Internacional fez algumas indicações a Blatter na chamada operação mãos limpas do futebol mundial. Na lista de pedidos estava a divulgação dos nomes dos executivos envolvidos em propinas entre  1980 e 2001. Três dirigentes sul-americanos estão nessa lista nominalmente, ou por trás de empresas instaladas na Suíça ou em outros paraísos fiscais.

Riqueza deTeixeira sob análise da Justiça

  • Ana Carolina Fernandes/ Folhapress

    Sanud de Teixeira operou na Fifa, dirigida por Havelange (direita)

É o caso da Sanud, por exemplo, que aparece na lista de suborno operado pela empresa de marketing da Fifa, a ISL. Segundo documentos guardados pela Justiça suíça, a Sanud é dirigida por Ricardo Teixeira, dirigente da Confederação Brasileira de Futebol e chefe do Comitê Organizador Local  da Copa 2014.

O paraguaio Nicolas Leóz, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, também tem seu nome registrado na recepção de propinas. As principais denúncias envolvem o período em João Havelange era presidente da Fifa (1974 a 1998) e Blatter, seu secretário geral. Blatter está na Fifa há três décadas e cumpre o quarto e último mandato como presidente da entidade.

O jornalista escocês Andrew Jennings produziu documentário sobre a corrupção na Fifa e garante que João Havelange também faz parte da Sanud. De 2000 a 2002 esta presa foi investigada pelo Senado, na CPI do Futebol. A Justiça suíça descobriu outras empresas batizadas com nomes supostamente brasileiros.

ALGUMAS EMPRESAS ENVOLVIDAS EM SUBORNO, SEGUNDO JUSTIÇA SUÍÇA

SanudUS$ 8,5 mihõesde 16/02/93 a 28/11/97
BelezaUS$ 1,5 milhãode 27/03/91 a 01/11/91
OvadaUS$ 820 mil22/01/1992
WandoUS$ 1,8 mihãode 06/07/89 a 22/01/93
SicurettaUS$ 42,4 mihõesde 25/09/89 a 24/03/99

 

Há duas semanas o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro colocou mais uma vez Ricardo Teixeira no noticiário policial, ao pedir uma nova investigação contra ele, seu irmão Guilherme outros membros da família, por lavagem de dinheiro.  A riqueza da família será confrontada com as declarações de rendimentos.

 Blatter não quis comentar as investigações que estão em curso no Brasil. Seu ponto estratégico é o futuro.

“O trabalho do novo comitê de ética será o nosso primeiro grande passo no sentido de melhorar nossas atividades”, disse Blatter, tomando cuidado para não repetir palavras como corrupção, suspeitos e suborno. 

Coube ao diretor de comunicação da Fifa, Di Gregório, a ajuda final a Blatter, que parecia bastante desconfortável diante da imprensa internacional.

“Vamos nos atentar a casos concretos. O comitê de ética é nosso primeiro passo. Outros virão nos próximos meses”, disse Di Gregório.