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Santista revela festas 'open bar', calote no interior e prêmio gordo por bicicleta contra o Corinthians

Alberto ficou conhecido pelo belo gol de bicicleta marcado contra o Corinthians - Luiza Oliveira/UOL
Alberto ficou conhecido pelo belo gol de bicicleta marcado contra o Corinthians Imagem: Luiza Oliveira/UOL

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

30/12/2012 06h02

Alberto sabe que nunca foi um craque, mas está na lista dos queridinhos de uma torcida que tem Robinho, Neymar e Pelé como ídolos. Não é à toa. O ex-atacante do Santos conquistou o primeiro Campeonato Brasileiro do clube, em 2002, e ficou imortalizado por um golaço de bicicleta contra o Corinthians. Dez anos depois da conquista, ele relembra as festas ‘open bar’ na carreira, a pneumonia que pegou na Rússia e o prêmio gordo que recebeu pela façanha contra o maior rival.

  • Luiza Oliveira/UOL

    Alberto foi muito assediado na comemoração dos dez anos do título brasileiro de 2002, em São Paulo

O ex-jogador compareceu à comemoração dos dez anos do título do Santos em um bar da Zona Oeste de São Paulo. Foi o mais assediado pelos torcedores e mal conseguia dar entrevistas e conversar com seus ex-companheiros pelo alto número de pedidos de fotos e autógrafos.

O motivo era simples: o gol de bicicleta marcado contra o Timão no dia 3 de outubro de 2002 na vitória por 4 a 2 válida pela primeira fase do Campeonato Brasileiro. Alberto conta que, mais do que fama, o gol de lhe rendeu mais dinheiro que o Santos lhe pagava.

“O patrocinador do campeonato premiava com R$ 20 mil o gol mais bonito do mês, ganhei por duas vezes por causa de um gol de letra e o de bicicleta. Os R$ 40 mil quase já eram mais do que eu ganhava no Santos. Depois o gol foi selecionado como o mais bonito do campeonato e eu ganhei mais R$ 100 mil. Ganhei dinheiro no Patrocinador Futebol Clube jogando pelo Santos”, brincou.

PNEUMONIA E CALOTE NO INTERIOR

Após conquistar o Brasileirão-2002, Alberto saiu do Santos para defender o Dínamo de Moscou. Ele diz que passou dificuldades ao desbravar a Rússia, já que o mercado asiático ainda não era promissor como hoje. A pior delas foi uma pneumonia bacteriana que demorou 15 dias para ser descoberta.

O ex-atacante diz que contraiu a doença em um voo para Moscou após passar a pré-temporada na Turquia e enfrentar temperaturas próximas a -20ºC. O diagnóstico só foi feito na segunda etapa da pré-temporada na Espanha.

“Ninguém sabia o que eu tinha, fiquei 11 kg mais magro. A gente não sabe quando vai morrer, mas eu sabia que não era coisa boa. A febre não passava, não sentia gosto da comida. Fui descobrir na Espanha, o médico auscutou e descobriu. Me deu uma revolta. Lembrei de quando cheguei no clube e o técnico disse: ‘não gosto de brasileiro’”.

Mas a pior experiência enfrentada por Alberto no futebol foi já no fim da carreira no interior de São Paulo. Alberto se arrepende de ter aceitado o convite do ex-jogador Magrão para defender a Catanduvense na Série A-2 do Paulistão de 2010. Ele já havia encerrado a carreira e teve que se mudar com sua esposa e sua filha de dois anos do Ceará, onde moravam. Alberto até hoje não recebeu salários e entrou com uma ação na Justiça.

“Ele (Magrão) não me pagou, o Amaral jogou na seleção e também não recebeu. Eu tinha parado de jogar e aceitei. Hoje o cara vende jogador a R$ 3,5 milhões. Fiz questão de ligar para ele e perguntar: 'Agora você tem dinheiro?'. Ele respondeu ‘Desculpa, estou em uma reunião e depois te ligo’. Sei que nunca vai me pagar. Tive que passar por uma cirurgia no joelho, eles não pagaram e eu não tinha plano de saúde. Achei total falta de respeito”.

Apesar do alto dinheiro, não foi fácil marcar o emblemático gol. Alberto conta que por pouco não entrou em campo naquele dia porque o horário para o início da concentração dos jogadores foi alterado e ele não percebeu. Chegou muito atrasado e achou que seria cortado pelo técnico Emerson Leão.

“Nesse dia eu estava muito gripado, o horário mudou e eu não olhei o mural. O Robinho me ligou e eu achava que estava me sacaneando. Em seguida, o Diego ligou e eu falei ‘para de me sacanear, tenho que descansar'. Depois ligou o Pedro Santilli (auxiliar do técnico Emerson Leão) e aí vi que a batata assou”.

“Corri para chegar na frente, peguei a Imigrantes que estava toda parada. Fui para a Anchieta e cheguei 20h. Todo mundo já tinha jantado e o Leão estava na recepção. Só soube que ia jogar no vestiário. Depois do jogo ele disse que eu seria multado, mas até hoje não recebi. Só quis me assustar”, disse.

Alberto mora hoje com a família em Jundiaí, no interior de São Paulo, mas se divide entre Ponta Porã-MS e São José do Rio Preto-SP, onde tem duas franquias das escolas de futebol do Santos. Ele ajuda na formação de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos, ensina fundamentos e, principalmente, passa suas experiências boas e ruins adquiridas em mais de 15 anos de futebol.

Entre as mais marcantes estão as festas na época de atleta, as dificuldades enfrentadas no exterior quando defendeu clubes da França, Rússia e México, e a má experiência na Catanduvense onde ficou sem receber salários no fim da carreira.

“Quero servir de exemplo para a molecada que hoje ganha dinheiro muito fácil, as quantias que pagam são estratosféricas. E depois que para de jogar você some, ninguém vai te dar dinheiro, ninguém vai te dar salário, te convidar para festa. Balada para fazer aniversário e convidar todo mundo com whisky liberado, acabou. Uma vez eu fiz uma festa com sushi e sashimi, colocaram um atum no meio da festa, eram loucuras que a gente fazia e eu não faria de novo. Hoje eu quero ganhar dinheiro para saber o que fazer”.