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Lusa celebra dica de Vampeta sobre Dida e reivindica badalação de Ceni para seu goleiro

Aos 39 anos, Dida é um dos destaques da Portuguesa na campanha do Brasileiro de 2012 - Portuguesa/Divulgação
Aos 39 anos, Dida é um dos destaques da Portuguesa na campanha do Brasileiro de 2012 Imagem: Portuguesa/Divulgação

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

19/10/2012 06h00

Dida escolhe não falar. Dono de um dos currículos mais ricos entre os goleiros de sua celebrada geração, integrante da seleção em Copas e astro no futebol europeu, o baiano de Irará caminha para o desfecho da carreira como sempre preferiu em sua introversão, procurando escapar dos holofotes, evitando entrevistas. Mas há quem fale pelo veterano de 39 anos, exaltado pela Portuguesa por conta do seu desempenho no Brasileirão. O clube que recrutou o camisa 1 graças a uma dica de Vampeta diz que ele merece reconhecimento semelhante ao recebido pelo são-paulino Rogério Ceni.

A Portuguesa soube que Dida gostaria de voltar a atuar profissionalmente apesar de dois anos de inatividade, morando em Belo Horizonte. A sugestão veio em maio passado através de Vampeta, amigo de Dida desde as categorias de base do Vitória nos anos 90. A dica passou pelo diretor André Heleno e chegou aos ouvidos do gerente de futebol Candinho, que então assumiu a negociação.

O goleiro acabara de disputar um torneio de futebol de areia em São Paulo, defendendo uma equipe do Milan, em experiência digna de jogadores aposentados. Antes da pausa nos gramados, Dida ainda vinha de dois anos na reserva do Milan. Ou seja, eram quatro anos sem uma sequência razoável de partidas.

Mas, com uma largada problemática no Brasileiro, logo depois do rebaixamento no Paulistão, a Lusa não hesitou diante da oportunidade de ter um veterano de Copas, mesmo com todos os pontos de interrogação que a iniciativa sugeria. Hoje a equipe do técnico Geninho colhe os frutos da aposta arriscada que deu certo. Dida sofreu 27 gols em 26 partidas disputadas na Série A até o momento [não desfalcou o time uma só vez] e tem sido um dos destaques individuais da equipe. O veterano deixou oito jogos sem ter a meta vazada e só não conseguiu ainda defender um pênalti, sua marca registrada.

"Acho que o Dida merecia [o reconhecimento]. O problema do Dida é que ele paga o ônus de jogar na Portuguesa. Não é o Dida que tem o retrospecto inferior ao do Rogério, mas as coisas na Portuguesa são encaradas de uma maneira diferente do que são encaradas no São Paulo, que é uma vitrine maior, um shopping", opina o técnico Geninho.

"O Dida é uma pessoa que não gosta muito de 'auê', de muita entrevista. E outra, ele joga na Portuguesa, que é um clube de menos mídia. Evidente que se ele jogasse num Corinthians, num Palmeiras, num Flamengo, Fluminense, o nome dele estava todo dia aí pelas atuações dele. Mas ele está no nosso clube, que não vende muito jornal, não dá muito ibope, um clube com pouca torcida. Da mesma forma que falam do Rogério Ceni quando ele tem boas atuações, o Dida seria exaltado", diz o gerente Candinho.

QUATRO PEDIDOS DE ENTREVISTA NEGADOS POR SEMANA

A assessoria de imprensa da Portuguesa cumpre um protocolo tradicional desde que Dida chegou ao Canindé. A divisão de comunicação do clube recebe em média quatro solicitações de entrevistas com o goleiro por semana. Elas são todas encaminhadas ao veterano, que tem declinado da oportunidade de encarar microfones sem nenhuma margem de negociação, não importa o "tamanho" de quem solicita.

COM ZAGALLO NA TV: "SAI DO GOL, DIDA"

A personalidade silenciosa do baiano foi explorada até pela publicidade brasileira. Nos anos 90 o goleiro contracenou com Zagallo em uma propaganda de carro para a TV. Enquanto o veterano treinador tagarelava, o "rei dos pênaltis" atuou apenas por sinais ["Sai do gol, Dida", dizia Zagallo, em referência ao automóvel, mas com a menção subliminar a uma falha do atleta na Olimpíada de 1996, em Atlanta].

A única entrevista que Dida concedeu desde que chegou à Portuguesa aconteceu em sua chegada, na coletiva de apresentação de reforços do time para o Brasileiro. Mas, se fora de campo se caracteriza pela postura tímida, o goleiro protagoniza uma espécie de transformação e fala sem parar quando a bola rola pra valer.  

"Existem praticamente dois Didas. O Dida do dia a dia, que é uma pessoa muito calada, muito introvertida, avesso à entrevista, à badalação. E tem o Dida profissional, que nos treinamentos brinca, fala. O Dida em campo orienta, grita, é um outro Dida", descreve Geninho.

E são os companheiros de defesa que mais comemoram o aparecimento da voz de Dida nos 90 minutos do futebol.

"Dentro de campo mostra o que fora ele não é. Fora ele é um cara tranquilo, conversa pouco. Dentro ele orienta a gente, posiciona os zagueiros. E isso facilita para a gente desempenhar um bom trabalho ali atrás", declara o zagueiro Rogério.

FUTURO PARA 2013 AINDA É UMA INCÓGNITA

O baiano Dida completou 39 anos no último dia 7 de outubro, mas, a julgar pelo nível técnico apresentado no Brasileiro, não deve optar pela aposentadoria depois da competição.

O veterano tem contrato com a Portuguesa até o fim de dezembro, mas mantém sua presença em 2013 incerta no clube, que disputará a Série A-2 do Paulistão. Especula-se que Dida esteja preparando uma mudança para o Palmeiras na próxima temporada.  

Nas palavras do gerente Candinho, com uma ponta de pessimismo realista, o futuro pertence apenas ao goleiro e deve ser definido somente após o desfecho do Brasileiro. Mas mesmo que 2013 comece longe do Canindé, o preparador de goleiros da Portuguesa Alex Gregório confia em uma estrada estendida para o seu jogador.  

"Pelo profissionalismo dele, como ele se dedica aos treinamentos, acho que dá uns quatro anos ainda. Pelo ser o profissional que ele é, um cara que sempre está entre os mais baixos percentuais de gordura, está sempre se cuidando. Tudo depende dele", afirma o membro da comissão técnica.

PORTUGUESA "TORCE" POR SEGUNDO DIDA

Dois negros altos executam a exigente prática de goleiros no fundo de um dos campos do centro de treinamento da Portuguesa, confundindo a identificação de quem observa de longe. Um deles é Dida, e o outro Winiston Cristian dos Santos, jovem esperança para o futuro do clube.

Conhecido como Tom, o garoto de 20 anos é o terceiro goleiro do elenco na atualidade e revela que na adolescência era conhecido como Dida no futebol do bairro. Hoje, trabalha ombro a ombro com o ilustre campeão do mundo em busca de pílulas de conhecimento sobre a posição.

"A gente nunca imagina que vai ter essa oportunidade. Ele vem de dois anos parado, não pensava que iria voltar. Voltou aqui para a Portuguesa, temos essa oportunidade de pegar muita experiência. Eu, com meus 12 anos, já era comparado com o Dida. É um privilégio muito grande", afirma Tom.