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Lutadores de MMA e Felipão lideram ranking de cachês para palestras de esportistas

Luiz Felipe Scolari parte para a terceira Copa do Mundo de sua carreira como treinador - AFP PHOTO / YASUYOSHICHIBA
Luiz Felipe Scolari parte para a terceira Copa do Mundo de sua carreira como treinador Imagem: AFP PHOTO / YASUYOSHICHIBA

Paulo Passos

Do UOL, em Sâo Paulo

18/01/2013 06h00

Contratar palestras de esportistas já virou praxe em grandes empresas. Superação, liderança e definição de metas viram ensinamentos nas vozes de figuras conhecidas e admiradas pelos funcionários como Felipão, Bernardinho, José Roberto Guimarães e lutadores de MMA, como Júnior Cigano e Rodrigo Minotauro. O grupo, segundo o UOL Esporte apurou, lidera o ranking das palestras mais caras de esportistas brasileiros.

O valor só fica abaixo do cobrado por empresários, como Roberto Justus, e ex-ministros, casos de Henrique Meirelles e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Esses chegam a receber até R$ 100 mil.

RANKING DAS PALESTRAS

  • R$ 20 mil a R$ 30 mil

    Giovane, Marcio Atalla, Tande, Rogério Ceni, Robert Scheidt

  • R$ 30 mil a R$ 50 mil

    Cesar Cielo, Carlos Alberto Parreira, Bernardinho, José Roberto Guimarães, Tite, Vitor Belfort, Vanderlei Luxemburgo, Oscar, Mano Menezes

  • Mais de R$ 50 mil

    Luiz Felipe Scolari, Rodrigo Minotauro, Júnior Cigano, Gustavo Kuerten

    O modelo usado pelos esportistas palestrantes varia um pouco. Todas as conferências, porém, contam com relatos de passagens vividas pelos esportistas, exemplos de como vieram as vitórias e as lições tiradas das derrotas. Grandes empresas como Sky, Nextel, Net, Pão de Açúcar e Nestlé já contrataram treinadores e atletas. 

    “Trabalhamos com uma palestra padrão, mas antes de cada evento tentamos conhecer a empresa para saber para quem estamos falando e adaptar algumas coisas”, afirma Melissa Vlasic, da empresa Galeria de Esportes, que trabalha com Felipão, Bernardinho, Oscar Schmidt  e Cafu, entre outros. ”É claro que não pode faltar um tempo, cerca de meia hora, para perguntas e até para autógrafos”, completa. 

    Técnico da seleção brasileira masculina de vôlei, Bernardinho é visto pelas agências que trabalham no setor como um modelo. Na sua palestra, batizada “Excelência: Busca e Sustentabilidade”, que tem duração até de 1h30, ele fala de liderança, motivação, disciplina, perseverança e definição de metas, entre outros temas.

    “O que o tênis e o vôlei têm em comum com o mercado corporativo? Há uma rede que separa os oponentes, não há contato físico. Nada que nós fizermos vai impedir que o nosso concorrente consiga produzir. A única maneira de derrotar o oponente é sermos mais eficientes e ocuparmos espaços”, é uma das falas repetidas por Bernardinho em suas palestras.

    A todo momento, o técnico compara situações vividas nas empresas às que enfrentou na carreira. A palestra do treinador custa de R$ 40 mil a R$ 50 mil. O valor é semelhante ao cobrado pelo técnico da seleção feminina de vôlei, José Roberto Guimarães.

    Luiz Felipe Scolari, técnico da seleção brasileira, e Carlos Alberto Parreira, coordenador técnico da CBF, são nomes também requisitados no mercado. No caso de Felipão, o cachê cobrado é maior do que o dos treinadores de vôlei.

    “Os valores do futebol são sempre um pouco mais altos. O salário deles são maiores, vivem um mundo a parte. Isso reflete nas palestras”, afirma Renato Chvindelman, da Arena Sports, empresa que trabalha há 11 anos no mercado.

    FEBRE COMEÇOU NOS EUA

    • Segundo especialistas que trabalham no setor, o mercado brasileiros de palestras, apesar de já ter grande demanda e cachês volumosos, ainda engatinha na comparação com os Estados Unidos. Foi no país que os atletas começaram a ganhar dinheiro dando conferências ainda na década de 1980. Nomes como Michael Jordan e Magic Johnson (FOTO) cobram mais de US$ 100 mil (cerca de R$ 210 mil) por palestra.


    Nova febre no esporte brasileiro, o MMA, sigla em inglês para Artes Marciais Mistas, também já conquistou seu espaço no circuito de palestras. Júnior do Santos, o Cigano, e Minotauro já se aventuram no ofício. 

    “Os lutadores estão na moda. Eles falam sobre superação, são pessoas que têm histórias interessantes e a temática da luta é algo que chama muita atenção”, afirma Cristiana Nogueira, da agência Grandes Profissionais, que diz trabalhar com mais de uma centena de palestrantes.

    “Tem aumentado muito a procura. O Cigano gosta de fazer, falar da vida dele. Ele já falou para área de vendas e outros setores de empresas”, afirmou Vilsana Piccoli , empresária do ex-campeão dos peso pesados do UFC.

    As palestras são negociadas por agências que trabalham no mercado. Dificilmente uma empresa consegue exclusividade para “vender” as conferências. Os nomes mais consagrados, como Oscar Schmidt, Felipão e Bernardinho, são oferecidos por pelo menos cinco empresas. Eles prospectam possibilidades no mercado e depois oferecem aos clientes, cobrando comissões que variam de 15% a 20% do valor recebido pelo palestrante.  

    DUNGA E “O IMPORTANTE NÃO É PARTICIPAR”

    • Como técnico e jogador, Dunga ficou marcado pela competitividade. Vencer sempre foi o mais importante para o gaúcho de Ijuí. Nas palestras que dá, ele transforma isso em mantra. “O importante é participar e não vencer, dizem. Se isso é importante, por que tem o placar no jogo de futebol? Tem que vencer. Imagina se a gente vai fazer uma cirurgia e o médico chega dizendo que vai participar. Tem que estar sempre comprometido com o resultado”, diz o treinado do Internacional em suas palestras.

    HENRY KISSINGER, SEGUNDO BERNARDINHO

    • Em suas palestras, Bernardinho costuma repetir uma história, segundo ele, contada pelo ex-secretário de estado dos Estados Unidos Henry Kissinger. Quando era professor de política internacional na Universidade de Harvard, ele teve que avaliar a tese acadêmica de um aluno. “Quatro dias depois de receber o trabalho, ele devolveu e disse: tenho certeza que você pode fazer melhor. O aluno passou um mês trabalhando, fazendo novas pesquisas, aperfeiçoando e, então, entregou novamente o trabalho. Passaram-se quatro dias e Kissinger repetiu o discurso: olha, está bom, mas tenho certeza que você pode melhorar. O aluno, então, passou mais um mês aperfeiçoando. Ai o garoto fica desesperado, passa noites em claro e aperfeiçoa o trabalho. Um mês depois, chega exausto, depauperado e entrega o trabalho. O professor penalizado pergunta se esse é o melhor que ele pode fazer. O rapaz responde sim. Ah, então agora eu vou ler”, conta Bernardinho, arrancando gargalhadas do público. “O fato é que ele não se conformava com o limite pré-estabelecido pelo rapaz e queria que ele fosse além”, explica.

    “A LUTA VEM DESDE A FECUNDAÇÃO”, DIZ BELFORT

    • Atletas de MMA costumam concentrar suas palestras em temas como superação e competitividade. Vitor Belfort é um dos que mais fala sobre isso. “A maior luta que você enfrenta é para ser fecundado. São vários espermatozoides ali e você chegou primeiro naquele óvulo. A primeira coisa que você perde é o aconchego da mamãe, depois o seio, depois a inocência. E tudo é uma batalha. O grande problema é como você encara as suas batalhas. Você é um homem digno ou você vai usar as artimanhas. Eu levo isso na minha vida, lutar, mas com dignidade”.

    GARGALHADAS COM FELIPÃO E OSCAR

    • Do sisudo Dunga, passando pelo concentrado Bernardinho, ao às vezes ranzinza Felipão e o brincalhão Oscar, todos os esportistas que investem na carreira de palestrantes apostam num segredo para manter a atenção do público: arrancar gargalhadas dele. O humor está presente nas explanações deles. Oscar é talvez o que aposte mais nas piadas e histórias engraçadas para cativar o público. Luiz Felipe Scolari e Bernardinho ficam atrás, mas não muito. Na Palestra de Felipão, por exemplo, ele fala sobre a resistência que seu pai tinha para que ele seguisse a carreira de jogador de futebol. “Em 61 vocês podem imaginar o que era ser jogador de futebol? Parecia que estava escrito na testa preguiçoso, vagabundo, etc”, diz o técnico. “É, não está muito diferente da imagem de hoje”, completa, levando o público às gargalhadas.