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Ignorado pelos 4 clubes grandes, Paulistão Feminino sobrevive graças à verba pública

Referência no feminino, Santos encerrou as atividades em 2012; Marta foi embora - Bruno Miani/ZDL
Referência no feminino, Santos encerrou as atividades em 2012; Marta foi embora Imagem: Bruno Miani/ZDL

Bruno Thadeu

Do UOL, em São Paulo

24/02/2013 06h00

O Paulistão dos homens ostenta atletas midiáticos e cifras milionárias. Alexandre Pato chegou ao Corinthians por R$ 40 milhões. Neymar fatura cerca de R$ 3 milhões por mês. Ganso, Emerson Sheik e Henrique são outras estrelas do torneio. A realidade do Estadual feminino é completamente diferente. Ainda sem data para começar, a competição entre mulheres não terá nenhum dos quatro grandes de São Paulo, sofre com a falta de patrocinadores e existe graças a verbas públicas.

As cinco principais forças do futebol feminino do Estadual são bancadas parcialmente ou inteiramente com dinheiro do contribuinte: Centro Olímpico (patrocinado pela prefeitura de São Paulo), São José (verba da prefeitura de São José dos Campos), XV de Piracicaba (prefeitura local), Botafogo (prefeitura de Ribeirão Preto) e Botucatu.

A Portuguesa conta com o suporte de patrocinadores para manter o feminino. Já o Juventus aguarda resposta de investidor para saber se levará time para o Paulistão.

“A gente já se acostumou a preparar equipes durante meses, ajudar meninas a vir treinar, mas sem saber se haverá campeonato ou mesmo se o time vai continuar existindo”, lamentou Emily Lima, que acumula as funções de técnica do Juventus e da seleção feminina de base, além de ser uma das principais incentivadoras da modalidade no país.

Desamparado, o futebol feminino tem custos irrisórios perto do gasto com elencos de times do masculino. As equipes que participarão do Paulistão Feminino têm folha salarial girando em torno de R$ 60 mil.

“O Botafogo oferece a estrutura, mas quem banca é a prefeitura”, esclarece Machado, técnico do time ribeirão-pretano.

Estadual sem os grandes e sem perspectiva de começo

Ignorado pelos clubes grandes, o Paulistão-2013, por enquanto, ainda é apenas um esboço. Ainda não há datas nem clubes definidos. A expectativa é de que a estreia ocorra em 28 de abril. A Federação Paulista de Futebol transferiu a organização do torneio para a SportPromotion.

“Sobram mulheres interessadas em jogar, mas o feminino não vinga porque falta apoio. Teremos uma Copa do Mundo, Copa das Confederações, e a expectativa é de que haja algum projeto por parte da Dilma para que incentive a participação de empresas no feminino”, declarou Fernando Gaz, diretor da SportPromotion.

A empresa será responsável pela logística (transportes, alimentação, hospedagem e outros custos aos times participantes).

No ano passado, o Estadual feminino ainda contava com o Palmeiras, mesmo que de fachada. Isso porque o clube apenas cedia o uniforme, pois todos os custos foram bancados por uma empresa, que decidiu encerrar as atividades com as mulheres.

DIRIGENTE DO PALMEIRAS DIZ SER INVIÁVEL APOIAR O FUTEBOL FEMININO

  • O diretor–executivo do Palmeiras, José Carlos Brunoro, é contra clube grande usar recurso próprio para bancar o futebol feminino.

    “Futebol feminino em grandes clubes sou contra. É inviável imaginarmos que toda a infraestrutura do masculino seja dada ao feminino. Passam a ser gastos bem maiores do que o poder de lucro”.

    O dirigente avalia que a modalidade no país deveria ser explorada em centros pouco explorados por times tradicionais, assim como ocorre no basquete.

    “Um clube do interior que quiser usar a marca Palmeiras para fortalecer o futebol feminino será bem-vindo desde que ele dê condições suficientes para tocar o projeto.

    “O futebol feminino em minha opinião tem que ser conduzido por universidades e governos. Usado como ferramenta de educação”.

Exemplo bem sucedido de mulheres com a bola, as Sereias da Vila, como era conhecido o time feminino do Santos, durante anos foram referências na modalidade. A equipe conquistou títulos importantes e teve como ápice a presença de Marta no elenco.

O núcleo feminino no Santos terminou em janeiro de 2012 sob o argumento de que o clube tinha outras prioridades financeiras.

“O que não aceito é dizer que não existem patrocinadores. O que falta é gestão. A visão dos dirigentes é de que se não há retorno imediato não interessa. Só que as Sereias [como era chamado o Santos] tinham cinco patrocínios. Isso é só uma demonstração de que basta estrutura e visão para se ter retorno com o feminino”, rebate Kleiton Lima, ex-treinador da seleção brasileira e das Sereias.

O Corinthians chegou a montar time feminino em 2008 na esteira da participação da seleção brasileira nas Olimpíadas de Pequim. Cristiane era a estrela do time alvinegro. Mas o projeto durou menos de um ano, encerrado após não ganhar título.

O São Paulo investiu no feminino no fim da década de 90, não levando adiante. Consultados pelo UOL Esporte, Corinthians, São Paulo e Santos informaram não haver projetos de reativar o futebol feminino.

ESTRELAS DA SELEÇÃO BRASILEIRA, CRISTIANE E MARTA DRIBLAM CRISE NO FUTEBOL PAULISTA E DEFENDEM EQUIPES DO NO EXTERIOR

  • Cristiane e Marta tiveram passagens por times grandes do futebol de São Paulo, mas atualmente defendem equipes do exterior. Ex-Corinthians, Cristiane deixou o São José-SP em janeiro para atuar no futebol sul-coreano.

    Eleita melhor jogadora do mundo por cinco vezes, a meia-atacante Marta é a estrela do Tyresö FF, da Suécia. A camisa 10 da seleção brasileira teve período vitorioso no Santos, onde conquistou torneios regionais, nacionais e Libertadores.