Topo

Neto diz ser "só número" na TV, continuará com piadas e fala em suposta ameaça de Felipão

Neto no "Os Donos da Bola" - Reprodução/TV
Neto no "Os Donos da Bola" Imagem: Reprodução/TV

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

23/03/2012 13h16

Âncora do novo programa de debates sobre futebol da Bandeirantes, “Os Donos da Bola”, o ex-jogador Neto disse que se preocupa e tem medo de uma possível repercussão ruim, tanto em números como na opinião do público, da nova atração, apesar de afirmar que a audiência está muito boa.

O ex-meia do Corinthians já apresentava há alguns meses o “SP Acontece” e herdou posição antes ocupada por José Luiz Datena, a quem classificou como “Pelé dos apresentadores”.

Para quem acompanhava o antigo programa, a principal diferença com atual, que estreou no último dia 7, foi visual: o cenário se tornou mais dinâmico, com imagens passando ao fundo do apresentador e comentaristas.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o ex-meia do Corinthians afirmou vai continuar com o jeito despojado e sem medo de disparar críticas, independentemente da repercussão.

Ele disse não temer criar rusgas por disparar críticas e falou até que já foi ameaçado, indiretamente, por Luiz Felipe Scolari. A informação foi negada pela assessoria do treinador, que relatou que nunca houve nenhum tipo de ameaça e que o técnico palmeirense apenas se recusa a participar da programação.

Neto ainda falou que já aproveitou tudo o que poderia nos tempos de boleiro e que agora só quer se dedicar à sua mulher e filhos. “A melhor coisa é trabalhar e ir para casa”, contou.

UOL ESPORTE: Como tem sido ser apresentador de um programa, após vários meses, e deixar de ser apenas um integrante de um debate? É complicado não cair na fogueira da vaidade?
Neto: As pessoas que se sentem estrelas só por apresentar um programa caem do cavalo. Quem faz o programa é todo mundo. É um time forte nos Donos da Bola. Eu só apresento. Mas até agora eu tenho medo. Fico com medo às vezes, porque a televisão é um lugar difícil. Sou comentarista de profissão. O programa está indo muito bem, acima das expectativas. Estou encarando como um grande desafio, vamos ver se damos conta do recado. Porque você é numero, se não der audiência...mas o programa está indo bem, os números estão bons.

UOL ESPORTE: Quais são seus receios, do que você tem medo?
Neto: Meu maior medo é, particularmente diminuir audiência e ter problemas de relacionamento, pois às vezes você apresentando fica com os holofotes em cima, tem que administrar as vaidades das pessoas, as minhas vaidades. Meus medos são esses, de o público não gostar também. Mas issonão é um medo só em relação aos donos da bola.

UOL ESPORTE: O que você faz pra se aprimorar e melhorar nessa nova empreitada? Costuma observar alguns apresentadores?
Neto: O que eu mais faço para aprender melhor o português é ler. Leio muito, sou um cara que leio muito, muito, muito e me faz muito bem e aprendo com isso. Observo muito o Milton Neves e o Datena, que é um Pelé dos apresentadores. Aprendo com Milton, observo ele ler os ´tps´, fazer o marketing, acho que ele é o maior apresentador do país no futebol.

UOL ESPORTE: Você chegou a fazer um curso de português para melhorar. Isso não pode te descaracterizar por seu jeito “caipira”?
Neto: O que eu fiz um bom tempo foi um curso pra me ajudar a colocar as frases em relação ao que eu estou falando. Como eu estudei muito pouco,  isso ajuda. Mas em nenhum momento do que eu aprendo na leitura, eu tiro minha essência. Se eu perder o que tenho, que são as coisas engraçadas...Esse é meu jeito. Por exemplo, outro dia brinquei do caso da Gretchen, que ela me chamou pro casamento dela, mas eu disse que nesse não dá para eu ir, mas que vou no próximo. É mentira tudo isso.  Mas é de mais isso [a brincadeira]. Isso é meu diferencial e acho que outra coisa que tenho de legal é que quando o convidado vai conversar comigo eu sei falar com ele que coisas que gente não jogou não sabe. Coisas de boleiro, dos ex-jogadores

UOL ESPORTE: Esse seu jeito sem papas na língua já te custou alguma relação de inimizade? Alguém já te ameaçou por ter falado alguma coisa?
Neto:J á. sá, já...falam que o Felipão...me deram um recado que quando o Felipão me encontrasse ia querer me bate, ele e o assessor dele. Estou esperando pra ver se eles são machos pra isso. E teve jogador que fui em lugares e a esposa do cara ficou brava porque eu estava no mesmo lugar que eles. Eu era convidado de amigo em comum. Já teve jogador que não foi programa no por isso [não aceitar um comentário]. Mas isso não vem acontecendo ultimamente. Eu dou muito mais moral para os ex-jogadores do que pros atuais. E quer saber, estou cagando e andando pra isso ai.

UOL ESPORTE: O que mudou hoje em termos de repercussão no futebol em relação ao seu tempo de jogador?
Neto: Quando eu jogava não era essa loucura que é hoje de fotografar o jogador saindo da balada, mostrar o jogador casando, mostrar o problema pessoal do jogador que todo mundo tem. Hoje você tem a mídia para o esporte a tem mídia que usa o personagem do esporte para vender. Você tem que saber diferenciar hoje, em que as coisas acontecem de uma maneira rápida. As pessoas que trabalham nesse meio têm que diferenciar o que é bom e o que é ruim.

UOL ESPORTE: O que mudou, por exemplo?
Neto: Pô, na época que eu jogava não tinha nem celular. Não tinha isso, não tinha maria chuteira, não tinha todos os blogs que tem, Twitter, Facebook...Hoje é diferente, tem mesa redonda todos os dias, transmitem esportes todos os dias. É difícil, mas acho que faz parte da evolução.

UOL ESPORTE: Teve algum jogador da sua época que abusou muito da noite e da vida de boleiro?
Neto: Hoje a proporção que os caras tem é muito maior. Hoje os caras são celebridades. Na minha época, nós não éramos celebridades. Eu, Edmundo, Serginho Chulapa e outros tivemos problemas. Eu também tomava minha cerveja. Mas no fundo, no fundo no fundo um jogador que eu acho que poderia jogar mais foi o Ezequiel. Ele poderia jogar mais se tivesse se cuidado melhor.

UOL ESPORTE: Você sempre falou muito da sua família. Como faz pra evitar o assédio de “maria apresentadores” e outras coisas, pensa muito neles? É igual aos tempos de jogador?
Neto: Para falar a verdade, hoje tenho 45 anos, e as coisas que eu fazia com 20 eu não faço mais. Como sou um cara em evidencia, dificilmente você minha mulher e meus filhos publicamente, eu não fico em lugares públicos O que vale é trabalhar com dedicação e depois ir embora para casa. Eu já comi quem tinha que comer, o que tinha que fazer já foi feito. Hoje minha vida é minha mulher e meus filhos.

UOL ESPORTE: Você costuma passar alguma orientação pra jogadores atuais que vão ao seu programa?
Neto: Converso, converso sim. Tem meninos que tenho bom relacionamento. Recentemente conversei com o Daniel Carvalho e com o Juninho, por exemplo.

UOL ESPORTE: Teve jogador que já fez muita bobagem por falta de preparo? Alguma história curiosa...
Neto: Jogador de futebol tem muita história, mas eu não sou muito bom. Mas o jogador nunca se preparou para essas coisas que acontecem, para saber que sua imagem é importante. Quem se preparou bem foi o Ronaldo. Ele foi o cara que mais se preparou para isso. Mas eu já comprei terreno onde não existia, carro que não existia...

UOL ESPORTE: Você falou há pouco que gosta de dar moral para os ex-jogadores. Acha que eles poderiam ajudar mais o futebol fora de campo? Acha que eles são barrados ou não se colocam à disposição? Dá pra aproveitá-los melhor?
Neto: Os ex-jogadores tem que se preparar melhor. A pessoa tem que ter capacidade e competência para as coisas. Em um mundo como CBF, por exemplo, você tem que saber ser político e desenvolver certas coisas que muitos ex-jogadores não sabem. Eu, por exemplo, não tenho capacidade para isso. Tem que saber como fazer contrato, e eu não sei.  Acho que os jogadores de hoje já se preparam melhor.  Temos aí Romário, Zico, Raí, Leonardo. Eles se prepararam, mas outros ex-jogadores precisam querer fazer isso. O Ronaldo é um cara diferente, de imagem forte. Ele vai ser muito mais importante daqui para frente.

UOL ESPORTE: Qual fato de sua carreira você mais tem orgulho e qual mais tem vergonha?
Neto:  Dentro do futebol, o melhor, não tem como. Foi o título de 90.  E o ponto mais feio foi a cusparada no José Aparecido de Oliveira [ex-árbitro]. É um lá embaixo e outro lá cima. Mas sobre o José Aparecido, eu falo sobre o assunto, não ligo não

UOL ESPORTE: Qual sua relação com o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez? Acha que é uma boa para a seleção ele no cargo de coordenador de seleções?
Neto:  Eu acho que ele não deveria estar lá nesse cargo Acho que ele não precisava estar na CBF neste momento. Ele deveria ser o presidente da CBF. Ser diretor do futebol é muito pouco para ele. Deveria ter esperado, ver o que vai acontecer e tentar presidir a CBF.

UOL ESPORTE:  Qual seria sua seleção brasileira para a Copa de 2014?
Neto:  Rogério Ceni; Daniel Alves, Thiago Silva, Dedé e Marcelo; Ralf, Arouca, Lucas e Paulo Henrique Ganso; Neymar e Luis Fabiano ou Fred ou até o Leandro Damião.

UOL ESPORTE:  Acha que o Rogério Ceni vai estar em boas condições para 2014? Ele tem 39 anos...
Neto:  Se eu fosse treinador levaria ele. Estamos sem referência nenhuma. Éle é melhor do que o Júlio César. A Copa vai ser aqui e temos que ter liderança positiva e esse é o cara.

 UOL ESPORTE:  Tem algum desafeto na carreira que faltou uma conversa melhor, que você gostaria de uma proximidade maior?
Neto:Gostei muito de reatar e voltar troca de ideias e palavras com Leão. Com o José Aparecido eu pedi perdão. Mas não sei se tem mais alguma pessoa. Pensando aqui, agora, não tem ninguém que eu me lembre. Com o Leão foi algo legal.

UOL ESPORTE:  Como foi trabalhar com a Renata Fan, uma das poucas mulheres que trabalham em um meio machista como o futebol?
Neto: A TV nos ensina  muita coisa e dá oportunidade para todos. Elae se tornou apresentadora de televisão. E eu sempre fui comentarista e tenho chance de ser apresentador agora. Ela é uma das únicas mulheres que desenvolve pensamentos e discute futebol no meio de homens. Ela triunfou e é uma mulher que está fazendo uma maneira bem legal.