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Corinthians vai atrás de dinheiro por Lucas, do PSG; entenda como funciona a regra

Hoje no milionário PSG, o meia-atacante Lucas pode render dinheiro ao Corinthians - REUTERS/Fadi Al-Assaad
Hoje no milionário PSG, o meia-atacante Lucas pode render dinheiro ao Corinthians Imagem: REUTERS/Fadi Al-Assaad

Luis Augusto Simon

Do UOL, em São Paulo

14/03/2013 13h00

Corintiano fanático, o advogado Ivandro Sanches tem várias gravações dos últimos momentos da carreira de Lucas no São Paulo. O material contém declarações emocionadas do atacante, quando, já de saída do clube, relembra os momentos iniciais da carreira.

Mas, entre as juras de amor ao São Paulo, Lucas diz que, quando aos 12 anos pegava ônibus para treinar no Corinthians, nunca poderia imaginar que um dia passaria a jogar na Europa.

Ivandro não virou casaca por causa de Lucas. Mas ele vibra com o jogador confirmando que passou pelo Corinthians quando tinha 12, 13 anos. A “confissão” pode ser utilizada para ratificar que o Corinthians, cliente de Ivandro, fez parte da formação de Lucas, o que garantiria ao clube R$ 540 mil reais, referentes a 0,5% dos R$ 108 milhões arrecadados pelo São Paulo.

Veja abaixo alguns casos de como o mecanismo de solidariedade funcionou:

“Temos as declarações do Lucas, mas não é só isso. Estamos buscando e já conseguimos documentação que comprova a participação de Lucas em competições oficiais defendendo o Corinthians”, diz Ivandro. “São súmulas de partidas de dente de leite e fraldinha em campeonatos pela Associação Paulista de Futebol que organiza esses campeonatos. O Corinthians foi o primeiro clube formador de Lucas e merece essa quantia que estamos requerendo”, afirma o advogado.

O Corinthians se baseia no documento “Regulations on the status and transfer of players” (Regras de status e transferências de jogadores, em tradução livre) da Fifa, uma resolução de 2003. É o mecanismo de solidariedade, criado para defender os clubes formadores de atletas. Ele garante parcelas da venda de um jogador ao exterior ao clube formador.

 

Um fator que poderia facilitar a vida do Corinthians seria um registro da FPF (Federação Paulista de Futebol). A entidade diz que não possui documento algum que vincule o meia-atacante ao time do Parque São Jorge em seus arquivos. 
 
Ao comprovar seus direitos sobre Lucas, o Corinthians não diminuirá o lucro do São Paulo. O dinheiro é pago pelo PSG, que contratou o jogador para esta temporada.

A lei é progressiva e paga aos clubes formadores que estiveram com o jogador desde os 12 até os 23 anos. As porcentagens aumentam. Dos 12 aos 15 anos, é de 0,25% e dos 16 aos 23 anos é de 0,5%. As contas são proporcionais ao número de dias que o atleta esteve em um clube durante um ano. Se ficou, por exemplo dos 12 aos 16 anos, mas saiu com 73 dias do 16º ano, o clube recebe 0,25% + 0,25% + 0,25% + 0,25% além de 20% (73 dias) dos 0,5% referentes ao 16 ano, o que significaria 0.1%.

As porcentagens são pequenas, dificilmente um clube chega a ter os 5%, o máximo que o mecanismo garante, mas os valores são muito altos. Em setembro de 2012, Hulk foi vendido do Porto, de Portugal, para o Zenit, da Rússia, por 60 milhões de euros, o que ocasionou uma corrida dos “formadores” do atleta. Hulk foi levado por um empresário ao Vilanovense, time português, com 17 anos, voltou a Brasil e jogou por seis meses no São Paulo, antes de transferir-se para o Vitória, passar para o futebol japonês e desembarcar no Porto.

Esses seis meses em que jogou no São Paulo renderam ao clube 0,20%, ou 120 mil euros, aproximadamente R$ 320 mil, ou seja, o salário mensal de um dos astros do time.

Kaká, do São Paulo, e Willian, do Corinthians, são bons exemplos da importância do mecanismo de solidariedade. O São Paulo “formou” Kaká dos 12 aos 20 anos, o que lhe garantiu 3,5% dos 65 milhões de euros que o Real Madrid pagou ao Milan em 2009 pelo jogador. São 2,28 milhões de euros, quase 30% do que o clube recebeu (8,5 milhões de euros) pela venda ao Milan, em 2003. 

O Corinthians vendeu Willian ao Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, por aproximadamente R$ 37 milhões e, como tem direito a 3% do jogador por ser clube formador, recebeu mais R$ 3 milhões agora que o Shakhtar vendeu o meia por 35 milhões de euros ao Anzhi, da Rússia - 10% de lucro.

Escritórios brasileiros fazem, através de acompanhamento diário no sistema de transferências online da Fifa, um trabalho de perdigueiros rastreando transferências. Alguns atuam diretamente com determinados clubes e outros, ao descobrirem uma transação buscam clubes formadores, que muitas vezes nem sabem do que têm direito, e oferecem seu trabalho para recebimento das porcentagens, que sempre são pagas pelo clube comprador.

Um trabalho que rende muito dinheiro e que é feito de forma discreta. Carlos Miguel Aidar, do escritório Aidar Sbz e conselheiro do São Paulo, por exemplo, é enfático quando se trata de falar sobre números. “De jeito nenhum eu digo quanto o São Paulo conseguiu este ano ou em ano algum.. Isso é sigiloso, não interessa a ninguém”.

A CBF, em julho de 2011, criou também o seu mecanismo de solidariedade para transações nacionais. Ao contrário da Fifa, as porcentagens são maiores para os anos iniciais da carreira. Garantem 1% dos 14 aos 17 anos e 0,5% dos 18 aos 19 anos.