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Técnico que peitou Romário lamenta efeito inverso em episódio da "janelinha" e tenta recomeço

Alexandre Gama, no comando do Fluminense do Campeonato Brasileiro de 2004 - Folhapress
Alexandre Gama, no comando do Fluminense do Campeonato Brasileiro de 2004 Imagem: Folhapress

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

10/01/2013 06h00

O sonho de se tornar treinador de uma grande equipe chegou em alta velocidade para Alexandre Gama. Depois de anos na categoria de base do Fluminense, em 2004, aos 37 anos, ele teve a chance de assumir o time profissional do clube durante o Campeonato Brasileiro.

Gama era tão jovem que havia um jogador mais velho que ele dentro do próprio elenco. Nada mais nada menos do que o hoje deputado federal Romário, uma espécie de manda chuva do time das Laranjeiras na época.

Então com 38 anos, o tetracampeão era titular intocável do time e há vários anos não sabia o que era esquentar o banco de reservas no futebol. Eis que sua idade avançada e pouca mobilidade em campo fizeram com que Gama o sacasse do time. A ousadia do treinador foi alvo da língua afiada do craque. “O cara mal chegou no ônibus e já quer sentar na janelinha”, falou o craque.

SUCESSO NA BASE DO FLUMINENSE

  • Folhapress

    Alexandre Gama chegou a conquistar dois títulos mundiais com o Fluminense nas categorias de base. Participou da subida para o time profissional de nomes como o lateral Marcelo, hoje no Real Madrid, e Arouca, no Santos. Em 2004, recebeu nas Laranjeiras a visita de Vanderlei Luxemburgo (foto)

A frase marcou a carreira de Gama, na época. E ele acabou perdendo a queda de braço com o craque e deixou a equipe tricolor. Depois disso, chegou a passar pela Inter de Limeira para depois voltar para as categoria de base do time carioca. Até se aventurar no futebol árabe, em 2006.

Passou quase sete anos fora do Brasil entre Emirados Árabes e Coreia do Sul, onde passou até pela seleção local. Agora, retorna ao Brasil para comandar o Madureira no Estadual do Rio de Janeiro. Se diz muito mais experiente.

“Foi maravilhoso passar por novas e diferentes escolas. Vi vários e diferentes tipos de treinamento. Foi muito importante. Aprendi mais na parte tática. Isso tudo vai me ajudar agora. Voltei muito mais experiente, apesar de estar novo e com apenas 45 anos”, falou Gama, ao UOL Esporte.

Apesar de dizer que o “sumiço” no exterior fazia parte dos seus planos de querer aprender, o técnico admite que a polêmica com Romário acabou por atrapalhar sua carreira. Ressalta que não tomou a atitude com intenção de ser visto como alguém corajoso, mas que isso foi pouco reconhecido.

Lembra que a divergência já superada com o tetracampeão rendeu uma imagem negativa e que acabou até por ofuscar sua campanha com o time das Laranjeiras. “Achei que ia ficar mais [uma marca positiva]. Não foi o que pensei e a repercussão que eu queria. Não fiquei marcado como um cara de personalidade. Acho que me atrapalhou e marcou negativamente. A minha performance como treinador foi melhor do que tudo isso. Peguei um time em 19º lugar, e terminamos em nono. E isso ninguém falava. Só falavam da polêmica. Acho que isso assustou algumas pessoas”, falou.

“O Romário hoje já não joga mais. Já nos encontramos e nos acertamos. Nos respeitamos. O que ele falou é do meio do futebol. Chamou atenção e vendeu bastante. Fez parte do aprendizado. Hoje me dou bem com ele”, afirmou.

Fã da disciplina no elenco, Gama diz que o jogador brasileiro mantém uma conduta de questionamento à hierarquia pelo estilo paternalista que se implementa no futebol. Por isso muitas vezes não aceita a reserva e questiona o treinador. Mas que quando o atleta atua fora do país, se comporta de outra forma.

“Acho que é cultural. O mesmo jogador que aqui questiona lá se sujeita a todas situações. Aqui questiona ficar no banco, não ser relacionado. Lá eles aceitam perfeitamente. O problema no Brasil é cultural. A imprensa questiona os jogadores e eles falam coisas que não é pra se falar. Aqui tem muito paternalismo. Lá [no exterior] é mais profissional nesse sentido. Acontece aqui por isso, por cultura. Mas mudou um pouco. Os clubes estão mais profissionais nesse sentido.”

O técnico agora espera fazer um bom trabalho e agarrar a nova chance para ser lembrado de vez no mercado nacional após o longo tempo no exterior. “As pessoas só acreditam no que veem aqui dentro e não no que você faz lá fora. Acho que agora é o momento para um grande salto da minha carreira. Se tudo correr bem, é a minha volta. Hoje a minha frustração é que sou respeitado e solicitado na Ásia, mas meu nome não é forte no Brasil”, disse.

“Quero ser lembrado como um bom nome. Fazer um bom Estadual e de repente ser lembrado por um time da Série A ou B do Brasileiro. Mas antes agradeço ao Madureira pela chance e ficarei feliz também com um bom trabalho de longo prazo no clube.”