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Entre reuniões e suspeitas contra assessor de Felipão, Sampaio quer entregar delator à torcida

César Sampaio garante que Felipão ainda tem controle do grupo apesar de boatos - Leonardo Soares/UOL
César Sampaio garante que Felipão ainda tem controle do grupo apesar de boatos Imagem: Leonardo Soares/UOL

Danilo Lavieri e Ricardo Perrone

Do UOL, em São Paulo

31/08/2012 06h00

"Chega de ficar de bobo aqui".

A frase é de César Sampaio, ídolo do Palmeiras e atual gerente de futebol do clube. Ele quer descobrir o quanto antes aquele que, segundo diretoria, comissão técnica e jogadores, é o principal responsável pelo caos ao qual o Palmeiras voltou após a breve paz vivida com a conquista da Copa do Brasil. Para a cúpula palmeirense, não são os adversários, os desfalques ou a qualidade do futebol apresentado os motivos do time iniciar o returno do Brasileirão na zona de rebaixamento. A razão maior, acreditam, é a ação eficiente de um novo dedo-duro. Alguém com acesso ao vestiário palestrino e que nas últimas semanas vazou informações que desagradaram os jogadores. Sampaio quer a cabeça do delator. E já sabe o que vai fazer com ela.

"Quando descobrir, vou falar para a Mancha [Alviverde, facção organizada do Palmeiras], para os caras entenderem que tem gente querendo derrubar o Palmeiras. Estão usando a política para derrubar o Palmeiras, querendo ferrar a gente aqui. Querem acabar com o nosso time", desabafou um irritado Sampaio ao UOL Esporte.

CAÇA DEDO-DURO

  • Gerente de futebol, César Sampaio, disse que trabalhará incansavelmente para caçar o delator

A primeira suspeita, que após investigação foi afastada por Sampaio, implodiria de vez a relação entre comissão técnica e jogadores. Ao checar algumas pistas que lhe foram passadas, o dirigente chegou ao nome de Acaz Fellegger, assessor de imprensa do técnico Luiz Felipe Scolari, como responsável por passar informações internas aos jornalistas. Mas, após reuniões com o técnico, Acaz e até com os jogadores, Sampaio disse que descartou essa possibilidade. Ele, no entanto, ressalta que está perto de confirmar quem é o verdadeiro delator.

O dirigente prefere não revelar quem é o novo suspeito. Mas não tem dúvida em afirmar que essa crise é apenas mais uma extensão da conturbada política palmeirense. Para ele, setores do clube querem o rebaixamento por serem contra a gestão do presidente Arnaldo Tirone.

"Não quero que o lado político atrapalhe a parte esportiva. Nós acompanhamos de perto [o vestiário do time] e eu posso dizer que não há descontentamento ou complô contra a comissão [técnica]. E se existir alguma coisa, quem vai ser prejudicado é o Palmeiras", afirmou. "Você não tem noção do tanto que estou sendo cobrado, das ligações que estou recebendo. Mas nem reclamo disso, porque essa é a minha função. Mas o que eu quero que você saiba é que eu sei que, quando não temos vitórias, tentam jogar um contra o outro", completou.

Nada de cartinhas

Uma nova reunião ocorreu na Academia nesta quinta-feira, mas desta vez sem a presença de Scolari. Chegou-se a cogitar que uma nota oficial fosse publicada no site do clube para inocentar Acaz Fellegger, mas a opção foi descartada.

"A gente tem a saúde do vestiário como prioridade e, por isso, fizemos uma reunião. Eu intermediei uma situação entre dois atletas, onde o Acaz foi citado por eles. Depois falei com o Felipão e perguntei se ele estava mandando recados por meio de seu assessor", disse Sampaio.
 

ELES NÃO GOSTARAM DO VAZAMENTO

  • Arte/UOL

    João Vítor, Daniel Carvalho e Maikon Leite foram vítimas de um vazamento. O grupo não gostou

"Na mesma hora, o Felipe foi ao grupo e disse que se ele tivesse que resolver alguma coisa, ele resolveria diretamente com os caras e que não precisava mandar cartinhas. Aí eu conversei com o Acaz, falei com outros atletas e eles disseram que não tinha nada a ver. Foi aí que começamos a fechar o cerco em outras pessoas. Estou juntando provas para não ser leviano. O que é fato é que tem gente aqui dentro que tem interesses particulares e isso eu não vou permitir", completou.

O presidente Arnaldo Tirone, o vice-presidente de futebol Roberto Frizzo e o diretor jurídico Piraci de Oliveira também receberam a informação de companheiros de Conselho de que o dedo-duro seria Acaz Fellegger. A intenção seria dar um recado do técnico a jogadores usando a imprensa para fazer com que a bronca se tornasse pública e a torcida ajudasse na pressão. 

QUEM É ACAZ?

  • Foi assessor do Palmeiras na época da Parmalat, mas deixou a empresa e foi posteriormente proibido pelo então presidente Mustafá Contursi de entrar no clube e no CT. Foi no Palmeiras que conheceu Felipão e começou a prestar assessoria a ele e a outros atletas

Questionado pela imprensa após o jogo contra o Botafogo (pela Sul-Americana) sobre as notícias vazadas, Felipão confirmou que teve conversas internas sobre João Vítor ter chegado sem condições de treino e sobre a falta de vontade de Daniel Carvalho e Maikon Leite. O técnico disse que já sabia quem havia vazado para a imprensa. Na época, sua versão recebeu pouca atenção, especialmente por Acaz estar na mira da maioria dos conselheiros.

O UOL Esporte apurou que os jogadores ainda não estão 100% convencidos que Acaz não é o dedo-duro. Dizem que só ficarão tranquilos quando o nome for colocado publicamente. Entre os motivos que tornaram o assessor de Felipão suspeito está o fato de ele ter acesso a informações do vestiário, conversar frequentemente pelo celular com membros da comissão técnica, como o coordenador Galeano e o observador Fernando Miranda. 

Sobre a derrota vexatória para a Portuguesa, Sampaio descartou qualquer tentativa de derrubar Felipão.

"A gente jogou mal. Sem contar que os caras correram 90 minutos, vieram para cima da gente e não conseguimos segurar. Não há boicote. Se tiver, volto a repetir, o prejudicado seria o Palmeiras".

Volta no tempo

Sampaio já havia chegado ao clube com a missão de pacificar o vestiário. O crise provocada pela briga entre Kleber, hoje no Grêmio, e Felipão rachou o elenco palmeirense no meio do Brasileirão de 2011. Sampaio ajudou a colocar o ambiente nos eixos. Mas o trabalho de um ano foi para o lixo quando incidentes e suspeitas ocorridas após o fim da Copa do Brasil voltaram a acontecer.

Primeiro foi o volante João Vítor que chegou a um treino com sinais de embriaguez. A informação vazou e incomodou os atletas, que pediram uma reunião com um jornalista que cobre a rotina do Palmeiras. Esse jornalista mostrou aos dirigentes que sabia do ocorrido com detalhes. Sampaio, que inicialmente havia aceitado promover o encontro pedido pelos jogadores, recuou e preferiu manter a investigação interna.

Dias depois do caso João Vítor, foi a vez de uma notícia de que Maikon Leite e Daniel Carvalho estavam fazendo "corpo mole" vir à tona. O grupo manifestou por meio das entrevistas a sua insatisfação e passou a apontar Acaz como o vazador. O motivo foi um post publicado pelo assessor na sua conta de Twitter. Se normalmente um assessor desmente informações que podem tumultuar o ambiente do clube, desta vez o funcionário de Felipão passou à frente a notícia dada por agências que os jogadores estavam sem vontade de atuar pelo time.

TUÍTE SUSPEITO

  • Reprodução

    "Fellegger Aggência", empresa de Acaz, retuíta notícia de corpo mole de jogadores

A história começou a sair dos vestiários e atingiu também o Conselho Deliberativo. Foi quando o caso tomou as redes sociais e chegou ao conhecimento também dos torcedores. Imediatamente casos antigos de vazamento de informação, como cartazes na Academia de Futebol, sondagem para Paulo César Carpegiani ser o técnico do time e outros casos que tumultuaram o ambiente também foram associados a Acaz Fellegger.

A reportagem tentou conversar com Acaz Fellegger, mas não obteve sucesso. Posteriormente, o assessor negou em nota envolvimento com os incidentes nos bastidores do Palmeiras.