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"Jornalista" Loco Abreu elege preferidos e descarta fama: 'Sou reconhecido. É diferente'

Uruguaio virou ídolo da torcida do Botafogo e conquistou respeito dos brasileiros - Fernando Soutello/Agif
Uruguaio virou ídolo da torcida do Botafogo e conquistou respeito dos brasileiros Imagem: Fernando Soutello/Agif

Ana Jardim e Fernando Faro

Do UOL, em São Paulo

02/02/2012 12h00

A personalidade forte e as opiniões que fogem do lugar comum transformaram Loco Abreu em ídolo botafoguense e personalidade respeitada até mesmo pelos torcedores rivais. O que pouca gente sabe é que além de jogador, Washington Sebastián Abreu Gallo é formado em jornalismo e até possui um programa de TV no Uruguai, o "Noche de Locura", voltado para o entretenimento.

BATE-BOLA COM LOCO ABREU

Você tem muitos amigos brasileiros fora do futebol?
Não muitos. A palavra amigo não é tão simples. O significado dela é muito importante para ser usada em qualquer um. Por isto tenho poucos.

O que você mais gosta no Brasil?
Das pessoas e como lutam por suas coisas. Por sempre estarem felizes e independente do que venha a ocorrer, sempre estampam um sorriso quando se aproximam de ti. Esta força é muito bacana. Admiro isto.

Você cozinha? Qual comida brasileira você mais curte?
Gosto de churrasco. Faço algumas vezes. Quanto a comida, como de tudo, mas as tradicionais como massa e carne. Das típicas, não provei e acho que prefiro me resguardar.

O que te deixa mais irritado?
Injustiça. Sacanagem.

Você se considera polêmico?
Não. Sou verdadeiro e transparente.

O que te deixa feliz?
Minha família, estar com saúde e fazer o que gosto e com prazer. Isto é o que mais me alegra, sem dúvida alguma.

Existe algum sonho que você ainda não conseguiu realizar?
Tenho, mas sonho se faz e não se fala.

Com a franqueza de quem se caracterizou por ser um jogador cujo discurso invariavelmente foge do óbvio, o uruguaio analisou os ‘colegas’ brasileiros e deixou no ar uma alfinetada: o jornalismo esportivo precisa repensar seu rumo rapidamente.

“O dia a dia do jornalismo brasileiro é bem jornalismo mesmo, mas não no esportivo. O interesse é muito mais nos problemas extracampo do que na tática do jogo”, afirmou o atacante em entrevista ao UOL Esporte.

Apesar das ressalvas, Abreu também vê bons profissionais na área e não hesita ao escolher seus preferidos. “Os que gosto e acho bons são Galvão Bueno, André Rizek, Lédio Carmona, Fernando Fernandes, Décio Lopes, Marcelo Barreto e Juca Kfouri. Gosto destes porque falam de futebol quase sempre. Você sempre aprende com os que falam de esporte e trazem matérias e informações com conteúdo e que melhoram o nível”, afirmou. Ao elogiar Renato Maurício Prado e considerá-lo um dos melhores, o uruguaio aproveitou para brincar com o fato de o jornalista ser flamenguista. “Ele não é do meu time, mas...”, divertiu-se.

Se costuma ser o centro das atenções no Botafogo e um dos jogadores mais influentes da revigorada seleção uruguaia, o camisa 13 muda de estilo quando está fora das quatro linhas e troca o protagonismo pela discrição. Ao invés da badalação das casas noturnas, festas e aparição frequente nas colunas sociais, o jogador gosta mesmo de curtir a família e frequentar locais mais tranquilos.

“Sou muito caseiro. Estou sempre tomando meu chimarrão junto da minha família e amigos dos muitos gringos que vivem agora na cidade. Saio para jantar, já que o Rio de Janeiro tem ótimos restaurantes, e vou ao cinema que é um dos meus bons hobbies. Gosto muito de ver um bom filme”, contou o atleta.

"O POVO URUGUAIO RESGATOU O ORGULHO DA CAMISA"

Loco Abreu faz parte da geração que ajudou a reerguer o futebol uruguaio depois de anos de ostracismo. O jogador explica que o sucesso da celeste olímpica, quarta colocada na Copa da África e campeã da Copa América, é fruto de um trabalho de longo prazo. “Tudo depende de uma sequência de trabalho, de continuidade. Foi o que aconteceu no Uruguai com a manutenção de filosofia, sem mudanças influenciadas por resultados”.

Sobre a relação visceral entre a seleção e a população, o jogador disse que foi o amor dos uruguaios que reergueu a equipe. “Foi o povo que resgatou o orgulho da camisa. Identificou-se com o que fazíamos, acreditava no trabalho e na continuidade. É muito bom sentir isto”, afirmou.

Apesar do sucesso no Brasil, Abreu não esconde que sente falta do Uruguai. Seja nos jantares em restaurantes típicos do seu país ou em conversas com os amigos do consulado, ele mantém vivas as suas raízes com a terra natal. Outra paixão, o Nacional de Montevidéu também ocupa parte importante no seu coração.

“O que mais sinto falta é a parte da família que lá está, meus amigos e principalmente as camisas do Uruguai e do Nacional, meu clube de coração”, explica.

AVISO ÀS PRETENDENTES

Jogo há 18 anos e minha família sabe como se portar. Já tenho minhas duas mulheres em casa: Paola (esposa) e Valentina (filha)

Sobre o assédio feminino

Com a mesma tranquilidade com que faz seus gols e cobra pênaltis com cavadinha, o uruguaio rejeita que o carinho conquistado no Brasil o tenha transformado em uma celebridade. “Não tenho fama, sou reconhecido. É bem diferente”, pondera, antes de transformar em palavras de agradecimento o respeito que conquistou dos torcedores. “Não gosto de falar de mim. Só posso passar palavras de agradecimento pelo fato do povo me aceitar do modo que sou. Isto me deixa extremamente feliz”.

E nem mesmo os 35 anos diminuem seu desejo pelo futebol. Em uma idade onde a maioria dos jogadores começa a pensar em aposentadoria, Loco Abreu ainda não faz planos para parar, mas sabe que mesmo quando não for jogador sua vida continuará atrelada ao futebol.

“Ainda não penso em me aposentar. É claro que me preparo para quando chegar o momento. Vou continuar dentro do futebol e tenho vontade de ser mesmo treinador. Assim vou continuar exercendo a minha paixão por este esporte”, concluiu.

Botafoguenses ou não, uruguaios ou não, os fãs do futebol agradecem.