Topo

Bailes de Carnaval e refúgio dos jogadores fazem do bairro Tatuapé a "casa do Corinthians"

Imagem do ginásio do Corinthians enfeitado para os bailes de Carnaval, febre nos anos 1960 - Reprodução/Arquivo Pessoal
Imagem do ginásio do Corinthians enfeitado para os bailes de Carnaval, febre nos anos 1960 Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

12/02/2013 06h00

Poucos lugares de São Paulo vivem tanto o dia-a-dia de um clube como o Tatuapé. Casa do Corinthians, o bairro recebe boa parte dos jogadores e dirigentes alvinegros em suas ruas e restaurantes, decide sobre o futuro político nos bares e relembra com carinho o auge de outrora dos esportes amadores. Uma relação construída durante anos e fortalecida à base de muita festa, nos tradicionais bailes de Carnaval do Parque São Jorge.

A história começa quando o Corinthians se instala na região. Na década de 1920, o clube fundado no Bom Retiro comprou o terreno onde hoje está instalado o Parque São Jorge. A zona leste, e o próprio Tatuapé, cresciam conforme as fábricas iam se instalando na região, acompanhando a linha do trem que hoje abriga a avenida Radial Leste.

O Corinthians não demorou a cair no gosto dos moradores, que passaram a frequentar as dependências do clube vizinho. Se o time de futebol defendia as cores do clube no central Pacaembu, os esportes amadores atuavam no próprio Parque São Jorge, e as disputas passaram a atrair os moradores do Tatuapé.

A década de 1960 foi o auge desse processo. O Corinthians montou uma seleção de basquete com Wlamir Marques, Rosa Branca e Amaury Passos, a base brasileira campeã mundial da modalidade em 1959 e 1963. Os jogos atraíam multidões e incentivavam os jovens do Tatuapé a praticarem esportes no clube.

Wadih Helú, presidente do Corinthians de 1961 a 1971, aproveitou o movimento para erguer o ginásio do Parque São Jorge. Foi então que surgiram os bailes de Carnaval do clube, um dos mais tradicionais da cidade e berço de marchinhas temáticas como “Coração Corinthiano”, composição de Manuel Ferreira e Rute Amaral.

“Eram os Carnavais das grandes orquestras, em que não cabia mais uma mosca no ginásio. Tinha um bloco formado por 50 casais. Todos do Tatuapé”, explica Claudio Alba, morador do bairro há mais de 50 anos, ex-assessor de imprensa do clube na década de 1980 e pesquisador da história do Tatuapé.

Hoje, o bairro conta parte de sua história na Casa do Tatuapé, mais antiga casa bandeirista da cidade, que foi transformada em pólo cultural nos anos 1980. Uma exposição sobre a Zona Leste explica, entre outras coisas, como a região se dividiu em duas.

Entre a parte a Marginal Tietê e a Radial Leste, estão situados o Parque São Jorge e a parte mais familiar do bairro, que ainda conta com suas casas térreas e ruas de comércio tranquilas. Na parte mais alta, condomínios de alto padrão e atrações como restaurantes, shoppings e casas noturnas atraem um público diferente do Tatuapé histórico.

Essa mudança de perfil encosta em outro ponto que explica a relação do bairro com o Corinthians. “Até a década de 1950, a maioria dos jogadores morava nas redondezas do clube ou até mesmo nos alojamentos do Parque São Jorge”, explica Fernando Wanner, assistente do departamento cultural do clube.

BARBARA BERLUSCONI E BRUNA MARQUEZINE MOSTRAM PÉS-FRIOS

Namoradas de Alexandre Pato e Neymar, respectivamente, as duas beldades foram ao Pacaembu e deram azar a Corinthians e Santos. Entenda a história aqui.

A proximidade criava situações inusitadas. Os moradores dividem relatos de convivência diária com ídolos do clube em padarias, bancas de jornal ou supermercados. “Eu sempre tomava café com o Rivaldo, que aparecia de chuteira na mão antes de treinar”, relembra Claudio Alba.

Com o passar dos anos, essa facilidade do encontro mudou. Wanner explica que hoje não é possível dizer que a maioria dos jogadores vive no Tatuapé. Alguns, como Ralf, Paulinho e Edenilson, ainda mantêm a tradição, mas o desenho hermético do bairro impede que o contato seja tão grande. Quem foge à regra é Tite, outro morador ilustre da região.

“Vou falar o que eu falei para minha esposa, voltando de um restaurante de um amigo nosso, que a gente gosta bastante. Eu disse: ‘Eu sou muito feliz aqui. Não concebo mais [a vida] de outro jeito’. O Tatuapé nos parece tão familiar. O cinema, a leitura, o chimarrão que a gosta de curtir, eventualmente um teatro, um passeio no parque”, disse Tite, em entrevista recente ao UOL Esporte, falando sobre sua adaptação à cidade.

Quem se aproxima do clube, porém, sente um clima efervescente como o do passado. Só que em vez de jogadores, encontram dirigentes. Andrés Sanchez, figura política importante do Corinthians nos últimos anos, por exemplo, reside em um dos grandes prédios recém-construídos nas adjacências do clube.

Como ele, outros conselheiros históricos do clube aproveitam o clima acolhedor de um bairro tranquilo para confabularem e fazerem política. É nos mesmos bares do distrito do Parque São Jorge, coração corintiano do já alvinegro Tatuapé, no entanto, que a torcida alvinegra explode em alegria ou tristeza a cada vitória ou derrota do Corinthians.