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Ao contrário do Brasil, clubes europeus se aproximam de torcida para conter violência

Hooligans da Polônia depredam estádio após partida da Copa da Polônia - REUTERS/Krzysztof Szatkowski/Agencja Gazeta
Hooligans da Polônia depredam estádio após partida da Copa da Polônia Imagem: REUTERS/Krzysztof Szatkowski/Agencja Gazeta

Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo

16/03/2013 06h00

Quando ocorrem casos de violências de torcida no Brasil, os clubes nacionais tendem a se afastar e cortar relações com as organizadas responsáveis pelos incidentes, como ocorreu com Palmeiras e Corinthians. A tática na Europa é oposta. A Uefa (União Europeia de Futebol) impôs a criação de um canal de comunicação entre times e fãs justamente para minimizar agressões e confrontos.

Para esta atual temporada, 2012/2013, a Uefa tornou obrigatória a criação pelos clubes do "Escritório de conexão com os torcedores". O objetivo desse departamento é servir como um canal de comunicação entre fãs e as diretorias dos times. Assim, dirigentes e a polícia conhecem melhor a torcida e podem tomar medidas preventivas para evitar problemas de segurança.

É uma reprodução do que já ocorre com os clubes alemães. O futebol germânico era afetado por brigas e hooliganismo nas décadas de 70 e 80. Em 1992, entre outras medidas, tornou-se obrigatória para as agremiações a criação de um departamento para lidar com os fãs. Houve uma redução nos níveis de violência no futebol no país nos últimos 18 anos.

Pelo modelo proposto pela Uefa, o clube tem que contratar um profissional - de preferência um genuíno torcedor do time - para estabelecer um canal de comunicação entre as duas partes. Ele lidará com ultras e holligans, e também com os dirigentes do próprio clube. A ideia é que este funcionário atue de forma equilibrada entre os dois lados.

Do lado da torcida, ele ouvirá reclamações e reivindicações dos torcedores, que serão levados para os cartolas. E também tentará conhecer de forma mais ampla possível os fãs, desde os mais ativos aos eventuais. Assim, poderá identificar pontos de tensão e onde podem surgir problemas. 

Do lado dos dirigentes, esses terão de ter reuniões regulares com o seu departamento de torcedor e terão de usar esse canal como comunicação preferencial de suas decisões com os fãs. E terão de levar em conta a opinião dos fãs quando forem tomar decisões sobre preços de ingressos, mudanças em setores de cadeiras ou horários de jogos.

O departamento de torcedores atuará como mediador, por exemplo, quando um pessoa causar confusão e for sofrer uma punição por banimento. É lá que o infrator será ouvido. Também funcionará como fórum de discussões para determinar itens como o lugar onde poderá haver coreografias, pessoas em pé ou venda de ingressos.

"Evidências mostram que, se os fãs são ouvidos na forma como são tratados, eles vão se comportar melhor, enquanto exclusão e repressão demonstraram não funcionar bem", afirma o guia da Uefa para o relacionamento com torcedores. "Fãs que se auto-regulam são sempre a melhor forma de prevenção."

Os escritórios de torcedores também têm como incumbência estabelecer conexões com departamentos similares de outros clubes. É assim que se estabelece uma rede de informações a ser fornecida para a polícia para o esquema de segurança de partidas com torcida visitante. É importante ressaltar, porém, que setor dos fãs deve funcionar separado da área de segurança do clube.

"Eu tenho uma relação direta com os fãs. Posso me familiarizar com sua estrutura. Posso promover uma melhor relação entre ultras, holligans e polícia", explicou Volker Füderer, agente de segurança do alemão Schalke 04, ao site da Uefa. Ele ainda ressaltou que o canal de relacionamento com torcedor só funciona na prevenção. Caso ocorra um problema, uma confusão, são policiais e seguranças quem assumem o caso.

Como esse é o primeiro ano de implantação do escritório de torcedores na Europa, ainda terá de se esperar para saber qual o efeito que a medida terá sobre a violência no continente. É fato que alguns lugares, como a Alemanha, já tiveram resultados positivos com esse tipo de solução.

No Brasil, não há um sistema estruturado e eficiente de relacionamento entre torcedores e clubes, a não ser aqueles que os tratam apenas como consumidores.  Raros são os casos de ouvidorias para esses fãs dentro dos times. O relacionamento com as torcidas organizadas se dá por meio de troca de favores e em um canal de relacionamento não-oficial onde fãs sem presença nas uniformizadas não têm vez.