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Naldo credita sucesso a Ronaldo e Romário, e revela papo franco com Adriano

No topo do sucesso, Naldo posa no alto de um prédio de 30 andares, em São Paulo - Leandro Moraes/UOL
No topo do sucesso, Naldo posa no alto de um prédio de 30 andares, em São Paulo Imagem: Leandro Moraes/UOL

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

06/03/2013 06h03

Dois brincos de brilhantes, óculos escuros da grife Louis Vuitton, pulseira, três anéis grandes de ouro, e relógio no outro punho. Os acessórios são acompanhados por cabelo e cavanhaque milimetricamente cortados e o jeitão boleiro. Não fossem o sucesso estrondoso e os versos ‘uísque ou água de coco’, que não saem da cabeça, Naldo seria facilmente confundido com um jogador de futebol bem sucedido.

Não é à toa. O ‘FenomeNaldo’, como ele mesmo gosta de dizer, trocou os pés pelas cordas vocais, mas se reconhece em cada um dos profissionais da bola. Fala a mesma língua, como define um amigo, curiosamente, cunhado do ex-atacante Ronaldo. “Vocês representam a mesma parada, só que você na musica, e os caras no futebol”.

O Fenômeno encabeça uma lista de ‘parças’ íntimos e ilustres que inclui Neymar, Emerson Sheik, Romário, Adriano, Ronaldinho Gaúcho, Ibson e Léo Moura. Muito do sucesso do autor do hit "Amor de Chocolate" é creditado aos amigos famosos.

Não sou do tipo de torcedor corneta. Já acompanhei alguns dias de treinamentos dos caras. Falei: ‘tá doido’. Na praia, treinando em um calor de 40 graus no Rio de Janeiro e fazendo circuito. Meu irmão, os caras ganham é pouco. Treinar no frio, treinar no sol, que isso?

Naldo, defendendo os salários dos astros do futebol brasileiro

Ronaldo e Adriano, por exemplo, tiveram papel fundamental no início. Quando ainda defendiam Real Madrid e Inter de Milão, respectivamente, declararam serem fãs do funkeiro em rede nacional, o que credenciou o cantor a aparecer pela primeira vez no programa global Domingão do Faustão. “A gratidão que tenho é difícil até de explicar. Eles sabem disso”, conta.

Ronaldinho Gaúcho foi protagonista de outro capítulo mais recente, mas não menos importante na gravação do DVD “Naldo na Veia”, que marcou a alavancada em sua carreira no Brasil. Da cochia, foi a única pessoa de fora da família a participar da roda de oração, e mandou vibrações nos momentos de expectativa e ansiedade que antecederam a subida ao palco.

Já Neymar faz papel de ‘amigo marketeiro’ ao divulgar fotos e letras de músicas em redes sociais, assim como Emerson Sheik que se derrete em declarações de amor para o amigo.

Como em qualquer amizade verdadeira, Naldo retribui o carinho. Adriano é quem mais precisa de atenção. O cantor costuma conversar com o amigo que sofre com problemas particulares e profissionais e completou, nesta quarta-feira, quatro meses de desemprego após se desligar do Flamengo.

PAIXÃO E LOUCURA PELO FLAMENGO

  • Leandro Moraes/UOL

    Além dos amigos boleiros, a paixão pelo Flamengo une Naldo ao futebol. Torcedor de arquibancada, o cantor revela que já fez até loucuras pelo time do coração. A maior delas foi quase dar 'perda total' em um carro por colocar 15 pessoas sobre o capô e o teto na comemoração do título carioca de 2001, quando Petkovic marcou um gol de falta no fim do jogo contra o Vasco e garantiu a conquista.

    "Que loucura! Eu tinha um Logus (carro lançado na década de 90). Quando o Pet fez aquele gol de falta, botei mais de 15 pessoas e uma bandeira do Flamengo em cima do carro e acabei com ele. Por pouco não deu perda total. O carro abaixou, o teto, o capô e o porta-malas caíram. Amassou inteiro, acabei com a buzina, e não estava nem aí. Saí vibrando, zoando, rodando na Vila do Pinheiro e fazendo festa a noite inteira. Tive que lanternar, pintar, reformar o carro todo".

    Se a comemoração deu dor de cabeça, o Flamengo também já garantiu alguns dos melhores momentos da sua vida. Sua maior diversão com o filho Pablo era levá-lo às arquibancadas do Maracanã. Hoje, isso não é mais possível devido à fama.

    "É o nosso momento, é único, de maior diversão. O que a gente mais gosta de fazer. Tive a felicidade de ver o Flamengo campeão em cima do Botafogo três vezes. Quando eu ia, a gente ganhava. Sempre a dupla foi quente. No gol do Flamengo, a gente via os caras dando cambalhota no chão sujo e fazia igual. Gritava, xingava, falava palavrão...".

Ele revela um papo franco e sem pudores, em que incentiva a fé. O cantor, assim como a mãe do Imperador, é evangélico. “Sempre que estive junto conversei muito abertamente. Falava ‘bicho, a gente sabe que é cercado de energia estranha. Você tá ligado que sua mãe tem a mesma cabeça que a minha, então vamos ficar antenados com isso’. Eu perguntava se ele pelo menos tentava dar uma ida à igreja e orar. Falo a mesma língua, sem muito não-me-toque, acho que posso ajudar”.

Os bons momentos também são compartilhados. Naldo gosta de estar presente. Costuma ser convidado pelos amigos para visitar a concentração do Flamengo e, principalmente, para as festas após os jogos. Ele comanda o som das festas que Ronaldinho Gaúcho promove em sua casa, e das baladas que Romário frequenta.

“Normalmente não vou antes dos jogos, sempre depois. Como tenho meu momento de concentração antes do palco, acho que esse é o momento do cara se encontrar. Tem gente que se concentra dormindo e quer ficar no silêncio, outros querem ouvir a música que mais gostam, procuro respeitar”.

O estrondoso sucesso, porém, tem tornado os encontros mais raros. Naldo prioriza sua rotina intensa de entrevistas, participações em programas de TV, viagens e shows. Durante a conversa com o UOL Esporte no 30º andar de um prédio no restaurante The Week, em São Paulo, respondeu a todas as perguntas com atenção.

Só se dispersou para tentar acessar a internet em seu celular, e postar uma foto da bela vista da cidade antes que acabasse a bateria. Ele quebrou o carregador de seu iPhone 5 na noite anterior ao tentar desconectá-lo da tomada, ainda atormentado pelo sono.

Naldo também fez, calmamente, poses para os fotógrafos, e até se arriscou ao se pendurar em um parapeito a 100 metros do chão. Uma vida glamourosa após a infância humilde.

É justamente da pobreza na comunidade carioca Vila Pinheiro, Complexo da Maré, que ele explica a ligação com o mundo boleiro. “Toda criança de uma classe menos favorecida sonha ser cantor, famoso ou jogador de futebol bem sucedido. É uma maneira de ter crescimento na vida. Isso é muito próximo da gente. Todo jogador de futebol queria ser cantor, e vice-versa”.

Naldo não era uma exceção à regra. Flamenguista doente, tinha o sonho de conquistar os gramados do mundo, inspirado pelas jogadas geniais do ídolo Zico, e pelas Copas do Mundo de 1986 e 1990. Mas foi o basquete que acabou dividindo sua atenção com a música.

Fã do Miami Heat e orgulhoso por ter conhecido as estrelas da NBA LeBron James e Tony Parker, Naldo queria ser pivô, mas a altura de 1,86m só permitiu a função de armador. Observado por um olheiro, foi ‘federado’ para defender o Fluminense, mas o nascimento do filho Pablo, a necessidade de ganhar dinheiro e a paixão pela música falaram mais alto.

Pablo é muito presente na vida do pai: até no corpo, com o nome tatuado na perna. Citado várias vezes na entrevista, o garoto de 15 anos se tornou a única esperança de um atleta na família, já que o irmão Lula, com quem fazia dupla e chegou a jogar profissionalmente pelo São Cristóvão, foi assassinado.

Naldo incentiva o herdeiro a ser jogador de futebol e conta até com a ilustre ajuda do pivô brasileiro Anderson Varejão, do Cleveland Cavaliers, para que o menino, quem sabe, faça carreira no basquete. Mas, por enquanto, Pablo se nega a seguir os conselhos do pai, e prefere seguir seus passos.

“Eu o levei para o São Cristóvão quando tinha onze anos, depois para a Portuguesa e o Flamengo. Sempre incentivei, mas nunca forcei. Ele joga bem, é muito habilidoso. Se quisesse tentar o basquete, seria uma boa porque está bem grande. Tenho alguns amigos, até mesmo ‘da gringa’, que querem ajudar. Eu e o Varejão já botamos uma pilha, mas hoje ele curte a questão de iluminação e já me acompanha nos shows”.

CONSELHOS A ADRIANO: "PESSOAS DO MAL O CERCAM"

  • Alexandre Vidal / Fla Imagem

    "Ele é sensacional e muito humilde. Até pela maneira bem natural de ser, às vezes acaba não se preocupando muito com algumas coisas. Infelizmente existem pessoas do mal que acabam causando um resultado negativo para ele. Pessoas que o cercam. Eu acho que é isso. Torço para que consiga sua recuperação. Eu acho que ele precisa de ajuda. Não sei como está a cabeça dele agora. Mas eu acho que ele tem a força da família, pessoas que são evangélicas e eu entendo bem esse lado. Sempre que estive junto tentei conversar muito abertamente."

HOMENAGENS DE NEYMAR E DECLARAÇÃO DE AMOR DE SHEIK

  • AgNews

    "O Sheik fez a dança de 'Amor de Chocolate', o Neymar também. O Neymar é um cara que fiquei espantado por ele postar as coisas no Twitter e no Instagram, além das letras da minha música. E o Sheik no Carnaval foi 'do caramba'. Falaram para ele como seriam os camarotes na Sapucaí, ele perguntou sobre alguns e falaram que eu tocaria em um deles. Ela falou que nem queria saber dos outros. Chegou lá gritando 'eu te amo, eu te amo', porque ele fala assim comigo. A gente acabou ficando muito próximo. Ele me deu a camisa do Corinthians e falou que a torcida do Flamengo ia brigar comigo. Eu falei que sou Flamengo o Rio, mas aqui sou Corinthians".

ORAÇÃO COM RONALDINHO GAÚCHO ANTES DE GRAVAÇÃO DE DVD

  • Marcus Desimoni/UOL

    "No dia em que fui gravar meu DVD no Citibank no Rio, ele foi uma das únicas pessoas que recebi no camarim junto com a minha família antes de entrar no palco. Eu lembro que ele estava abraçado comigo e gritando 'É agora! É agora! Vamos embora! Essa é a hora, vão bora!'. Me senti em uma final de Copa do Mundo. Segundos antes, eu olhava para o Ronaldinho, meu pai e minha mãe abraçados comigo mandando uma energia muito forte, vibrando. Aquilo foi inesquecível. Hoje chego na casa dele, nem de chinelo eu fico, fico descalço porque ele fala 'aqui é nossa favela. Aqui a gente fica do jeito que a gente quiser'."

A AJUDA DE RONALDO NO INÍCIO DA CARREIRA

  • Reprodução/Instagram

    A gente estava cantando em uma festa e tinha um cara da Globo. Ele viu o Ronaldo, que já era nosso fã, dançando e cantando junto com o Adriano. O cara perguntou se ele teria coragem de falar isso no programa do Faustão. Ele topou e gravaram na casa deles um depoimento. Foi a primeira vez que eu e meu irmão fomos ao programa. Sou muito grato. A gente ficou bem amigos de frequentar a casa do outro. A mãe dele gosta muito de mim, o pai, o irmão, todo mundo. Quando ele está no Rio, me sinto em casa. Tenho uma admiração pela história de superação dele que me inspira. E o nosso nome. Acho que Ronaldo é um nome forte, de guerreiro.

FESTAS NA CASA DE ROMÁRIO

  • Reprodução/Instagram

    "O Romário vive em Brasília. Quando eu chego em lá, ele me busca no aeroporto, me leva para jantar, para a casa dele. Ele fez uma festa na casa dele de inauguração só entre amigos, para um grupo bem seleto e ele foi me buscar no aeroporto para ir à festa. Romário é um cara que eu tenho um carinho grande."