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Em papo sobre amigos, Loco revela conversas com Guardiola e defende compatriota de racismo

Loco Abreu disse que se quisesse sair do Botafogo não teria renovado no início do ano - Bernardo Gentile/UOL Esporte
Loco Abreu disse que se quisesse sair do Botafogo não teria renovado no início do ano Imagem: Bernardo Gentile/UOL Esporte

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

13/04/2012 06h00

Ainda sem uma boa sequencia na temporada 2012, Loco Abreu está inquieto para voltar a brilhar no Botafogo. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, ele reclamou da falta de tempo do calendário do futebol brasileiro, contou da sua amizade com o técnico do Barcelona - Pep Guardiola - e ainda defendeu seu compatriota Luis Suarez, que foi punido na Inglaterra por um suposto ato racista em jogo do campeonato local.

"Foi mais para vender jornal do que racismo. Não vejo racismo em papo de futebol, tem muita coisa que é dentro do campo (...) Sei como o Luis [Suarez] é e, de jeito nenhum, é racista", afirmou Loco, que também explica que há muita coisa dentro de campo que morre por ali memso.

Guardiola, outro amigo destacado por Loco, não muda os planos do atacante para o futuro. Ele descartou qualquer possibilidade de trocar o Botafogo pelo time azul e grená - apesar da proximidade com o comandante espanhol. “Gosto de sonhar, mas dentro da minha realidade. Sei que isso não vai acontecer”, disse.

MAICOSUEL VOLTA A TREINAR COM BOLA; TRÊS TITULARES SÃO POUPADOS

  • Maicosuel treinou normalmente com os demais companheiros de Botafogo após lesionar-se na coxa direita, na partida de ida contra o Treze-PB, pela Copa do Brasil. O meia atuou ao lado de Fellype Gabriel e Elkeson em uma movimentação tática envolvendo três times, cujo o objetivo era roubar a bola e ultrapassar o meio de campo e marcar gol quando estiver no campo de ataque.

O uruguaio disse que Guardiola recebeu seus filhos em viagem à cidade espanhola, fazendo uma visita pelo centro de treinamento da equipe catalã. “Essa semana ele recebeu minha família em Barcelona, meus filhos foram lá no treinamento deles. Fiquei emocionado ao ver as fotos deles com o Iniesta, Xavi, Messi... e o Guardiola dando essa moral para mim e para minha família. Foi muito legal”, afirmou.

Entre outros temas, Abreu criticou parte da imprensa carioca, principalmente por causa do episódio envolvendo um suposto interesse do Corinthians. “Loco não tá jogando então vamos colocá-lo no Corinthians. Acham que o torcedor vai achar que estou de sacanagem para ir embora, mas torcedor não compra porque sabe da verdade”, bradou.

O camisa 13 também falou sobre a idolatria que recebe dos botafoguenses desde que marcou o gol do título carioca sobre o Flamengo utilizando-se da cavadinha. “Me colocaram na parede de General Severiano, o muro do povo. Fiquei emocionado e muito agradecido por esta diferenciação dentro do clube, me lembrarem como ídolo. Ser campeão sobre o Flamengo, ainda por cima com a cavadinha, fez com que os torcedores me olhassem de forma diferente. Ficou na memória para a vida toda”, comentou. Confira a entrevista completa:

UOL Esporte - Como você avalia seu momento?
Loco Abreu - Tive a infelicidade de ter uma lesão na costela e ficar fora do jogo [contra o Fluminense, pela Taça Rio], mas, por outro lado, estou com muita tranquilidade, pois a pancada não impediu de continuar com o trabalho que pedi para a comissão técnica, que concordou. Não estava bem para ajudar com as necessidades do time. Eu acho que o jogador deve se sentir bem para jogar e por conta do excesso de jogos que temos no futebol brasileiro, com Campeonato Carioca, Brasileiro, Copa do Brasil, Sul-Americana... Enfim, eu achei que era o momento ideal para fazer esse trabalho diferenciado. Sou muito autocrítico, senti a necessidade de chegar para ele [técnico Oswaldo de Oliveira] e passar minha situação. Concordamos em fazer um trabalho, que podemos chamar de pré-temporada para enfrentar as situações que terei pela frente. Temos apenas 15 dias para nos prepararmos para jogar 70 jogos, isso é f... Se você for pesquisar a quantidade de lesões quem ocorrem no Brasil é algo absurdo. Isso não é o acaso, é porque, lamentavelmente, a quantidade de jogos e compromissos geram isso. Atrapalha time, jogador, e ninguém repara. Quem manda nisso não se importa, apenas diz que a festa deve continuar. Então, diante disso tudo, eu achei que meu corpo precisava dessa preparação.

UOL Esporte - Quando você percebeu que seu corpo precisava desse condicionamento especial?
Loco Abreu - Desde o primeiro jogo no Carioca, senti que não estava com a força necessária para poder suportar a quantidade de jogos. Então, começamos a ver as estatísticas, o que eu fazia de diferente... Ir para a Copa do Mundo ou Copa América você acaba se afastando da sequência normal. Cada convocação você fica dez dias fora do dia a dia normal, alimentação. Isso não interessa para o torcedor, para eles o que vale é se faz gol ou não nos jogos. Depois de um certo ponto, o corpo te manda uma mensagem de texto “Filho, não dá, faz alguma coisa, pois não sou uma máquina”. Falei com a comissão técnica, que concordou. Fiz um trabalho muito bom, mas não adianta esperar que o Loco Abreu vá pegar a bola e sair driblando sete jogadores e fazer dez gols. Não é isso, simplesmente estar bem em minhas características. Poder me sentir bem no campo, estar forte, com fôlego.

UOL Esporte - Voltou a sentir-se bem?
Loco Abreu - Contra o Treze-PB [pela Copa do Brasil] me senti muito bem, por exemplo. Já estava no meio desse trabalho especial e já senti uma diferença. Agora estou me sentindo muito bem, mas precisa da sequência de jogos para ter esse parâmetro e ter uma real noção de como estou. Se ainda falta, ou se está perto do ideal.

NÚMEROS DE LOCO ABREU NO BOTAFOGO

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UOL Esporte - É a fase mais complicada desde que você chegou ao clube por conta das lesões?
Loco Abreu - O que aconteceu na minha coxa antes do jogo contra o Fluminense... Não sou eu quem tinha que falar, mas a ressonância deu que estava machucado. Mas me sentia preparado, fui para o jogo e não senti nada. Depois apareceu a pancada na costela, totalmente fora das minhas possibilidades, algo que acontece. É um ato que não posso prevenir e me tirou desse segundo clássico contra eles e da partida contra o Guarani. Não adianta ficar constrangido e pensar que tá dando tudo errado, que a fase é ruim, não. Tem que ter tranquilidade. Graças a Deus não atrapalhou o trabalho. A dor me deixava fazer academia, exercícios, trabalhar com bola. A única coisa que não poderia fazer era ter contato físico, o que nesta sexta [dia 6] já tive. Estou em condição de trabalhar normalmente.

UOL Esporte - Essa pancada do Renan, que te tirou de dois jogos após todo esse trabalho individual, te deixou frustrado?
Loco Abreu - Estava dentro do processo jogar contra o Fluminense, mas não mudou minha cabeça. Único momento em que minha cabeça vai ficar triste ou magoada vai ser quando alguém morrer, porque aí não tem jeito. Dizem que sou um cara com muita moral desde que nasci. Podem falar qualquer coisa, achar qualquer coisa, mas dentro de mim estou blindado.

UOL Esporte - Você está chegando à marca de 100 jogos pelo clube - o time que você mais defendeu na carreira. Tá empolgado?
Loco Abreu - Empolgado não. É uma sequência, uma característica que dá para ver a parceria que tem entre mim e o clube. Estou desfrutando do Botafogo e isso, obviamente, dá a possibilidade de ser o time que mais joguei, marquei gols, ser o artilheiro do Engenhão, que é o nosso estádio. Último gol do Maracanã, antes da reforma, foi meu naquele dia histórico [cavadinha contra o Flamengo na decisão da Taça Rio de 2010]. Estou podendo desfrutar disso tudo e, obviamente, chegar a essa marca é importante. Mas não muda nada, tem que continuar cavando para frente.

LOCO ABREU PELO BOTAFOGO EM 2012

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Gols6
Média0,6

UOL Esporte - Torcedor do Botafogo está sentindo falta da cavadinha...
Loco Abreu - Ficou guardado na lembrança para toda a vida. Não adianta querer fazer outra para comparar. A primeira, pela importância que tinha, de perder para o mesmo rival três vezes seguidas, de voltar a frente do placar, todos achavam que ia para os pênaltis. Ser campeão sobre o Flamengo, ainda por cima com a cavadinha, fez com que os torcedores me olhassem de forma diferente.

UOL Esporte - Se considera ídolo do Botafogo?
Loco Abreu - Eu não, o torcedor que fala isso. Me colocaram na parede de General Severiano, o muro do povo. Fiquei emocionado e muito agradecido por esta diferenciação dentro do clube. Me lembrarem como ídolo. Eu não acredito em ser um ídolo, mas agradeço a eles de dizer isso para mim. Outra coisa que o Botafogo e os botafoguenses têm de bom é que preservam muito seus ídolos. Podem ficar chateados em um jogo porque as coisas não saem, mas, no geral, o ídolo está em uma caixinha de prata e ninguém mexe.

UOL Esporte - Você sairia do Botafogo antes da Copa do Mundo de 2014 para outro time?
Loco Abreu - Se eu quisesse sair não teria renovado o meu contrato, que acabou agora em janeiro. Se eu quisesse sair, teria ficado na minha, livre para qualquer clube. Para eu renovar, tinha que ficar essa diretoria, não por eu ser parceiro deles, mas pelo trabalho que está sendo bem feito. Não tem bagunça, tem disciplina, responsabilidade, estrutura, um projeto para base, para continuar crescendo como um clube, não como time. Acredito neles e, por isso, queria continuar com essa diretoria. Renovei pensando em manter o bom momento, o relacionamento. Minha família está adaptada ao Rio. [Entrevista interrompida pelo coordenador de logística, Everaldo Silva, a quem Loco Abreu chama de “minha mulher”: "Vai sair essa p... toda na entrevista, hein?"]. Não passou pela minha cabeça sair, mas se aprende que dentro do esporte, lamentavelmente, tem muita pessoa que se prepara para o jornalismo esportivo indo pelo caminho errado, querendo apenas o que dá confusão, o que vende. Qualquer situação fica legal para botar pilha, porque ele acha que o torcedor vai cair em papo furado, mas como te falei: para o botafoguense, ninguém mexe com o ídolo.

UOL Esporte - Não sairia nem para ir para o Barcelona, por exemplo?
Loco Abreu - Estou vivendo a realidade. Gosto de sonhar, mas dentro da minha realidade. Sei que isso não vai acontecer, apesar do Pep Guardiola [técnico do Barcelona] ser meu parceiro. Essa semana ele recebeu minha família em Barcelona, meus filhos foram lá no treinamento deles. Fiquei emocionado ao ver as fotos deles com o Iniesta, Xavi, Messi... e o Guardiola dando essa moral para mim e para minha família. Foi muito legal. Obviamente sei que o Botafogo é o meu time, que me dá condições de sonhar com coisas importantes. Me dará a possibilidade de continuar em um nível competitivo, continuar na seleção [uruguaia] e jogar a Copa. Escutei algumas pessoas falando que tenho 35 anos e, por isso, estou perto da aposentadoria. Tomei uma pancada na costela e dizem que foi nas costas.

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UOL Esporte - Houve algum contato do Corinthians?
Loco Abreu - Loco não está jogando, então vamos colocá-lo no Corinthians. Acham que o torcedor vai achar que estou de sacanagem para ir embora, mas torcedor não compra porque sabe da verdade. Infelizmente tenho que conviver com certas coisas. Quando se tem uma carreira importante, eu não preciso tanto do jornalismo, mas normalmente a imprensa vai precisar de mim, pois sou o artilheiro, capitão da equipe, referência, os torcedores falam que sou ídolo. Como sou um cara sincero e honesto, eu gosto que haja reciprocidade. Como isso não está havendo com algumas pessoas – digo pessoa, pois antes de ser futebol tem uma pessoa atrás, antes de ser um jornalista, tem uma pessoa atrás –, que trabalham no jornalismo e não estão sendo sinceras, honestas, que estão falando mentiras, estão sacaneando a gente, eu tenho direito de  escolher com quem falar e com quem não. Tenho um assessor que vê tudo o que dizem e escrevem. Sei que, por outro lado, existem jornalistas que fazem um trabalho correto, independentemente de falar se estou jogando mal ou bem, estão dizendo a verdade. Isso faz parte, mas quem fala besteiras e mentiras, prefiro não dar entrevistas, é um direito meu.

UOL Esporte - Seus filhos estão crescendo aqui no Brasil e vendo o pai jogar no Botafogo. Eles têm um carinho especial pelo clube?
Loco Abreu - Pela paixão que jogo, meus filhos rapidamente ficam com um carinho pelos times em que jogo. O problema é quando você joga por dois times no mesmo país, aí eles ficam na dúvida. Eles começam a sentir essa paixão, pois me envolvo muito com o clube. Eles rapidamente sentem o mesmo e ficam comigo. Minha família está gostando muito da forma de viver dos cariocas e o futebol faz parte disso. Meus filhos adoram futebol e fizeram amigos para cá. Volta e meia aparece algum deles lá em casa para pegar um autógrafo, tirar uma foto. O que é legal é que não é só de botafoguense, vai de Fluminense, Flamengo e Vasco. Isso me deixa feliz demais.

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UOL Esporte - Como você vê as chances desperdiçadas pela equipe? Umas das principais características suas é a eficiência, ser frio, decisivo.
Loco Abreu - Ano passado isso ocorreu também, lembra do jogo contra o São Paulo? Perder gols é algo que pode ocorrer, é do futebol. Quando se quer colocar um alvo negativo, coloca-se muita pilha. Sou um cara que analisa tudo, ano passado também errava gol, mas esse ano virou moda falar disso no Botafogo, então todo mundo bota pilha nessa situação. Minha preocupação seria se meu time não criasse as oportunidades. Se não criasse ia falar “tá f... não tem como jogar assim”. Mas está criando e os gols estão saindo. Não terá um jogo em que criaremos dez oportunidades e faremos 10 a 0, nem o Barcelona faz. Quando passar a moda, vão procurar outro tipo de situação para começar a falar. Tem que ser inteligente e saber diferenciar quando a situação é natural e quando é forçado. 

UOL Esporte - Esse ano, porém, você falhou em duas oportunidades. [perdeu pênalti na semifinal da Taça Guanabara e contra o Treze-PB, pela Copa do Brasil]... 
Loco Abreu - Faz parte. Errar um pênalti é o mesmo que errar um gol. Você fica obviamente mal por não cumprir sua obrigação, sua responsabilidade, mas fica nisso. Não tenho que pedir desculpa, fazer coletiva para isso. Ficar encenando dizendo que estou triste, para que todo mundo te dê apoio. São situações que acontecem. É esporte, futebol. Os protagonistas, que somos nós, temos que trabalhar para conscientização que o torcedor deve ter. Não acaba o mundo se perder o pênalti, nem poderá comprar tudo que você quiser porque ganhou. É uma alegria ou uma frustração, só isso. O importante é manter uma linha, uma credibilidade para passar ao torcedor.

UOL Esporte - Você sempre foi engajado contra o racismo. Como você viu o episódio envolvendo o Suarez e Evra, na Inglaterra?
Loco Abreu - Foi mais para vender jornal do que racismo. Não vejo racismo em papo de futebol, tem muita coisa que é dentro do campo. Tem muita conversa dentro do campo que não dá para pensar que você está sendo racista. Diferente de você estar na rua e gritar para o cara: “Ei, Amarelo, vai tomar no c...”. Isso é racismo. Dentro do campo tem muita coisa. Imagina se falassem para mim: “O gringo, tá arrumando dinheiro aqui”, posso pensar que é racismo, mas é futebol. Acabou o jogo, morre aí. Na Inglaterra, eles acham que têm uma cultura legal, que são isso ou aquilo, mas achei errado o que fizeram com o Suarez. Além disso, diferente do caso do Terry, zagueiro do Chelsea, você não tem como provar que o Suarez falou alguma coisa. É a palavra dele contra a do Evra. Já o Terry, tem a imagem que ele está dizendo para o cara e não foi suspenso. O Suarez pegou oito jogos. Essa é uma situação de como a imprensa pode ajudar ou atrapalhar. Sei como o Luis [Suarez] é e, de jeito nenhum, é racista. No Uruguai, tem preto e convive muito bem com eles. Foi algo de momento e que cresceram demais.