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Kia tenta livrar Boris e aponta outro russo como cabeça da MSI/Corinthians

Kia Joorabchian em 2006, no auge da parceria, participando do programa Altas Horas - Rubens Cavallari/Folhapress
Kia Joorabchian em 2006, no auge da parceria, participando do programa Altas Horas Imagem: Rubens Cavallari/Folhapress

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

12/03/2013 06h00

Após cinco anos de investigação, Kia Joorabchian disse em depoimento à Justiça Federal que Rafael Filinov, empresário russo conhecido em seu país de origem pela ligação com Boris Berezovsky, é o real investidor da parceria MSI/Corinthians. No tribunal, a defesa do iraniano alega que o dinheiro aportado tinha origem legal e, por isso, a acusação de que houve lavagem de dinheiro e formação de quadrilha é incorreta. Os responsáveis pelo inquérito, no entanto, não estão convencidos da teoria.

Os advogados de Kia Joorabchian, Boris Berezovsky e Paulo Angioni, três dos oito acusados no processo, foram consultados sobre Filinov, mas nenhum pôde confirmar as informações por conta do sigilo judicial (leia aqui mais informações sobre o caso). Nos bastidores, porém, a reportagem apurou o nome do empresário e também toda a alegação da defesa, que sonha com a absolvição de todos os réus.

Alberto Dualib, ex-presidente do Corinthians e outro réu do caso, ainda confirmou ter sido questionado sobre Filinov em seu depoimento, dado em janeiro deste ano.

“Fui ouvido e repeti tudo que havia dito da primeira vez. Eles me perguntaram, mas eu disse que não conhecia esse Rafael Filinov”, disse Alberto Dualib, em entrevista ao UOL Esporte há pouco mais de uma semana.

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Esta foi a primeira vez que o nome de Rafael Filinov apareceu nas investigações, que começaram quando a parceria ainda estava em vigor – ela foi encerrada em 2007. O russo, de acordo com o que a defesa de Kia Joorabchian apresentou no Tribunal, teria sido o homem por trás dos investimentos que levaram Tevez e Mascherano ao Corinthians, entre outros jogadores.

Filinov foi arrolado como testemunha por Kia Joorabchian e prestou depoimento da Rússia, no ano passado. No tribunal, a defesa do iraniano alegou nunca ter podido falar o nome de Filinov por conta de um contrato de confidencialidade existente entre as partes, que teria sido assinado na Inglaterra.

Por medo das consequências, Kia teria optado por aguardar o próprio Filinov revelar-se como o investidor para depois explicar como a operação era feita. Segundo a dupla, os valores investidos tinham origem legal, e vinham de negócios do russo em seu país natal. Isso anularia a acusação de lavagem de dinheiro e, consequentemente, a de formação de quadrilha.

Só que a versão não foi bem aceita entre os promotores envolvidos no caso. Um deles falou à reportagem e preferiu não se identificar, mas argumento que, sob juízo, Kia poderia ter revelado antes o nome de Filinov, poupando alguns anos de investigação.

A defesa diz, em juízo, ter como provar que o dinheiro de Rafael Filinov era legal, o que derrubaria a tese dos promotores de que houve lavagem de dinheiro e formação de quadrilha e inocentaria todos os envolvidos. A acusação, por sua vez, entende que Filinov pode ser um laranja apresentado pelo grupo para acobertar os reais culpados, especialmente Boris Berezovsky, principal suspeito de ser o mentor do esquema.

  • WILLIAM VOLCOV/BRAZIL PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

    A Justiça Federal decidiu, no último fim de semana, manter suspenso o patrocínio da Caixa Econômica Federal ao Corinthians. Segundo o próprio tribunal, o desembargador federal Cândido Alfredo Silva Leal Júnior avaliou que o banco não poderia escolher um único clube a patrocinar, e por isso manteve a decisão inicial de suspender o contrato até que o mérito do caso seja avaliado.

    “Existiam outros meios menos arriscados de patrocínio esportivo pela Caixa que não afrontassem tanto o princípio da impessoalidade, como prometer R$ 31 milhões apenas para o clube de futebol profissional mais rico do Brasil”, disse Leal Júnior, segundo o site do Tribunal Federal da Quarta Região, onde o recurso da Caixa foi avaliado. Leia mais

Filinov hoje é um dos donos de uma galeria de arte em Moscou, mas já foi sócio de Boris Berezovsky em alguns empreendimentos, e também é investigado por envolvimento com negócios ilegais que envolvem diferentes setores, entre eles a mineração. A relação próxima, argumenta um promotor, poderia implicar o próprio Boris como culpado, estabelecendo uma relação de responsabilidade parecida com aquela usada para condenar o político José Dirceu no caso do mensalão, julgado há alguns meses no STF (Supremo Tribunal Federal).

Na época da parceria, Boris chegou a se reunir com dirigentes do Corinthians e com o próprio Kia Joorabchian em algumas oportunidades. Mesmo assim, todos os envolvidos no processo são unânimes em dizer que ele nunca teve interesse em investir no futebol, mas gostaria, sim, de estabelecer acordos com empresas brasileiras de outros ramos, especialmente estatais.

Em 2008, no entanto, Boris Berezovsky entrou em uma disputa judicial com a família do georgiano Badri Patarkatsishvil. Depois da morte de Badri naquele ano, Boris reclamou direitos sobre os espólios do grupo MSI, revelando uma ligação que sempre foi negada nos tribunais. Ciente do assunto, a Justiça brasileira acompanha o processo que corre na Inglaterra e aguarda o depoimento do russo.

Residente em Londres, Boris deve prestar depoimento da Inglaterra nas próximas semanas. A palavra do empresário pode ser decisiva para a acusação no Brasil, que ainda não está convencida de que Rafael Filinov é, de fato, o mentor e o mecenas da parceria entre MSI e Corinthians.