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Cardiologistas dizem que mal súbito de Muamba evidencia falta de exame cardíaco rotineiro

Exame anual pode detectar problemas no coração. Muamba foi avaliado em 2008 - Suzanne Plunkett/Reuters
Exame anual pode detectar problemas no coração. Muamba foi avaliado em 2008 Imagem: Suzanne Plunkett/Reuters

Bruno Thadeu

Do UOL, em São Paulo

21/03/2012 06h00

O mal súbito envolvendo o jogador Fabrice Muamba, do Bolton, poderia ter sido evitado caso houvesse maior rigor do departamento médico do clube na realização de avaliações cardiovasculares rotineiras. A opinião é de cardiologistas consultados pelo UOL Esporte. O caso foi um sinal claro de descuido no exame clínico, já que atletas são geralmente submetidos a avaliações apenas quando são contratados por times europeus.

Muamba teria feito exame cardíaco só em 2008, quando chegou ao clube. O Bolton ainda não deu detalhes dos procedimentos clínicos adotados com seus jogadores. Muamba sofreu mal súbito no domingo, mas tem demonstrado sinais de recuperação.

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  • Folha Imagem/Arquivo

    Fabrício Carvalho ficou afastado do futebol por dois anos (2005 e 2006) após ser detectado arritmia no coração durante exame feito pelo São Caetano, em 2005. Recuperado, Fabrício conta que realiza atividades físicas normalmente.

    "Eu faço o que todos fazem nos treinamentos, sem problema nenhum. Tive o problema no coração, me tratei e hoje espero jogar por muitos anos", diz o atleta de 34 anos que defende a Ferroviária, que disputa a série A2 do Paulistão.

O cardiologista Leandro Echenique, do Hospital Albert Einsten, ressalta a necessidade de bateria de exames cardíacos pelo menos uma vez por ano, principalmente porque pessoas com doenças congênitas podem desenvolver problema cardíaco em curto período.

O risco se potencializa com o hábito dos esportistas de acharem que são “saudáveis por serem atletas”, desprezando exames. Pessoas com menos de 35 anos dão menos atenção a exames. Determinadas doenças são silenciosas e aparecem abruptamente, às vezes da pior forma, diz o cardiologista.

“Pelo que eu fiquei sabendo, o Muamba fez exame há três anos. Doença congênita no coração pode se desenvolver de uma hora para outra, sobretudo na adolescência e juventude. É possível que no primeiro exame não tenha detectado e ficou a sensação de que ele estava perfeito. Só que a doença pode ter se desenvolvido neste intervalo”, explica Echenique.

O regulamento do Campeonato Inglês é falho na questão sobre exames cardiovasculares. Embora determine a realização de uma avaliação anual, a organização do torneio não especifica os tipos de exames. Alguns clubes realizam o teste básico e tradicional, em que o médico confere os batimentos do coração.

Após o mal súbito com Muamba, será discutida a necessidade de outros exames, entre eles o eletrocardiograma e ecocardiograma.

“Por serem atletas e saudáveis, muitos jogadores subestimam exames cardíacos rotineiros. Muitos têm medo de que uma doença seja detectada, que pode afastá-lo do esporte. Então evitam”, acrescentou Echenique, responsável pelos exames cardíacos de alguns atletas da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos de Londres.

Jogadores de futebol são submetidos a intensas atividades. A sobrecarga de exercícios sem acompanhamento clínico pode ocasionar a hipertrofia do coração (coração fica maior e mais grosso) alerta João Vicente da Silveira, cardiologista do Hospital São Luiz.

“A hipertrofia é a principal causa de mortes súbitas. O coração fica maior, dificultando o fluxo de sangue em seu interior. Jogador tem uma carga intensa de atividade. O controle deve ser regular. Além disso, é preciso levar em consideração o histórico familiar e os hábitos do jogador. O Sócrates, por exemplo, fumava. É fundamental que haja exames pelo menos uma vez por ano”, frisa João Silveira.