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Há 15 anos, Flamengo ameaçou migrar para São Paulo, vestir amarelo e virar "Fla-Araçatuba"

Sávio passa por Roque Junior em Flamengo x Palmeiras de 97; atacante era estrela do Fla - Associated Press
Sávio passa por Roque Junior em Flamengo x Palmeiras de 97; atacante era estrela do Fla Imagem: Associated Press

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

02/11/2012 06h00Atualizada em 05/05/2015 10h40

Na última segunda-feira, o presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, teve que dizer que era brincadeira um convite feito para que Flamengo e Fluminense disputem o Campeonato Paulista do ano que vem. Tudo porque os dois clubes não escondem a insatisfação com as práticas da FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro). Mas, não é a primeira vez que toca um “alarme falso” sobre a participação de um clube carioca no Estadual paulista. E, da outra vez, também teve o clube da Gávea como envolvido.

Há 15 anos, em novembro de 1997, uma divergência entre o então presidente do Flamengo, Kleber Leite, e o presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Vianna, fez com que existisse a possibilidade do time carioca migrar para Araçatuba e disputar o Campeonato Paulista.

O clube da Gávea alegava que o Estadual do Rio era deficitário e queria mudanças drásticas, como formato de disputa e pagamento maior para as equipes. Leite então se reuniu com o então presidente da  Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, além de dirigentes do Araçatuba, clube do interior paulista, e com membros da prefeitura da cidade.
Farah prometera, na época, uma cota de R$ 500 mil por partida a cada mando de jogo desde que o Flamengo utilizasse no Paulista suas principais estrelas, como Junior Baiano, Juan, Athirson e Sávio, entre outros.

Kleber Leite se disse, na época, “balançado” com a proposta. E assim começou a ideia de se montar o "Fla-Araçatuba". "Tenho uma folha de pagamento de cerca de R$ 650 mil mensais e não posso continuar disputando o Campeonato Carioca, que não tem data, adversário e contrato marcados”, falou Leite em novembro de 1997.

“Só não sei se os sócios do Araçatuba vão se sentir prestigiados. No Americano, o meu clube, o Kleber Leite receberia pancadas. Lá, ele não entra nem como varredor”, rebateu Vianna, na época.  

A antiga rixa de Leite com Vianna, que morreu em 2006, já vinha de algum tempo. O então presidente flamenguista já fizera seus jogadores entrar em campo no Estadual com faixas contra o desafeto.

Kleber Leite admite que a hipótese de fazer o Fla-Araçatuba era, no fundo, apenas uma jogada para atacar o rival e conseguir os seus interesses.

“Aquilo foi o seguinte: o Flamengo abandonou o Estadual do Rio de Janeiro. Não gosto de falar disso, porque a pessoa não está mais aqui. Tínhamos diferentes conceitos de vida. O Flamengo tomou a posição de não seguir naquele caminho. E começamos a procurar alternativas”, falou Kleber Leite ao UOL Esporte.

“Aí aventou-se essa possibilidade, não foi concreto, mas foi uma forma de pressionar. Não tínhamos como conviver com aquilo [Federação Carioca]. Tivemos relação com o pessoal lá de São Paulo, do Araçatuba, conversamos, foi interessante para a mídia. Foi uma sacudida para acordarem e levarem a sério. Criamos a possibilidade de disputar o Paulista, foi uma confusão danada, surtiu efeito e chamou a atenção”, continuou.

A hipótese era muito difícil de se concretizar, vide que não tinha apoio dos torcedores e não deveria ser aprovada pelo conselho do clube. Mesmo que fosse, Vianna poderia recorrer à CBF, com quem sempre teve boa relação, para barrar a aventura. O próprio Kleber Leite admite isso, mesmo dizendo que a ideia era “espetacular”.

“Falamos com o Farah, com o Araçatuba, e as pessoas estavam animadas com relação a isso. Nós teríamos apoio do clube e da Federação Paulista, seria um fato novo, espetacular, esse apoio nós teríamos. Mas era humanamente impossível, até porque o Flamengo era um clube do Rio. Mas foi um grande alerta, e o Campeonato [Carioca] de 1998 foi bem mais organizado.”

Apesar de a chance ser quase remota, os dirigentes agiam como se tudo pudesse acontecer. E até o uniforme “novo” do time, que teria que incluir a cor do Araçatuba, amarelo, foi imaginado.

“Lembro que na época se imaginou uma camisa ´meio de caminho´, com fundo amarelo e o vermelho e preto em cima. Foi um conjunto de hipóteses que não dá nem pra se ter ideia. Todo mundo pirou e começou a dar várias sugestões”, falou Leite.

Por fim, o Flamengo acabou entrando em acordo com a Federação Carioca em relação à premiação e moldes do campeonato. Acabou participando normalmente do Estadual de 98, que teve como campeão o Vasco.