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Irmão do ex-goleiro Castilho vai às Laranjeiras e se emociona: 'Ele foi meu ídolo, irmão e pai'

Antônio Castilho voltou às Laranjeiras depois de 25 anos de ausência - Dhavid Normando/Photocamera
Antônio Castilho voltou às Laranjeiras depois de 25 anos de ausência Imagem: Dhavid Normando/Photocamera

Luiz Maurício Monteiro

No Rio de Janeiro

26/11/2011 17h35

A véspera do clássico decisivo contra o Vasco foi movimentada nas Laranjeiras. Além dos torcedores que compareceram em bom número para incentivar os jogadores, um senhor de cabelos brancos e voz mansa acompanhava a movimentação no campo. Era Antônio José de Castilho, que, pelo sobrenome, não nega parentesco com um dos maiores ídolos da história do Fluminense. Único irmão vivo do goleiro Castilho, Antônio, de 75 anos, foi convidado pela diretoria para voltar à sede do clube depois de 25 anos para receber uma homenagem em nome do ex-arqueiro que neste domingo completaria 84 anos de idade se ainda estivesse vivo.

Segundo Alexey Dantas, vice de relações públicas, o convite a Antônio faz parte da série de homenagens que a diretoria tricolor tem feito a antigos ídolos do clube. Nas Laranjeiras, Antônio posou para uma sessão de fotos e recebeu uma camisa personalizada com o nome de Castilho e o número 1 às costas.

No domingo, o irmão do ídolo tricolor estará no Engenhão para acompanhar de perto o clássico entre Fluminense e Vasco, válido pela penúltima rodada do Brasileirão,e que pode deixar o time de Abel Braga vivo na briga pelo título. E é justamente deste confronto que ele tem uma das maiores lembranças da época em que sentava nas arquibancadas das Laranjeiras para torcer.

“Vivi muita coisa boa aqui. Quando ainda não existia o Maracanã, vinha ver os clássicos nas Laranjeiras. E um jogo que me marcou muito foi justamente contra o Vasco. Não me recordo o ano. Mas foi uma decisão entre Fluminense e Vasco, e nós tomamos um sufoco daqueles. Nesse dia, a trave salvou o meu irmão e o Flu. Vencemos por 1 a 0. O Vasco tinha um time muito bom, mas nós saímos com a vitória”, disse Antônio, mostrando-se confiante para a partida deste domingo.

“Tenho certeza que o Castilho está entre nós espiritualmente. E como tricolor de coração, vejo uma vitória do Fluminense. Não é fanatismo, mas acho que o Flu não perde esse jogo de jeito nenhum”.

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 Mas de volta ao assunto recordações, Antônio diz que, do irmão, guarda uma boa e uma má lembrança. Aquela que o faz abrir um sorriso aconteceu há exatos 61 anos. Já a que o entristece, como não poderia deixar de ser, é o dia em que Castilho, jogador que mais vezes vestiu a camisa tricolor com 696 jogos, cometeu suicídio, em 2 de fevereiro de 1987, aos 59 anos.

“A boa recordação é de quando ele foi convocado para a Copa do Mundo de 1950. Era reserva do Barbosa e nem chegou a jogar. Tinha uns 19 anos. Ele ainda foi para a Copa de 1954, como titular, 58 e 62. Mas 50 foi mais marcante por ter sido a primeira”, frisou Antônio, completando logo em seguida.

“A má é uma história que muita gente conhece. No dia, nós almoçamos juntos e eu fui para minha casa em Olaria, e ele para a dele, em Bonsucesso. Mais tarde, um vizinho chegou e perguntou se eu sabia o que tinha acontecido com meu irmão. Eu perguntei qual deles, já que tinha três. Ele disse que era o Castilho e que havia se suicidado. Na hora eu corri para lá e quando cheguei vi que era verdade. Até hoje este é o quadro mais triste da minha vida”, garantiu Antônio, ressaltando ainda que até hoje a razão do suicídio é desconhecida pelos familiares.

E a expressão fechada no rosto de Antônio ao falar da morte do irmão é justificável. Afinal, segundo ele próprio, Castilho foi mais do que irmão. Muito antes de ser admirado e elogiado pela torcida do Fluminense, o goleiro já tinha em Antônio o seu fã número 1.

“Ele foi meu ídolo, irmão e pai. Lembro que quando tinha uns 10 anos, eu comecei a trabalhar numa oficina mecânica. Quando soube, ele me tirou do trabalho e arrumou uma escola para eu estudar. Tudo o que sou hoje, devo a ele”, finalizou