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Homem de R$ 105 milhões, Lulinha deixa Corinthians de graça após 5 anos: "ainda tenho muito o que fazer"

Lulinha comemora gol no Pan-Americano de 2007, quando era a estrela da seleção - AFP PHOTO/Orlando KISSNER
Lulinha comemora gol no Pan-Americano de 2007, quando era a estrela da seleção Imagem: AFP PHOTO/Orlando KISSNER

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

04/12/2012 06h00

Foram quase 300 gols como atleta da categoria de base do clube. Artilharia de campeonatos como Taça São Paulo e em competições internacionais pela seleção brasileira sub 17. Cobiça de clubes europeus mesmo antes da profissionalização.

Isso tudo fez com que Luiz Marcelo Morais dos Reis, o Lulinha, virasse uma das maiores esperanças do futebol brasileiro. Ganhou status de joia rara no Corinthians e assinou contrato com multa de US$ 50 milhões (aproximadamente R$ 105 milhões).

Contrato que, depois de mais de cinco anos, se encerra no final de 2012. E não será renovado. Atualmente emprestado ao Bahia, Lulinha não foi procurado pela direção corintiana para a renovação. Pode ir para qualquer clube, de graça. Agora, aos 22 anos, busca um recomeço.

LULINHA ENTRE 2007 E 2012

  • Fernando Santos/Folhapress

    Lulinha corre ao lado do atacante Finazzi, em 2007, quando subiu para o profissional do Corinthians

  • Divulgação/Bahia

    Lulinha durante sua apresentação ao Bahia, quando chegou ao clube de Salvador no meio de 2011

“A gente sempre aguardava uma procura [do Corinthians], foi o clube que me revelou, que comecei. Mas foi complicado para o clube, investiram muito e infelizmente não houve o retorno que eles pensavam. Mas fui muito feliz e agradeço ao Corinthians. Infelizmente não teve renovação; agora é bola pra frente e procurar coisas novas”, falou.

O tempo que se fala sobre Lulinha até provoca espanto quando se comenta a atual idade. “Quando conto que tenho 22 anos, alguns me falam ´você está de brincadeira, né?”, diz, com bom humor.

Depois de muita expectativa, Lulinha subiu para o profissional do Corinthians em 2007, com 17 anos. Foi dado como solução para um time pobre tecnicamente que lutava contra o rebaixamento. Para muitos, seria o salvador. Caiu com o time.

O jogador procura sempre não culpar fatores externos por não ter chegado ao ponto esperado. Mas entende que a fogueira em que teve que entrar atrapalhou o desenvolvimento. “Com certeza subi de maneira precoce. Não de eu não estar em um mau momento, mas o Corinthians não passava um bom momento profissional, tanto de diretoria, como no campeonato. Subi em um momento difícil. O time não estava encaixando, e o menino sobe empolgado”, contou.

“Talvez fosse melhor dar uma segurada e subir em um momento mais estruturado, um time em um momento mais organizado. Isso acabou atrapalhando. Mas claro que também tenho minha parcela de culpa”, continuou.

Com jeito tímido e tranquilo, Lulinha diz que só o momento impróprio pode ser colocado como fator externo que interferiu. Não teve vaidade, balada ou falta de preparo psicológico em função de deslumbramento. Nem nunca sentiu possível boicote do time profissional por inveja de suas condições contratuais.

“Nunca teve nada disso. Sou um cara de família, meus pais me deram conselho. Nunca deixei subir pra cabeça. Futebol é fase. A fase do time [quando subiu pro profissional] não era nada boa. Os jogadores me ajudaram quando eu subi. O Betão, por exemplo, era um dos que mais conversavam com a gente”, falou.  

MOMENTO INADEQUADO

  • "Talvez fosse melhor dar uma segurada e subir em um momento mais estruturado, um time em um momento mais organizado."

Depois do rebaixamento, o jovem jogador fez parte do elenco que obteve o acesso da Série B para a Série A novamente, em 2008, e também das conquistas do Campeonato Paulista e Copa do Brasil de 2009. A ansiedade da torcida para que estourasse como grande craque continuava. Mas teve poucas chances ao ver a concorrência de nomes como Ronaldo, Jorge Henrique, Dentinho, Herrera e Souza, entre outros. Nesse tempo, ainda passou pelos portugueses Estoril e Olhanense.

Lulinha admite que foi difícil jogar com o imenso peso nas costas de ser considerado uma das maiores promessas do futebol brasileiro antes de se tornar profissional e conviver com a ansiedade externa para que estourasse de vez. “Foi difícil, muito complicado. Vivi momentos difíceis. Estava subindo para o profissional e foi complicado segurar esse rojão. Tem que estar com a cabeça boa. Isso atrapalhou muito.”

Este ano, Lulinha sofreu com lesões que o deixaram muito tempo de fora do time do Bahia. Fez cinco gols apenas o ano todo. Em 2011, havia feito o mesmo número em uma passagem mais curta, já que chegou só no meio do ano. Fez bons jogos pelo clube e virou um dos xodós da torcida e foi apelidado de “amuleto”.

“Sempre quando entrava nos jogos fazia aquela bagunça, e aí o pessoal passou a me chamar de amuleto. E pegou.  Falam bastante que quando eu entro, mudo a história do jogo. Pra mim foi uma experiência muito boa jogar no Bahia. Fomos campeões baianos, e é sempre importante para o jogador ter título. É uma torcida muito grande.”

Não diz se vai continuar no Bahia ou se pensa em jogar em outro clube do Brasil ou do exterior. Quer dar tempo ao tempo para esperar mais possíveis interessados e aí sim tomar uma decisão. “Estou esperando. Agora vou estar com passe livre e surgiram algumas propostas. Vou tomar a decisão mais para frente. Tenho 100% do meu contrato na mão, fica bom. Ainda tenho que analisar todas as propostas.”

PRESSÃO PARA RENDER O ESPERADO

  • "Vivi momentos difíceis. Estava subindo para o profissional e foi complicado segurar esse rojão."

O ainda jovem jogador se vê com muito potencial e se diz animado e esperançoso para o próximo ano. “Subi para o profissional com 16 anos. Ainda tenho muito o que fazer. Estou tranquilo e tenho o sonho de voltar a brilhar como brilhei na base. Não adianta o que fiz na base. A carreira vale mesmo depois do profissional. Estou motivado”, contou.

Para o prosseguimento da carreira ainda no início, Lulinha diz que precisa aprender e se aprimorar cada vez mais. “Sempre é bom trabalhar a parte técnica. Tem alguns fundamentos que vou bem, e outros que preciso aprimorar, como a finalização.”