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Perto do batismo europeu, Lucas elogia Felipão e avisa: "Não sou o único com responsabilidades no PSG"

"Quero formar uma boa parceria com o Ibrahimovic", disse Lucas ao UOL Esporte - KARIM JAAFAR/AFP
"Quero formar uma boa parceria com o Ibrahimovic", disse Lucas ao UOL Esporte Imagem: KARIM JAAFAR/AFP

Fernando Duarte

Do UOL, em Londres

11/01/2013 06h00

Algumas risadas mais nervosas no papo à distância são o único sinal de ansiedade que já seria natural em se tratando de uma expectativa de estreia mais corriqueira no mundo do futebol. São totalmente perdoáveis no caso de um jogador de apenas 20 anos, em sua primeira experiência numa equipe estrangeira e cuja contratação pelo Paris Saint-Germain representou a mais cara transação da história envolvendo um atleta brasileiro. Mas Lucas Moura, prestes a iniciar sua passagem pelo PSG na partida desta sexta-feira contra o Ajaccio, pelo Campeonato Francês, não parece o proverbial coelho assustado pelos faróis altos. O jogo começa às 18h (horário de Brasília) e terá acompanhamento pelo Placar UOL Esporte.

Nesse papo exclusivo com o UOL Esporte, o ex-jogador do São Paulo reconhece o peso especial envolvendo o momento de sua carreira, mas afirma que não pretende deixar que vire fardo capaz de dobrar joelhos. Lembra que não foi a única contratação expressiva da gestão dos investidores catarianos no comando do clube francês - ao mesmo tempo aproveitando para responder com humildade ao que muita gente viu como provocações do marrento atacante sueco Zlatan Ibrahimovic quanto este comentou sobre o investimento de 45 milhões de euros num jovem brasileiro -  e prefere encarar o desafio como oportunidade de crescimento pessoal e profissional. Especialmente no que diz respeito à disputa por uma vaga mais frequente de titular na seleção brasileira.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Expectativa da estreia
A expectativa é grande. Estou ansioso para jogar, para ver como é jogar num estádio tradicional como o Parc des Princes. Mas estou tranquilo e preciso sempre me tranquilizar para fazer bons jogos. Estou me adaptando bem ao clube e ajudou o fato de ter sido muito bem recebido pelo grupo. Vou me entrosando aos poucos, o importante é que fisicamente e tecnicamente estou me sentindo muito bem. Tenho tudo para fazer uma boa estreia.

Peso da contratação milionária
Na vida de um jogador de futebol sempre vai existir pressão. Por tudo que o que minha contratação envolveu, por ser a mais cara do futebol brasileiro, minha responsabilidade aumentou. Mas eu sempre fui muito tranquilo com esse tipo de coisa (desde o começo de minha carreira). Quando entro em campo, esqueço tudo o que está fora. Só que tenho que dividir minha responsabilidade com meus companheiros. O futebol é um esporte coletivo e eu não jogo sozinho. Quero entrar em campo para me divertir e fazer o meu melhor para mostrar a todos o prazer que tenho em jogar futebol. O momento é de esquecer valores de transferências. É assim que venho me dando bem na minha carreira.

A escolha do PSG
O Leonardo (diretor-técnico do PSG) foi peça-chave na negociação. Ele me convenceu a escolher o PSG. E desde 2011 me ligava, então já havia um tempo de conversa. Mas muita coisa ajudou na decisão final. A proposta do PSG foi melhor para o São Paulo e para mim e o fato de eu poder ficar no São Paulo até o final do ano contou bastante. Há jogadores brasileiros no clube, tudo isso me ajudou a decidir. Há também tem o objetivo do PSG, que quer ser um dos melhores clubes. Gosto disso, de desafios. Chego para ajudar. A experiência vai ser muito boa para meu crescimento como atleta e pessoa.

Brasileiros no PSG
Os brasileiros daqui são muito legais (o grupo inclui o companheiro de seleção Thiago Silva). Todo mundo gente boa. Estão me ajudando muito mesmo. Mas na verdade estou me dando bem com todo mundo do clube, só que com os outros a comunicação ainda é difícil.  Venho arranhando no espanhol e no inglês. O francês vou aprender logo, logo. Já conheci um restaurante brasileiro em Paris, o que é ótimo, porque já sinto falta da comida brasileira. A culinária brasileira não tem igual. Mas tenho que aprender um pouco da comida daqui também.

O encontro com ‘’Ibra’’
O primeiro contato com o Ibra já foi muito legal. Ele me tratou muito bem. Sinto que ele gosta de mim. Brincou bastante comigo desde o começo. A qualidade do cara já era impressionante quando eu o via pela TV e agora jogando ao lado dele dá para ter mais certeza ainda. O Ibra é forte e alto, mas tem uma qualidade técnica impressionante. Ele faz muitos gols e estou na expectativa de jogar ao lado dele. Quero formar uma boa parceria, ajudá-lo a fazer gols, mas fazer os meus também (risos).

Estilo de jogo francês
É bem diferente do Brasil. É mais corrido, disputado, com muitos toques curtos. Os campos aqui são bem mais lisos e a grama é mais curta. O frio faz com que a bola fique mais rápida e aí não tem muito essa de driblar, de partir para cima. É mais toque. Isso pode ser um ponto positivo para mim, pois vou aprender a soltar a bola mais rápido para usar minha velocidade. Será bom para o meu desenvolvimento.

Rodízio de jogadores
Tem isso na Europa. Ninguém quer ficar no banco, jogador quer sempre entrar em campo. Sou jovem, entendo numa boa que o treinador vai fazer a rotação dos jogadores, só vou fazer sempre o meu melhor para estar jogando. Sinto que isso depende muito de mim também, do meu momento. O rodízio pode ser bom também para prevenir lesões, ainda mais com esse jogo mais pegado aqui e no frio. Treino e jogo aqui é a mesma coisa, todo mundo chega junto e pega firme (risos).

Impressões de Paris
O que tenho a dizer sobre Paris é o que todos sempre me falaram: é uma cidade muito linda, encantadora, em cada canto tem um monumento diferente. É algo que chama a atenção. Estou curtindo curtindo. Ainda estou morando num hotel e procurando uma casa ou um apartamento. Não encontrei algo que gostasse. Mas tenho de ser paciente. O mais importante é que minha família veio comigo. Sem eles ficaria difícil, meus pais são importantes demais na minha vida.

O treinador Carlo Ancelotti
Ainda não conversei separadamente com o Ancelotti. Só conversei com ele quando cheguei a Doha (para a apresentação oficial). O Leonardo me apresentou a ele, o Ancelotti me tratou muito bem. Ainda é difícil a comunicação: ele fala um italiano enrolado com português para eu entender. Me falaram muito bem dele, que é um treinador muito amigo dos jogadores e isso é importante. Estou gostando dos treinos dele. São intensos, mas curtos.

Trote de novatos
Ainda bem que não teve trote nenhum (risos). Os colegas só meteram pressão em mim em Doha para eu cantar no hotel, mas minha sorte é que todos os jogadores estavam com as famílias no hotel do clube, então não teve nenhuma brincadeira. Se tiver agora vai ser melhor, pois já estou mais acostumado com o grupo. Bem no começo seria pior, não conhecia ninguém. Agora, se eles lerem essa entrevista vão querer que eu faça alguma coisa...  Melhor cortar essa parte (risos).

Oportunidades de crescimento
Vou crescer muito taticamente, evoluir. Sempre porcuro aprender fundamentos, como passe e chute, penso também em aprimorar minha perna esquerda. Vou aprender na marcação também. Taticamente, o futebol aqui é muito disciplinado, o treinador cobra muito isso. Mas eu já tinha essa característica de ajudar o time quando estava no Brasil. Aqui vou aprender muito mais aqui. Vou aprender a tocar no momento certo e partir para cima no momento certo.

Chances na seleção
Não apenas os jogadores estão na expectativa para a primeira convocação do Felipão e para esse primeiro jogo (o amistoso com a seleção inglesa, dia 6 de fevereiro, em Londres). Todo mundo no Brasil quer ver o novo trabalho. O Felipão é competente, é nome certo para a seleção. Ele trouxe a última Copa para a gente e tem tudo para fazer sucesso na seleção. Mas eu também quero fazer minha história e vou batalhar muito (por espaço). O PSG está em evidência no mundo pelo investimentos que fez e pelo time que montou. Então essa visibilidade poderá me ajudar.