Topo

Inter acusa de propaganda enganosa empresa que tentou usar R$ 4 milhões do Palmeiras

Jorge Avancini, (à dir), diz desconhecer Valéria Rocha, que usou Inter para entrar no Palmeiras - Divulgação/Internacional
Jorge Avancini, (à dir), diz desconhecer Valéria Rocha, que usou Inter para entrar no Palmeiras Imagem: Divulgação/Internacional

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo*

15/03/2012 11h01

O Internacional diz não conhecer Valéria Rocha Correa, consultora de marketing que iniciou o desenvolvimento de um plano para os esportes amadores do Palmeiras. O detalhe é que ela só foi aceita por Arnaldo Tirone, presidente do clube paulista, por afirmar que fez parte da comissão que reorganizou o plano de sócio-torcedor do time gaúcho, referência de sucesso no país. Ela acabou colocando o nome da agremiação paulista em um caso de dívida de R$ 4 milhões com clube de investidores.

Justamente por usar o Inter como um de seus clientes, inclusive com citação no site de sua empresa, a Renovare Comunicação, Valéria deve ter novos problemas judiciais. Em entrevista ao UOL Esporte, Jorge Avancini, diretor de marketing da agremiação do Beira-Rio, afirmou que acionará o jurídico do clube para que o escudo seja retirado do website.

“A gente não conhece essa senhora. Em nenhum momento ela pisou no Internacional, muito menos fez parte da reestruturação do sócio-torcedor que foi feita por nós apenas. A gente chegou a ver que ela estava dizendo isso para o Palmeiras, tentamos contato com o pessoal de lá, mas não conseguimos porque o time estava em reestruturação do marketing. E eles também não entraram em contato com a gente. Agora, vamos acionar o jurídico para o escudo do Inter sair de lá”, disse Avancini, que ficou espantado pela facilidade que Valéria entrou no Palmeiras.

No time paulista, a história também está causando questionamentos para a atual gestão. Após admitir que recebeu uma notificação registrada em cartório, o diretor jurídico, Piraci de Oliveira, voltou a afirmar que não tem a menor preocupação com a possibilidade do Palmeiras ter de arcar com a dívida de R$ 4 milhões, que teria tido um contrato de marketing do clube oferecido como garantia.

SITE DA RENOVARE

  • Reprodução

    Empresa coloca no site que tem Palmeiras e Internacional na cartela de clientes

 

“Essa possibilidade não existe. Ela não teve vínculo com a gente, não foi contratada e não tinha a nossa autorização. Não me preocupa em absolutamente nada essa chance de pagar R$ 4 milhões, porque ela não existe”, afirmou.

A pequena chance que existe para o Palmeiras ser responsabilizado reside na possibilidade de a relação entre clube e Valéria ser comprovada. Internamente, dirigentes se preocupam com o fato da ex-consultora ter tido sala, ramal, e-mail e cartão de visitas do clube.

A RELAÇÃO ENTRE VALÉRIA E PALMEIRAS

1- Valéria foi apresentada por Arnaldo Tirone e por Edvaldo Frasson para ser consultora de marketing do Palmeiras. Ela ganharia em cima de projetos.
2- Tirone é avisado por conselheiros que Valéria já tinha problemas na Justiça e que atenção precisaria ser redobrada com a consultora
3- Valéria passou a ter e-mail, cartão do Palmeiras, além de ter acesso a todos os contratos originais do departamento que gera receitas para a agremiação
4- Seu projeto inicial, de ajudar o esporte amador, não saiu do papel. Tampouco outras ajudas que seriam dadas para o setor do futebol profissional
5- Valéria começou a sumir de maneira estranha, que fez pessoas desconfiarem de sua conduta no clube
6- Sem autorização e conhecimento do clube, Valéria usou contratos para conseguir empréstimo em clube de investidores para usar em sua própria empresa
7- Valéria não paga o empréstimo no prazo estipulado e o clube de investidores oficializa a reclamação em Cartório. Palmeiras é notificado.

“A sala estava vazia. Não era dela. Ela usava o espaço para fazer a prospecção para o possível plano, que não saiu do papel. O e-mail ela conseguiu com um cara do TI (tecnologia da informação), e o cartão de visitas ela fez no shopping. Não há nenhum vínculo”, completou.

O conselheiro Reginaldo Tripolli, conhecido como Xexéu, foi responsável pela indicação de Valeria. Em e-mail distribuído para conselheiros e repassado para reportagem, ele explicou que a conheceu em uma festa e que acabou acreditando no sucesso dela do Inter. Após isso, ele apresentou a outro conselheiro, Dinho. Juntos, eles apresentaram para Arnaldo Tirone e Edvaldo Frasson, vice-administrativo que se isenta da responsabilidade na chegada de Valéria.

“Eu não fui avisado dos problemas que ela tinha na Justiça. Fui avisado em novembro, quando ela já tinha sumido. Eu também não contratei ninguém, tive poucos contatos com ela então não admito ser responsabilizado pela chegada dela”, afirmou Frasson.

Valéria tem problemas na Justiça desde 2006. Ela contraiu uma dívida há cerca de um ano e, ao ser cobrada, teria oferecido um contrato de marketing do Palmeiras como garantia aos empresários para sanar a dívida. Agora, o prejudicado quer saber se ela havia vínculo com o clube e se o contrato oferecido realmente existe. 

O Palmeiras, por meio de Piraci, admitiu que não consultou o Internacional por referências, tampouco buscou saber se a ficha de Valéria era suja na Justiça. A ex-consultora não quer falar com a imprensa. 

* Com a colaboração de Carmelito Bifano, do UOL, em Porto Alegre