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Precursor, Djalminha comenta falhas e revela guia de como não errar 'cavadinha' em pênalti

Djalminha popularizou a cobrança conhecida como "cavadinha" jogando pelo Palmeiras - César Itiberê/Folha Imagem
Djalminha popularizou a cobrança conhecida como 'cavadinha' jogando pelo Palmeiras Imagem: César Itiberê/Folha Imagem

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

30/08/2012 06h00

Parar em frente de um goleiro num pênalti e executar a polêmica cobrança conhecida como 'cavadinha' exige muito mais do que sangue frio, ímpeto e uma dose de loucura. Fiascos recentes como a bisonha falha do brasileiro Maicosuel na Liga dos Campeões sugerem que o sucesso do chute com efeito no meio do gol não depende exclusivamente de ousadia. Espécie de precursor do lance no Brasil nos anos 90, o ex-jogador Djalminha diz acreditar num repertório específico que combina técnica e estratégia para fazer a jogada vingar.

"MANDAMENTOS" DA CAVADINHA PERFEITA, POR DJALMINHA

CONHECER O GOLEIRO
"Tem que conhecer o goleiro. Tem muito a ver com isso. Tem que observar todos os pênaltis, ver se ele sai antes, se não sai antes. Se não sai tem uma dificuldade maior, é melhor evitar a cavadinha. Se ele demora para sair, dá tempo de voltar. Aquele que tenta adivinhar o canto é o mais indicado"
NUNCA ANDAR ATÉ A BOLA
"Tudo depende da velocidade que você vai para a bola. Eu vinha sempre em velocidade, nunca vinha caminhando. A velocidade é muito importante. Se você vai em velocidade, o goleiro tem que adivinhar o canto. Se você vai devagar, dá tempo de arriscar, ficar no lugar e depois pular. Mas se o cobrador vai correndo, [o goleiro] não pode esperar. O tempo de reação é menor. Ele tem que arriscar um canto antes"
VARIAR REPERTÓRIO DE COBRANÇAS
"Nunca batia seguido, nunca em dois jogos seguidos, isso ajuda. Se você fizer em todo jogo, uma hora o goleiro vai te pegar. Não dá para utilizar isso toda hora, fica manjado"
RESSALVA EMOCIONAL
"Mas tudo isso é teoria. Na prática conta um monte de coisa, como o lado emocional, a personalidade do jogador, a percepção na hora de cobrar"

Na última terça-feira, Maicosuel desperdiçou cobrança na disputa de pênaltis em que o seu time, a Udinese, foi eliminado pelo Braga na fase preliminar da Liga dos Campeões. Assim, o ex-jogador do Botafogo se juntou a nomes de peso do futebol que já falharam na execução do lance para ludibriar goleiros, como Andrea Pirlo, Loco Abreu, Rogério Ceni e Neymar [confira os vídeos das falhas no final da matéria].   

"Tem que saber bater. Não basta dar a 'cavadinha', tem alguns macetes. Não é só chegar e bater, pensar que todo goleiro vai pular, que não vai perceber", afirmou Djalminha em entrevista ao UOL Esporte.

"Eu vi o lance do Maicosuel. Se ele errou a cobrança, lógico que fez algo errado. A velocidade é muito importante. Se você vai em velocidade, o goleiro tem que adivinhar o canto. Se você vai devagar, dá tempo de ele arriscar, ficar no lugar e depois pular", acrescenta, em menção à jogada envolvendo o brasileiro da Udinese.

Ídolo de Flamengo, Guarani e Palmeiras na década de 90, Djalminha foi o jogador que popularizou o recurso da 'cavadinha' em cobranças de pênaltis no país. Mesmo após deixar o futebol, o antigo meio-campo segue associado ao lance no imaginário do torcedor.

Djalminha diz que jamais falhou na tentativa deste tipo de pênalti, em cerca de "10 a 15 cobranças". Hoje em dia, o meia diz apreciar o talento de dois estrangeiros neste tipo específico de chute.

"O Loco Abreu perdeu, mas batia muito bem. Quem bate muito bem é o Pirlo. Por ser um jogador técnico, os goleiros já pensam no canto, saem antes quando ele vai bater", comenta.

TAFFAREL COMO OBSTÁCULO E BRONCA DE LUXEMBURGO

Na época em que respondia pelas cobranças de pênalti de seus times, Djalminha costumava estudar os principais goleiros do futebol brasileiro. O meia conta que o tetracampeão mundial Taffarel era aquele que exigia mais de sua técnica, inibindo a opção pela 'cavadinha'.

"Com o Taffarel, eu só batia no canto. Ele demorava para sair, tinha uma boa percepção sobre qual canto a bola estava indo. E ele ia bem no canto, não adiantava dar a ‘cavadinha’ com ele. Com goleiro veterano eu também não costumava bater ‘cavadinha’. Porque o veterano não gosta de se jogar antes", relata.

O precursor da ousada cobrança no Brasil diz que foi repreendido apenas uma vez por um treinador. Djalminha executou a 'cavadinha' em uma vitória sobre o Botafogo de Ribeirão Preto no Paulistão de 1996, quando o Palmeiras já goleava por 5 a 0. Nos vestiários, acabou sendo confrontado por Vanderlei Luxemburgo.

"Conversei com ele, disse que não fazia aquilo para humilhar o adversário, já batia assim no Guarani antes, era uma característica minha. Depois voltei a cobrar assim e ele entendeu. Inclusive em um jogo decisivo da Copa do Brasil, no Palestra Itália, contra o Carlos Germano no Vasco", recorda. 

TCHECO INVENTOU LANCE EM 1976

Apesar de ser reproduzida com mais frequência em gramados brasileiros, a 'cavadinha' em cobranças de pênalti nasceu fora do país, nem antes de Djalminha pensar em ser jogador de futebol. O pai da ousada invenção é Antonin Panenka, ex-integrante da seleção da Tchecoslováquia.

O jogador assombrou a Europa com uma ‘cavadinha’ na cobrança decisiva da disputa de pênaltis contra a Alemanha Ocidental, na decisão da Eurocopa de 1976. O gol no arriscado chute selou o título inédito para a Tchecoslováquia. A jogada executada diante do célebre goleiro alemão Sepp Maier acabou batizando o lance na Europa com o nome de seu autor, Panenka.