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Santos ignora rivais e filme sobre o centenário mostra só dois gols sofridos pelo time

Filme tem ritmo de trailer na época dourada e fala mais da retomada dos títulos - Divulgação
Filme tem ritmo de trailer na época dourada e fala mais da retomada dos títulos Imagem: Divulgação

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

03/04/2012 06h00

“A grandeza de um time tem a ver com a grandeza de seus rivais”.

A frase aparece em um dos depoimentos de “Santos – 100 anos de futebol arte”, mas não é levada muito a sério no filme. A história do centenário do time da Vila Belmiro, que estreia no próximo dia 6 de abril em cinemas de Santos e São Paulo, é uma ode ao futebol arte, aos craques que defenderam a camisa branca, a Pelé. Por isso mesmo, segundo a diretora Lina Chamie, mostra apenas dois gols de rivais, ambos do Santo André, na final do Paulistão de 2010.

ASSISTA AO TRAILER DE SANTOS - 100 ANOS DE FUTEBOL ARTE

COUTINHO SE NEGA A APARECER NO FILME

  • Bruno Freitas/UOL

    O atacante Coutinho, grande parceiro de Pelé, vai deixar de aparecer em mais uma homenagem ao Santos. Apesar de sua importância histórica para o clube, o ex-jogador não autorizou o uso de sua imagem no filme de Lina Chamie. Mesmo tendo dado a entrevista.

    ?Ele até chegou a dar a entrevista, mas não deixou que colocássemos no filme. Eu até liguei para ele da ilha de edição e perguntei se ele tinha certeza. Mas é uma coisa dele. Não foi só com o filme?, lamentou Lina.

    Foi a segunda vez em menos de um mês que o ex-atacante deixou de aparecer em material sobre o Santos. Coutinho também negou a autorização para que seu perfil aparecesse no livro Os Dez Mais do Santos, do jornalista Thiago Arantes.

“Foi uma escolha narrativa. Se você analisar, só dois gols rivais são mostrados. Mas isso só acontece quando são fundamentais para a história”, afirma Lina, que negou ter escondido as derrotas. “Como não mostramos [as derrotas]? Ficamos 18 minutos falando sobre um campeonato que não ganhamos”, defende-se.

O campeonato em questão é o Brasileirão de 1995, em que o Santos foi vice-campeão. Quem assiste à passagem, porém, quase não percebe que o ano terminou sem título. A única história contada é a da semifinal, em que o Santos de Giovanni, o time que, segundo o filme, resgatou o orgulho dos torcedores durante a fila de títulos, reverteu uma vantagem de três gols do Fluminense no primeiro jogo e venceu por 5 a 2, se classificando para a final do torneio, contra o Botafogo.

Os mais exigentes também podem sentir falta de um detalhamento maior da época das maiores glórias, nos anos de Pelé. O período é contado em ritmo de trailer, em que a história é apenas mencionada, nunca contada por inteiro. Novamente, por opção da direção. “Quando você faz um filme sobre um centenário, de uma hora e meia, é impossível colocar tudo. Em alguns momentos, você passa rapidamente. O que eu procurei foi o relato emocional, contar a história de um jeito que ela pudesse ser sentida. Inclusive pelo não santista. Para isso, eu chamava os não-santistas para a ilha, para fazer um filme que se comunicasse também com eles”, explica Lina.

O maior exemplo disso é um fato que faz parte do imaginário popular santista: a lenda de que o time parou uma guerra, para realizar um amistoso. “Essa passagem não iria entrar. Mas quando tomei a decisão, não dormi por duas noites. Ela acabou entrando apenas em uma frase do Carlos Alberto”, conta a diretora, que ressalta que o Santos, de fato, parou a guerra, mas os relatos sobre isso podem confundir. “Nós temos duas histórias sobre isso. Uma em 67, outra em 69, uma envolvendo o Congo, outra, o Congo Belga. As histórias, às vezes, são assim, se confundem e se misturam”.

Quem assiste o filme, aliás, não duvida disso. Principalmente com as coincidências que cercam as duas últimas gerações douradas do time, com as duplas Diego-Robinho e Ganso-Neymar. “É o dedo de Deus essa repetição de histórias”, resume Odílio Rodrigues Filho, diretor do Santos.

FILME FAZ PARTE DE TRILOGIA SOBRE O SANTOS

O filme sobre o centenário do Santos é o primeiro de uma série sobre o clube. “Meninos da Vila - a Magia do Santos” será dirigido por Katia Lund e já está em fase de produção e “Santos de todos os gols”, previsto para 2014, também dirigido por Lina Chamie (foto), completam a trilogia.