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Livro sobre narradores de TV revela passado comentarista e atleta de Galvão Bueno

Capa do livro "Grito de Gol", do jornalista Bob Faria, sobre narradores esportivos da TV - Divulgação
Capa do livro "Grito de Gol", do jornalista Bob Faria, sobre narradores esportivos da TV Imagem: Divulgação

Bruno Freitas

Em São Paulo

12/12/2011 06h00

O torcedor que costuma se postar em frente de uma TV todo domingo tem nos narradores mais famosos uma espécie de amigo, numa curiosa relação de intimidade que às vezes faz o espectador achar que pode implicar com o cara do outro lado da tela, cobrar dele se o time não responder em campo. É apoiado neste fascínio que o jornalista Bob Faria compila em seu livro a história de sete destes ilustres profissionais, com casos pouco conhecidos sobre personalidades como Galvão Bueno, Cleber Machado e Silvio Luiz.

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

GRITO DE GOL – As vozes da emoção na TV
Editora Leitura - 209 páginas
Sobre o autor:
Bob Faria (foto), 43 anos, é comentarista e apresentador do Sportv e da Globo em Minas Gerais. Desde os três anos frequenta o universo das cabines de transmissão, acompanhando o pai, o também jornalista Osvaldo Faria
Palavra do autor sobre o universo retratado:
"É aquele personagem capaz de transformar um espetáculo, que às vezes é frio, em um espetáculo de mídia. Por isso eu falo que é o cantor da banda, o cara que tem o dom. Uma espécie de repentista. Está tudo na mão dele, por duas horas, sem roteiro nenhum. O cara precisa ter uma autoconfiança incrível. E todos esses têm. Não dá para encarar um desafio desses com insegurança"

Em “Grito de Gol – as vozes da emoção na TV”, o jornalista do Sportv e da Globo de Minas Gerais apresenta em forma de bate-papo histórias e reflexões sobre esta tão particular função do entretenimento do esporte, através de conversas com Luis Roberto, Cleber Machado, Silvio Luiz, Milton Leite, Rogério Corrêa e Jota Junior. Bob Faria abre seu livro com Galvão Bueno, o mais popular narrador da televisão nacional, que apresenta na entrevista detalhes de seu começo de carreira, passando de atleta a vendedor, antes de se tornar um comentarista, inicialmente sem cogitar virar especialista em gritar gols.

Nos anos de juventude, o número 1 da Globo jamais pensou em ser um narrador. No entanto, a paixão pelo esporte se fez presente na vida de Galvão desde sempre. Na adolescência a estrela da TV foi jogador de basquete em Brasília e em São Paulo, participando de competições infantis e juvenis. "Foi a primeira coisa que tentei ser a sério. Eu brinco que fui um jogador pouco acima de medíocre", diz o global no livro.  

Em seguida, ciente de sua facilidade com as palavras, Galvão decidiu ganhar a vida como vendedor, primeiro com enciclopédias e depois com embalagens plásticas. Foi então que um companheiro de trabalho que adorava discutir futebol com o futuro narrador o inscreveu de surpresa em um concurso para ser comentarista na Rádio Gazeta, em São Paulo.

Galvão então participou de uma seleção em um teatro, com quase três mil pessoas. Neste momento, mostrou a autoconfiança que, segundo o autor Bob Faria, precisa estar no DNA de todo bom narrador. "Me perguntaram que esporte eu conhecia além de futebol. Eu humildemente falei: 'todos'", disse, para ficar com a vaga.

Como comentarista, Galvão permaneceu na Gazeta de 1974 a 1977, e depois migrou para a TV Record, onde passou poucos meses. O ex-vendedor então negociava sua mudança para atuar na Bandeirantes, quando, após a desistência de um profissional de ocupar uma vaga de narração no Rio de Janeiro, a emissora decidiu apostar no improviso da nova contratação.

DEPOIMENTO NO LIVRO

Futebol é muito mais fácil de narrar do que Fórmula 1. A F-1 é um desfile de escola de samba. Você precisa conhecer o enredo, entender o enredo para explicar cada uma das alas, o que significa e o que acontece

Galvão Bueno, narrador da Globo

Assim, após quatro anos como comentarista, a futura estrela da TV encarou o desafio com reticência e afirma que "demorou umas dez partidas para ter coragem de enfim gritar gol". Neste período, Galvão Bueno diz ter contado com a consultoria técnica de Fernando Solera, experiente narrador da casa.

No bate-papo informal com Bob Faria transformado em capítulo, Galvão relata ainda sua chegada na Globo em 1981, quando inicialmente enquadrou seu estilo "rasgado" à cartilha mais comportada da emissora carioca. Nesta época, o narrador dividia as transmissões esportivas com Luciano do Valle. O novato global acabou ficando com a Fórmula 1, enquanto que o nome mais antigo da casa abraçou as narrações da seleção brasileira. 

O capítulo ainda aborda a experiência de pouco menos de um ano de Galvão fora da Globo, em 1992, quando o narrador decidiu abraçar a aventura da Rede OM. A iniciativa baseada no Paraná não deu certo, mas o narrador celebra façanhas como a de dar 38 pontos no Ibope na transmissão da decisão da Libertadores daquele ano entre São Paulo e Newell’s Old Boys.

MAIS HISTÓRIAS NO LIVRO

CLEBER MACHADO relata uma “pegadinha” que pregou no comentarista Caio Ribeiro dentro da cabine de transmissão da Globo, forjando uma conversa de telefone com um diretor importante da emissora: “Ele ficou branco!”
MILTON LEITE revela o começo de carreira distante do Esporte, como jornalista de economia do jornal O Estado de S. Paulo e apresentador de programa de variedades na rádio Jovem Pan AM.
ROGÉRIO CORRÊA foi desenhista de mão cheia na juventude e encarou experiência como ator de teatro para vencer a timidez.
LUÍS ROBERTO relata a histórica cobertura da morte de Ayrton Senna na Itália, em 1994, quando foi o primeiro jornalista a noticiar para o país o falecimento do ídolo da Fórmula 1.
SILVIO LUIZ conta a divertida história do começo de carreira quando, impedido de entrar em campo para falar com os jogadores, deu o microfone na mão de um atleta e pediu para ele fazer as entrevistas com os colegas de time.
JOTA JÚNIOR fala do constrangimento de ter perdido um gol de Dodô em transmissão do Paulistão pelo estúdio (o chamado “tubo”), quando a câmera fechou no jogador caído no gramado e não registrou a imagem da bola entrando.

"Dá para explicar [a popularidade do Galvão]. O Galvão é muito bom, um gênio. A marca dele é o de um narrador que está próximo do torcedor. Por isso muitas vezes alguém pode achar que deve implicar. Porque sente ele muito próximo. Ninguém segura a audiência como ele. Tem uma capacidade de transferir importância ao acontecimento esportivo que é impressionante", afirmou Bob Faria em conversa com o UOL Esporte.

No desfecho do papo, Galvão fala sobre suas projeções de carreira, narrando F-1 e futebol apenas com a seleção brasileira até 2014, data de término de seu atual contrato com a Globo. No entanto, o narrador admite a possibilidade de uma pequena extensão da relação por mais dois anos, encarando o ciclo olímpico do Rio. Depois, a estrela diz que pretende seguir na TV, mas entende que precisará se reinventar, aos 66 nessa altura.

"Não sei, rapaz. Eu tenho uma vontade de fazer um programa de auditório que você não faz ideia. Faz uns 30 anos que tenho essa vontade. Eu acho que esse é o caminho", revela Galvão no diálogo com o autor.

Bob Faria faz questão de destacar que seu livro não pretende ser a lista dos melhores narradores, que é apenas uma seleção aleatória de nomes importantes da função, em escolha baseada principalmente em conveniência de agendas. No entanto, a reverência a nomes como Galvão Bueno e Luciano do Valle (que ficou fora da 1ª edição) se faz presente, mesmo dentro do universo de retratados, como Milton Leite por exemplo, "dono" de outro capítulo da obra.

"Acho que todos nós temos que valorizar muito o Galvão Bueno e o Luciano do Valle. Foram os caras que popularizaram essa nossa função", afirmou Milton Leite ao UOL, na noite de lançamento do livro em São Paulo no começo deste mês.