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Desigualdade doméstica alimenta hegemonia da dupla Real-Barça entre os mais ricos da Europa

Cristiano Ronaldo e Messi simbolizam pujança econômica de Real Madrid e Barcelona - Andres Kudacki/AP
Cristiano Ronaldo e Messi simbolizam pujança econômica de Real Madrid e Barcelona Imagem: Andres Kudacki/AP

Fernando Duarte

Do UOL, em Londres (Inglaterra)

24/01/2013 10h03

Praticamente fora da disputa do título espanhol e com o Manchester United no caminho de uma batalha para sair de uma fila de 11 anos na Liga dos Campeõe, o Real Madrid ri por último fora de campo. Na edição de 2013 da lista de clubes mais ricos do mundo, compilada pela empresa de consultoria Deloitte, o clube espanhol não apenas é o campeão financeiro como ainda se tornou o primeiro da história a ultrapassar a marca de meio bilhão de euros de arrecadação em uma única temporada.

Segundo a Deloitte, o Real arrecadou 512,6 milhões de euros na temporada 2011/12, 33 milhões de euros a mais do que no período anterior. O clube pela oitava vez consecutiva  aparece na ponta do ranking, igualando o feito do United entre 1996 e 2004. O clube inglês registrou “apenas”’ 395 milhões de euros e fechou em terceiro lugar na lista, atrás do Barcelona,  que arrecadou 483 milhões de euros. Pelo quarto ano consecutivo, os dois gigantes espanhóis fazem a dobradinha.

Tal desempenho, porém, é alimentado por uma realidade bem menos pujante. Os dois gigantes espanhóis se beneficiam de uma desigualdade econômica em seu mercado doméstico que nas últimas temporadas tem empurrado vários competidores locais para o abismo. Só na Europa, por exemplo, Real e Barcelona já deixam para trás os competidores nas receitas de TV, por exemplo. A equipe madrilenha recebeu quase 200 milhões de euros pelos direitos de transmissão de suas partidas em 2011-12, ao passo que o Barcelona registrou 180 milhões de euros. O Manchester, por sua vez, não chegou a 130 milhões de euros.

Isso é fruto de a Liga Espanhola não forçar a venda conjunta dos direitos, ao contrário do que ocorre na Alemanha e na Inglaterra, o que liberou Real e Barcelona para negociar individualmente. Isso inflacionou os valores pagos aos dois principais clubes ao mesmo tempo em que reduziu o poder de barganha do restante das equipes. Enquanto ingleses e alemães têm distribuição mais equilibrada, na Espanha apenas Real e Barcelona concentram mais da metade do bolo de 600 milhões de euros dos direitos de TV.

E um efeito dessa desigualdade é o fato de que não há nenhum outro representante espanhol no Grupo dos 20. Quem chega mais perto é o Valencia, cujo faturamento total ( 111 milhões de euros) já é quatro vezes menor que o da dupla Real-Barça. Não se pode menosprezar que historicamente a dupla Real-Barça reino no cenário doméstico, mas o problema é que a concentração de renda tem não só forçado a concorrência a se endividar mais para tentar acompanhá-la como ainda desaqueceu um mercado já um pouco abalado pela situação econômica espanhola – na temporada passada, por exemplo, oito clubes estavam sem patrocínio de camisa.

A dívida geral dos clubes espanhóis passa de 3,5 bilhões de euros e seis clubes já tiveram que pedir concordata. O cenário de disparidade econômica torna ainda mais impressionante a campanha do Atlético de Madri na atual temporada espanhola. O clube está em segundo lugar, à frente de seu vizinho mais famoso e rico. Porém, são cada vez menores as possibilidades do Atlético evitar a saída de seu principal jogador, o colombiano Radamel Falcao, para um concorrente de mais peso financeiro, quiçá o próprio Real.

Já há distância até mesmo entre a elite europeia: o faturamento do Real Madrid é o dobro do Milan. É injusto, porém, dizer que Real e Barcelona se valem apenas do dinheiro da TV. Os direitos de transmissão respondem por 39% do faturamento do clube, mas os madrilenhos acenam com um poder comercial respeitável, tendo arrecadado 187,2 milhões de euros em 2011/12, o equivalente a 36% da arrecadação. Apenas as receitas em dias de jogos já batem na casa dos 126 milhões de euros. Mais do que tudo arrecadado pelo Corinthians.

O Barcelona registrou 186,9 milhões de euros e 116,3 milhões de euros nesses setores, respectivamente, com o marketing falando mais alto do que a TV. Ainda assim, a pressão para uma redistribuição de renda na Espanha tem aumentado a cada anúncio de pujança merengue e azul-grená.