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Multiuso, Fernandão soma três cargos em cinco anos e volta a ser solução no Inter

Contratado pela 1ª vez em 2004, ídolo já foi jogador, dirigente e agora será técnico - Agência Freelancer
Contratado pela 1ª vez em 2004, ídolo já foi jogador, dirigente e agora será técnico Imagem: Agência Freelancer

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

21/07/2012 06h00

Fernandão é quase sinônimo do Internacional moderno. Anunciado nesta sexta como técnico, ele acumula mais de cinco anos no Beira-Rio. Entre idas e vindas, já foi capitão, herói em títulos históricos, líder dos atletas e mais recentemente um administrador do vestiário.

Outra vez apontado como solução, ele passa por um processo de reciclagem de sua figura emblemática do clube. Assume o terceiro cargo desde que pisou em Porto Alegre pela primeira vez. Contratado em junho de 2004, Fernandão se confirma como personagem multiuso.

Logo que chegou, se consagrou marcando o gol 1000 do clássico Gre-Nal. De cabeça, no segundo tempo de um jogo no Beira-Rio. Rapidamente virou titular absoluto. Em seguida veio a braçadeira de capitão, o status de líder. A idolatria da massa foi consequência. A identificação também.

“Não nasci colorado, mas me tornei colorado com o tempo. Pelo o que vivi nos gramados aqui. O Internacional passou na minha vida e tenho que retribuir. O que quero é ter o maior prazer de trabalhar. E senti prazer neste primeiro treino”, afirmou Fernandão.

No meio da primeira passagem, o apogeu do império particular: a conquista da Libertadores. A mítica cena da taça com base de madeira erguida no meio de uma chuva de papéis picados. A quebra de um jejum do clube. Saciando a gana da torcida. Meses depois veio o Mundial.

OS CAPÍTULOS DE FERNANDÃO NO INTER

17/06/2004 - Fernandão é anunciado como reforço do Inter e inicia primeira fase. Como jogador vira titular absoluto, capitão e fatura seis títulos; entre eles a Libertadores e o Mundial de 2006. Foram 190 jogos e 77 gols em quatro anos no campo
19/07/2011 - Já aposentado após rescindir com o São Paulo, Fernandão aceita convite para ser diretor-técnico; ele é peça na remodelação do vestiário após saída de Falcão. No cargo contratada Dagoberto, Dátolo, Diego Forlán, Juan, Edson Ratinho, Ilsinho e Fransérgio
20/07/2012 - Inter surpreende e transforma Fernandão em técnico; decisão preenche vaga de Dorival Júnior, demitido após derrota para o Atlético-MG. Escolha por Fernandão tenta criar pacto com a torcida e retomar comando do vestiário vermelho

Do paraíso, Fernandão mergulhou de cabeça no umbral. Em junho de 2008, às vésperas de um jogo contra o Botafogo, anunciou sua saída do Beira-Rio. O destino: Al Gharafa, do Qatar. Um ano depois, o atacante voltou ao Brasil e esperava ser abraçado pelo Inter. Deu com a cara na porta e fechou com o Goiás.

“Fiquei chateado, queria ter voltado ao Inter. Mas depois de um tempo entendi. O tempo cura até queijo. A raiva que tive deles passou, está tudo resolvido”, comentou o ídolo ao falar do atrito com o ex-presidente Fernando Carvalho.

A retomada de Fernandão, já com a imagem um pouco rabiscada diante da torcida, só veio em 2011. Afundado em uma crise pela saída de Paulo Roberto Falcão, que disparou contra tudo e todos no adeus, o Internacional pediu socorro ao antigo chefe do vestiário.

Anunciou Fernandão como diretor-técnico, com grandes poderes administrativos, um dia após demitir Falcão. A segunda passagem, o segundo cargo diferente, foi praticamente uma escada para a mutação recente. Sem querer, o Colorado foi diagnosticando um postulante a casamata.

“Conversamos muito nos últimos 50 dias, quando começamos a trabalhar juntos. Sempre me agradou muito a forma como  Fernandão pensa. Foi uma convicção que veio com o tempo. Um trabalho muito próximo, de um diálogo diário. Falando sobre metodologia”, explicou o vice-presidente de futebol Luciano Davi, responsável por convencer Fernandão a virar técnico.

Com o boné, o apito e o abrigo Fernandão atende a outro chamado vermelho. O mais complexo que já ouviu. Aos 34 anos ele mudará completamente a sua rotina, a visão do jogo. O relacionamento com os antigos colegas. Será o responsável por fazer o Inter voltar aos eixos.

“Tive coragem de enfrentar meu medo em relação a esta decisão. Eu estou dando a cara para bater, mas sei que tenho competência e sei o que eu quero”, sentenciou. “Sei que vai ser uma jornada árdua. Mas não será tão dolorida por que vou estar bem preparado”, acrescentou.

A primeira página do terceiro capítulo de Fernandão no Internacional começará no domingo, contra o Atlético-GO. O jogo da 11ª rodada do Brasileirão será o primeiro passo para mostrar se o ídolo pode seguir sendo multiuso.