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Passagem de Adriano no Corinthians tem festas de 36h, raiva de Tite e mágoa da diretoria

Adriano colecionou polêmicas e fez desafetos em sua passagem pelo Corinthians - Ricardo Nogueira/Folhapress
Adriano colecionou polêmicas e fez desafetos em sua passagem pelo Corinthians Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

22/03/2012 14h02

O casamento de Adriano com o Corinthians durou menos de um ano, oito jogos e dois gols. Mas foi intenso. A parceria ficará marcada pelas escapadas em festas com duração de 36 horas, pelo desentendimento com o técnico Tite e a mágoa da diretoria ainda não cicatrizada mesmo após a separação.

Apesar de estar sempre em evidência com as polêmicas que o cercam, o Imperador tentou sair de cena com discrição e se calou. Mas está ferido. As acusações de falta de comprometimento e a ‘eterna’ ligação com o alcoolismo o deixaram chateado.

O atacante comentou com pessoas que cuidam da sua carreira que está se sentindo exposto pelo clube. A reclamação é com membros da diretoria que têm vazado informações para jornalistas sobre sua evolução insatisfatória no período de recuperação e o episódio em que se negou a pesar antes do jogo contra o Guarani, pelo Paulistão. A decepção é maior porque a relação com a cúpula foi boa em todo o período em que defendeu o Corinthians.

No entanto, o maior desafeto de Adriano desde sua saída é Tite. Amigos do jogador revelaram ao UOL Esporte que ele se sente perseguido pelo treinador, que não gostaria dele. Em sua visão, o comandante tinha restrições pelo histórico de baladas e problemas.

Alguns episódios recentes pioraram a relação, especialmente após o atacante pagar um almoço no valor de R$ 6 mil em um restaurante nobre de São Paulo para jovens das categorias de base do clube. Adriano revelou a amigos que Tite desaprovou a atitude e aconselhou os atletas novatos a não andarem com o ídolo por ser ‘mau exemplo’.

A proximidade do atacante com os mais novos chegou a preocupar os pais de alguns deles, após o convite do Imperador para passar um fim de semana no Rio de Janeiro.

O fato de ser escalado para partidas de menor expressão no Paulista - justamente quando os titulares eram poupados, ao invés de ganhar uma chance na Libertadores, irritou Adriano.

A gota d’água foi o episódio em que o Imperador se negou a subir na balança antes do jogo contra o Guarani. O atacante considerava o procedimento desnecessário, já que havia se pesado nos dias anteriores. Em sua visão, o único objetivo da comissão técnica era tumultuar e causar atritos. “O Tite é um filho da p...”, desabafou, segundo uma pessoa próxima.

DA PERIFERIA PARA A ÁREA NOBRE: A VIDA DE ADRIANO NO BAIRRO HIGIENÓPOLIS

Se as festas em casa eram de arromba, a presença de Adriano no bairro em Higienópolis é bem discreta. O atacante anda pouco pelas ruas do bairro e não frequenta o comércio local. É visto apenas passando com um de seus carros brancos, um Porsche Cayenne ou uma BMW.

O único local em que é figurinha carimbada é o restaurante especializado em carnes, Pobre Juan (foto). O atacante diminuiu suas visitas, mas almoçava quase diariamente na casa em frente do seu condomínio. Não gastava mais que 40 min.

Como cliente Vip, tinha regalias. No quase inativado segundo andar, reservava uma mesa que recebe também as presenças ilustres de Ronaldo, Adriane Galisteu e do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso.

Adriano escolhia sempre o prato Monumental de Nuñez, um corte especial de bife de costilo de 700g, para dividir com um amigo. A refeição no valor de R$ 79,50 é a terceira mais cara do cardápio. O Imperador pedia arroz biro-biro como acompanhamento e em público dispensava sobremesa e até a cerveja.

Apesar de se sentir injustiçado, Adriano causou problemas. O atacante mostrava empenho e tinha uma evolução inicial, mas depois regredia e voltava à estaca zero. A comissão técnica se irritava com isso e via que o trabalho com o jogador estava sendo jogado no lixo. No dia do desentendimento final, outro fato causou discussão. Segundo o blog do Perrone, Adriano chegou ao CT dando sinais de que havia abusado do consumo de álcool.

O Imperador sabia que estava distante da forma física ideal e, de fato, não se limitava a uma vida regrada. Frequentava a noite da comunidade Vila Fundão, no Capão Redondo, periferia de São Paulo, com frequência e fazia festas em sua cobertura duplex em Higienópolis, bairro nobre da região central.

Os eventos no apartamento, decorado com bandeiras do Corinthians, duravam até 36 horas. Após o seu primeiro gol contra o Atlético-MG, na reta final do Brasileirão, a comemoração começou no domingo à noite e só terminou na terça-feira.

O som alto e incessante do funk e do pagode perturbava os vizinhos, em sua maioria de religião judaica. Adriano era constante alvo de reclamações dos moradores e chegou a pagar multas entre R$ 10 mil e R$ 20 mil por infringir as leis do condomínio.

As festas aconteciam mesmo em dias de semana e movimentavam a pacata rua Tupi. Funcionárias da imobiliária Kauffmann, em frente do prédio, contam que não havia mais lugares para carros e era grande o movimento de mulheres com roupas extravagantes e decotadas. Os poucos homens que frequentavam o local são amigos próximos como Vampeta e Roberto Carlos, e os atuais corintianos Vitor Junior e Bill.

O taxista Roberto, que trabalha em um ponto na mesma rua, conta que chegava a pegar passageiras no aeroporto, vindas do Rio de Janeiro, e do bairro Santana, zona norte de São Paulo, para levar às festas. Bebida não faltava. Ele chegou a se negar a transportar duas moças que deixavam a balada porque estavam alcoolizadas.

*Colaborou Ricardo Perrone