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Sheik não explica 'sumiço' de R$ 115 mil; Diguinho vendeu e recomprou carro no mesmo dia

Sheik vendeu carro para Diguinho por R$ 315 mil, mas na nota constava R$ 200 mil - Arte UOL / Fernando Llano/AP e Dhavid Normando/Photocamera
Sheik vendeu carro para Diguinho por R$ 315 mil, mas na nota constava R$ 200 mil Imagem: Arte UOL / Fernando Llano/AP e Dhavid Normando/Photocamera

Bruno Thadeu*

Do UOL, em São Paulo

28/02/2012 06h06

O Ministério Público Federal produziu um minucioso relatório que desencadeou na denúncia de contrabando e lavagem de dinheiro dos jogadores Emerson Sheik, do Corinthians, e Diguinho, do Fluminense. O UOL Esporte teve acesso ao documento. A investigação começou a partir da tentativa de assassinato de um bicheiro no Rio, cuja quadrilha que planejou a morte também comercializava de forma ilícita automóveis de luxo.

Em depoimento ao MP, Sheik não soube explicar por que a venda do veículo para Diguinho representou R$ 315 mil, mas na nota constava R$ 200 mil. O atacante afirmou que não tinha visto a nota e que um amigo chamado Caetano costuma fazer suas transações de veículos. Caetano (cujo sobrenome não foi revelado) rebateu e disse que jamais negociou para o atacante. Já Diguinho reconheceu ao MP a diferença dos valores.

ADVOGADO DE SHEIK DIZ QUE CLIENTE COMPROU VEÍCULO DE BOA-FÉ

  • Folha Imagem

    O advogado do atacante Sheik, Ricardo Cerqueira, nega as acusações do Ministério Público Federal e informou que o atleta comprou o veículo normalmente em uma concessionária.

    "Estamos esperando a denúncia ser apreciada pelo juiz, se ele vai recebê-la ou não. Em caso de recebê-la, apresentaremos uma defesa preliminar. O Emerson é um adquirente de boa fé, comprou o carro através de uma concessionária. Pagou o preço de mercado do veículo, não existe lógica em falar em contrabando", declarou o advogado.

A investigação obteve escutas telefônicas dos jogadores, que serão apresentadas à Justiça. Caso processados, os dois podem ficar presos por até 14 anos.

A denúncia de Sheik e Diguinho no crime de lavagem de dinheiro ficou evidenciada, segundo o MP, a partir do seguinte acontecimento. Sheik comprou um BMW X6, cor branca, por R$ 200 mil (R$ 160 mil e mais R$ 40 mil em IPI) em 29 de outubro de 2010, da Rio Bello. Quase dois meses depois, o atacante negociou seu veículo para a mesma Rio Bello e pelo mesmo preço (mas sem o IPI).

No mesmo dia em que Sheik se desfez do veículo, Diguinho efetuou a compra do BMW X6 pelo mesmo valor. Vinte dias depois, o volante do Flu revendeu o veículo para a mesma Rio Bello. Horas depois, Diguinho recomprou o automóvel da Rio Bello.

A ação é típica de lavagem de dinheiro, onde é injetado dinheiro sujo para recebimento de dinheiro ou bem legal, concluiu o MP.

“O modus operandi evidencia lavagem de dinheiro, pela criação artificial de uma cadeia de compra e venda que distancia o destinatário do automóvel da importação ilegal”, relata o MP.

No relatório que será apresentado à Justiça, o MP descarta a possibilidade de Sheik e Diguinho terem agido sem querer. Isso porque o atacante já havia feito uma compra de carro de luxo nos moldes comum: ir à concessionária, efetuar a compra e aguardar o recebimento do carro.

Neste caso, salienta o MP, Sheik enviou o dinheiro em nome de terceiros diretamente para os Estados Unidos, driblando o fisco.

Se a Justiça Federal aceitar a denúncia do MP, a participação de ambos na Libertadores fica em risco. Eles terão de pedir permissão para sair do país para defender os clubes na competição continental.

Bicheiro, caça-níquel e carros importados

A Polícia Federal inicialmente armou operação para investigar a tentativa de homicídio contra o bicheiro Rogério Andrade. Foi descoberto que o israelense Yoram Al Al era um dos mentores da quadrilha. Yoram foi preso em outubro do ano passado. Ele tinha ordem de prisão nos Estados Unidos.

O israelense integrava rede criminosa de caça-níquel no Rio de Janeiro. O MP ligou Yoram também à rede de importação de veículos dos Estados Unidos. A Euro Imported Cars foi criada para operar na importação dos carros. O MP usou dois sistemas americanos para conferir chassis e comprovar a fraude cometida pela rede.

Como funcionava a rede de carros de luxos

Os carros chegavam com falsas documentações declarando como 0km, quando na verdade eram semi-novos. É proibida a entrada de carros usados importados no país. Os valores recolhidos de impostos eram subfaturados.

Os veículos foram colocados em nomes de proprietários laranjas. Em alguns casos, o pagamento foi feito diretamente ao exterior, o que é ilegal. Redes fictícias de compradores foram criadas para camuflar compras individuais.

Os clientes conseguiam comprar os automóveis até 30% mais baratos, evitando também a fila de interessados na aquisição de veículos em concessionárias de importados. Além disso, esses carros contrabandeados entravam no país com todos os acessórios pedidos pelo cliente, atraindo compradores.

É proibida a importação de carros usados. A Operação Black Ops, criada para detalhar a entrada de veículos de luxo no país, verificou outra fraude. Os carros importados que chegavam ao país tinham seus documentos alterados, deixando a condição de "carros usados" para se tornarem “0KM” no país. O cantor Latino também é investigado.

*Colaborou Carlos Padeiro