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Romário: 'Quando se fala em CBF, se pensa em corrupção, roubo e sacanagem'

Romário mostra habilidade no futevôlei e, quando fala, não economiza nas críticas - Fernando Soutello/AGIF
Romário mostra habilidade no futevôlei e, quando fala, não economiza nas críticas Imagem: Fernando Soutello/AGIF

Caio Barbosa

Do UOL, no Rio de Janeiro

11/03/2012 07h32

A língua está mais ferina do que nos tempos de jogador. Quando encantava o mundo com a bola nos pés, Romário surpreendia a todos com frases de efeito, normalmente irônicas e cheias de picardia. Agora deputado federal, as frases são ácidas e contundentes. Durante o Mundial de Futevôlei 4 x 4, realizado em Copacabana, o Baixinho voltou a detonar Ricardo Teixeira, o futebol apresentado pela seleção brasileira e sugeriu, inclusive, a implantação de uma comissão de treinadores: “Está feio ver o Brasil jogar”, disse Romário.

Caniggia: Pelé foi melhor que Maradona

  • Autor do gol que eliminou o Brasil na Copa do Mundo de 1990, Claudio Caniggia colocou fogo em uma polêmica que parece não ter fim e divide não só brasileiros e argentinos, mas boa parte do mundo. O ex-jogador escolheu Pelé como o melhor de todos os tempos em detrimento ao amigo.
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O Baixinho atendeu à reportagem do UOL e não economizou nas críticas. Confira a entrevista:

UOL Esporte: Como você avalia o momento atual dos preparativos para a realização da Copa do Mundo?
Romário:
Neste momento é quase impossível tirar a Copa do Brasil. As coisas estão atrasadas, todo mundo sabe disso, mas acho que não há como mais a Copa sair do Brasil. É até bom acontecer o que está acontecendo. Vamos esperar o presidente da Fifa vir falar com a nossa presidente, e enquanto isso vamos tocando as obras porque a realização de uma Copa pode ser muito bom para o Brasil.

Você esperava ter este sucesso, este reconhecimento logo no seu primeiro ano como parlamentar?
Eu sabia que era uma coisa diferente, sabia que eu encontraria dificuldades e continuarei enfrentando, mas entrei com um objetivo diferente, de ajudar quem eu considero importante, de defender as bandeiras que eu defendo. Acho que o meu primeiro ano foi bom e no segundo vai ser mais positivo. A cada ano melhor. E quando terminar o mandato quero estar com a cabeça tranquila e ter a consciência de que lutei por aquilo que prometi lutar.

E em relação à Lei da Copa? Como está o andamento?
A gente vai atender a todas as exigências da Fifa dentro do que for possível. A Lei da Copa vai à plenária na quarta-feira, vamos fazer algumas reivindicações, algumas exigências, mas acredito que a Lei, da forma como ela chegou e da forma como ela está agora, já melhorou bastante. Não está ideal, ainda faltam algumas coisas a melhorar, mas para a classes C, D e E, que a lei era péssima, agora está apenas ruim. Existem alguns deputados, poucos, que fazem alguma coisa legal pelo povo. E são nestes poucos que o povo deve confiar, nos poucos que estão lá fazendo o que foram colocados pelo povo para fazer.

Sobre o afastamento do Ricardo Teixeira, o que você tem a dizer?
A melhor coisa que aconteceu foi o Ricardo Teixeira se afastar, até por causa da saúde dele. Com a saúde debilitada, não há como ser presidente da CBF e do COL (Comitê Organizador Local da Copa). Para a saúde de ninguém ter o compromisso com duas coisas tão importantes seria aconselhável. Não seria saudável para ele. Mas espero que o presidente que entrou (José Maria Marín) faça alguma coisa de bom em relação ao futebol porque a CBF hoje é uma entidade bastante descredibilizada, as pessoas não acreditam nela. Quando se fala em CBF se pensa em corrupção, roubo e sacanagem, e infelizmente eu não posso nem discordar disso. Também não posso concordar porque as coisas não foram totalmente definidas, mas se este novo presidente aí colocar as coisas em ordem, a CBF pode mudar um pouco o perfil.

Você está gostando do futebol apresentado pela seleção?
O time não é um time bom. As convocações que o Mano anda fazendo, setenta ou oitenta por cento destes jogadores eu também convocaria. Mas quando eles se juntam o resultado não tem sido positivo. Sempre fui a favor e continuo sendo a favor do Mano, mas em se tratando de uma Copa do Mundo no Brasil, a gente tem que ter sempre um plano B. Não sei se a CBF tinha um plano B e não sei se agora, com esse novo presidente, tem um plano B.

E não se acha, de jeito nenhum, um homem-gol. Teve você, antes o Careca, o Zico, depois teve o Ronaldo, mas agora ninguém faz gol. Por quê?
Cada dia que passa fica mais difícil fazer gol. O futebol está cada vez mais nivelado por baixo, prevalece sempre a parte física, a disposição. Você vê hoje que qualquer um que for grande e tiver um bom preparo físico vai ser jogador de futebol. E aqueles que aparecem na base, técnicos, dribladores, logo logo têm de mudar sua forma de jogar por causa de treinadores e procuradores que exigem que estes jogadores mudem sua característica. Por isso a gente vê pouca qualidade no futebol. E Por isso que a gente tem que acreditar num Neymar, num Ganso, Lucas, Damião e até um Fred, Vagner Love, Pato e Nilmar. E mesmo o Jobson é um cara que pode ajudar o Brasil a partir do momento em que ele se conscientizar que depois dos momentos difíceis a vida dele hoje é outra. Vamos torcer para que o Mano ou outro qualquer encontre uma saída porque está feio ver o Brasil jogar.

Você é a favor de uma comissão de treinadores na seleção?
Acho que tinha que ser uma comissão com três ou quatro treinadores, principalmente com alguns que já foram campeões e tenham experiência em campo. Não me pergunte nomes porque eu não teria condições de te dar, mas eu formaria uma comissão de treinadores. Seria mais interessante, dividiria a responsabilidade, tiraria das costas de uma pessoa só esta carga. A gente tem que entender que uma Copa do Mundo fora do Brasil é uma coisa, e uma Copa dentro do Brasil depois de 64 anos e com a expectativa que o brasileiro tem porque na anterior a gente perdeu, é outra. É um estresse grande e não é positivo que uma pessoa fique sozinha nisso.

O que você acharia de Guardiola como técnico da seleção, como muitos defendem?
A gente tem bastante treinador aqui. Guardiola é um dos maiores, poderia ser técnico de qualquer time ou seleção, mas no Brasil tem grandes treinadores e não teríamos nenhuma dificuldade se formássemos uma comissão, seria menos difícil, porque quatro cabeças funcionam melhor do que uma, mas respeito os que acham que uma pessoa só é o ideal.