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Livro censurado de Marcos revela corte no Corinthians e troca por 12 chuteiras

Lençoense liberou Marcos em troca de materiais esportivos e quitação de dívida - Almeida Rocha/Folha Imagem
Lençoense liberou Marcos em troca de materiais esportivos e quitação de dívida Imagem: Almeida Rocha/Folha Imagem

Bruno Thadeu

Em São Paulo

27/12/2011 06h00

Marcos se tornou “São Marcos” após atuações espetaculares diante do Corinthians nas Libertadores de 1999 e 2000, em que o Palmeiras avançou eliminando seu arquirrival. O curioso é que o destino quase colocou o ídolo alviverde no time do Parque São Jorge. Ele ficou pelo caminho na peneira no terrão. Os 20 anos de carreira são descritos no livro “São Marcos de Palestra Itália”, obra censurada pelo Palmeiras.

O livro dá versões sobre a saída de Marcos da base corintiana. Uma é que ele largou o clube após bater saudade da família no interior paulista, somada à presença de outros dois goleiros à sua frente. Outra versão é de que ele foi dispensado pelo Corinthians.

  • Divulgação

    Capa do livro sobre o goleiro do Palmeiras, alvo de censura

Alguns assuntos envolvendo Marcos acabaram virando lenda. O livro apresenta a história de que o Palmeiras contratou o goleiro e outros 4 jogadores junto ao Lençoense, no início da década de 90, da seguinte forma: o time alviverde se ofereceu para quitar uma dívida pequena do time interiorano com a Federação Paulista, complementando o negócio com a inclusão de meias, calções e chuteiras ao time de Lençois Paulista

O Palmeiras ameaça ingressar judicialmente caso o livro seja vendido. A Realejo Edições informa que a medida vai contra o direito de liberdade de expressão e acrescentou que comercializará o livro em janeiro.

O UOL Esporte conferiu a biografia contestada pelo Palmeiras. Embora a diretoria alviverde tente barrar sua comercialização, em nenhum momento nas 304 páginas o goleiro é tratado de forma depreciativa ou distorcida.

Ao contrário, Marcos é “santificado” no livro por dois episódios: as defesas de pênalti na Libertadores contra o Corinthians e a opção de disputar a Série B do Brasileirão de 2003 mesmo diante de proposta oficial do Arsenal.

O Galvão Bueno, corneteiro, falou que eu falhei

trecho extraído do livro em que Marcos toma conhecimento de que o narrador considerou frango um gol sofrido diante do Japão

“Bobagem o que o Palmeiras fez. Nossa intenção é exaltar e retratar um ídolo do clube e que também é adorado por torcedores de outros times, até de corintianos. O Palmeiras já deveria ter feito uma biografia diante da grandeza do Marcos e agora quer impedir algo feito por outros”, disse o autor Celso de Campos Jr.

O livro é uma biografia não autorizada (Marcos, na verdade, nem sequer sabia da elaboração do livro). O autor do livro informa que fez a solicitação de contato com Marcos via Palmeiras, mas que o clube não avisou o camisa 12. Portanto, Marcos é retratado à distância, o que de certa forma impossibilita a revelação de novos causos, outro ponto forte do camisa 12.

No entanto, a ampla pesquisa feita em jornais da época possibilitou o resgate de algumas declarações francas, típicas do goleiro. “Minha mãe é tão palmeirense, tão palmeirense, que na derrota ela fica ferrada. Daí, sento  a lenha nesses vagabundos e sei que ela, ao menos, vai falar: aê filhão!”

TRECHOS DO LIVRO SÃO MARCOS DE PALESTRA ITÁLIA

  • O atacante Oséas e o volante Rogério foram os autores dos gols da vitória [contra o Corinthians, na Libertadores], mas, já nos vestiários, poucos se lembravam disso. A noite era de Marocs. Sorriso aberto e corpo fechado, o rapaz de 25 anos atendia pacientemente aos repórtes ávidos por ouvir suas palavras, transferindo para terceiros, com humildade franciscana, os louros da vitória: "Senti a mão de Deus em cada defesa que fiz. Ele é o grande responsável por esse momento, junto com meus companheiros".
  • "Em 2000, quando operei pela primeira vez, os médicos disseram que as minhas chances de jogar eram de 50%. Fiquei preocupado, mas continuei jogando. O punho não doía, mas também não mexia direito. havia alguns movimentos que eu simplesmente não podia fazer. Para dar tchau, eu não balançava a mão porque não conseguia. Tinha que balançar o braço todo", explicou o atleta.
  • Pela enésima vez, Marcos entrava na sala de operações, agora para receber uma placa de liga de titânio, que ajudaria na compreessão e fixação do osso fraturado. Mas a fase ruim parecia não ter fim: a peça implantada apresentou uma 'deformidade anatômica', de acordo com o doutor Matins, e precisou ser trocada. Assim, no dia 15 de maio, o goleiro voltou ao Hospital Santa Catarina para a cirurgia de substituição do material - a nova placa, que ficaria definitivamente no local, tinha 11 centímetros de comprimento, 1,5 milímetro de espessura e oito parafusos de sustentação. "Cansei de ser bonzinho. Agora vou sair sempre de joelho erguido para me proteger', declarou Marcos, que prometia adotar como modelo o goleiro Fábio Costa.