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F. Santos diz que drible incrível marca mais os fãs que títulos e gols

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

18/03/2013 06h00

Fábio Santos está longe de ser o jogador mais habilidoso do Corinthians, mas foi ele o responsável pelo drible incrível que chamou a atenção no clássico contra o Palmeiras. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, ele conta que a mistura de elástico, letra e “caneta” que ele aplicou no volante Charles faz sucesso até hoje com as crianças, aposta que Tite deve assumir a seleção em 2014 e diz não se arrepender da declaração polêmica que deu no caso Oruro.

LATERAL DIZ QUE LANCE MARCA MAIS OS FÃS DO QUE SEUS GOLS E TÍTULOS

  • UOL Esporte: Como foi que surgiu a ideia do drible? Fábio Santos: Eu sempre brinco bastante de dar esse drible em rachão, bobinho. Algumas vezes acertei, em outras passei vergonha. Mas aquilo ali foi na hora mesmo. Eu ia tocar de letra, só que tentei arriscar e deu muito certo, passou entre as pernas do Charles. Foi um lance que deu falta e deu replay. E por isso que talvez tenha repercutido bastante.

    UOL Esporte: Falam muito sobre esse lance com você? Fábio Santos: Ah, muita gente. A criançada então, vem pedir autógrafo e só lembra desse lance. Não lembra nada de gol, de título, só fala desse lance [risos]. Então foi uma repercussão bacana, e acredito que vai ficar marcado por isso.

A conversa aconteceu na última semana, quando o Corinthians ainda estava pressionado para vencer o Tijuana, o que acabou fazendo com méritos e “olé”. O 3 a 0 só reforça o bom momento da equipe que foi campeã da Libertadores e do Mundial de Clubes do ano passado, e de Fábio Santos em especial.

O lateral que gerou desconfiança ao chegar no Corinthians hoje é titular absoluto, diz viver seu melhor momento na carreira e sonha com a seleção. Um dos responsáveis por isso, segundo ele, é o técnico Tite, que ele elege como um dos melhores com quem já trabalhou. Para Fábio Santos, é justamente o comandante alvinegro quem deve assumir a seleção após a Copa de 2014.

“Acredito que ele seja o grande nome para o projeto pós-Copa 2014. Por tudo. Muito desse momento de vários jogadores que nunca se firmaram em outros lugares e hoje estão bem tem a ver com isso, com o dedo do treinador. Acho que ele é o próximo treinador da seleção, com certeza”, disse Fábio Santos.

Confira a íntegra da entrevista, em que o lateral fala de Tite, do caso Oruro e da polêmica com o lateral Léo do Santos:

UOL Esporte: Como você avalia o seu atual momento? Que planos você faz para o futuro?
Fábio Santos:
Quando eu comecei no profissional, eu planejei tanta coisa. E nada do que eu planejei deu certo. A partir do momento que eu cheguei no Corinthians, até no próprio Grêmio, antes, eu deixei de planejar as coisas. Foquei em trabalhar mesmo, como sempre trabalhei em toda a minha carreira, mesmo as coisas não tendo acontecido como eu imaginava. E as coisas vêm acontecendo, tenho mantido uma regularidade, muitos jogos durante o ano. Não tem um projeto que eu te diga: ‘Quero ficar mais dez anos no clube, quero sair no ano que vem, vai acontecer tal coisa...’ Quero conquistar tudo que eu conquistei aqui de novo, porque a gente vê o quanto é prazeroso, fica bacana, as conquistas foram bem legais.

UOL Esporte: Como é sua relação com a torcida?
Fábio Santos:
Muito boa, muito boa. A gente está vivendo um momento muito bom com o torcedor, né? Pelas conquistas recentes, não tem como ser diferente. Todo mundo que me encontra está sempre bem satisfeito, parabeniza, agradece pelos títulos. Está sendo incrível. O momento que eu vivo hoje é, sem dúvida, o melhor da minha carreira.

UOL Esporte: Tite é o melhor técnico com quem você já trabalhou?
Fábio Santos:
Ele divide muito com o Paulo Autuori, que é a mesma linha de trabalho. Eu trabalhei em quatro clubes com o Paulo. Do São Paulo, ele me levou para o Japão e depois me levou para o Cruzeiro. E depois nos encontramos no Grêmio. E ele tem a mesma linha de trabalho do Tite, são caras bons de conversar, de dialogar. Eu sou um cara que observo bastante taticamente, e gosto de dividir isso com o treinador às vezes, de conversar, perguntar. Por isso que me adaptei muito bem aos dois.

UOL Esporte: Você gosta de dar palpite nas táticas?
Fábio Santos:
O treinador, quando passa essa confiança para você e dá essa liberdade, pergunta se alguém tem alguma coisa para falar. Se eu tiver alguma coisa que possa colaborar e ajudar, sem dúvida nenhuma eu falo. Por isso são os melhores com quem eu trabalhei, apesar de que hoje o momento do Tite é espetacular.

UOL Esporte: Ano passado você teve sua primeira chance na seleção com o Mano. Você ainda sonha com isso?
Fábio Santos:
Eu tive a primeira chance no Clássico das Américas, em que foram só jogadores daqui. Depois tive uma convocação junto com outros jogadores da Europa, e foi uma realização. É óbvio que com a mudança de treinador a gente nunca sabe o que vai acontecer, o que está na cabeça do treinador. Mas mantendo esse nível de atuação no Corinthians, disputando títulos, com toda essa estrutura que o clube nos oferece, eu tenho de sonhar com seleção. Acredito que uma vaga seja mesmo do Marcelo, que é um dos melhores laterais que nós temos. A outra eu vejo em aberto, quem sabe eu posso ter uma chance.

UOL Esporte: Falando em seleção, você vê o Tite como a opção ideal para substituir Felipão após a Copa de 2014?
Fábio Santos:
Vejo. Acredito que seja o grande nome para o projeto pós-Copa 2014. Por tudo. A gente brinca: ‘Acho que agora o homem não vai achar mais nada’. E ele surpreende, sempre vem com uma novidade. E é um detalhezinho bobo, que passa despercebido e no jogo faz com que você cresça profissionalmente. Muito desse momento de vários jogadores que nunca se firmaram em outros lugares e hoje estão bem tem a ver com isso, com o dedo do treinador. Acho que ele é o próximo treinador da seleção, com certeza

UOL Esporte: Na volta de Oruro, você falou que se isto impedisse novas mortes em estádio, concordaria que o Corinthians fosse excluído da Libertadores. O que você quis dizer ali?
Fábio Santos:
É uma questão de interpretação. Quando eu falei aquilo eu não pensei em nada, não pensei em clube, competição, título. Pensei na vida do ser humano, porque eu sou pai, tenho duas crianças e não gostaria de ir no estádio com meu filho e sair com ele morto nos meus braços. Então, quando dei aquela declaração foi muito mais humana que qualquer coisa. Mas é óbvio que envolve uma série de questões de briga política. O diretor vai brigar para um lado, o pai vai brigar para o outro, a imprensa vai falar uma coisa... E aquela foi minha opinião no momento e não pensando em outra coisa a não ser isso, no ser humano e no que o pai estava pensando naquele momento. Também não acho que falei nada demais, nada que tenha sido muito polêmico, tanto que o Andrés deu uma declaração nesses dias na mesma linha, então não tem por que alguém questionar.

UOL Esporte: Aquela reação gerou muita polêmica? Alguém chegou a te cobrar?
Fábio Santos:
Muita. Nunca ninguém veio me cobrar, mas eu sei por uma ou outra pessoa que um torcedor gostou, que outro não gostou. Mas eu sei que uma pessoa inteligente, o mínimo que for, acredito que entendeu o que eu quis dizer e concorda plenamente com o que eu disse.

UOL Esporte: Há pouco mais de uma semana, o Tite reclamou duramente do calendário do Campeonato Paulista, que era desumano. Isso também te preocupa?
Fábio Santos:
Você sempre tem de analisar os dois lados. Eu entendo o lado de federação, porque você tem os clubes do interior, que de repente têm três, quatro meses de campeonato e é o momento deles aparecerem e terem uma sequência bacana de jogos, até para jogadores que não conseguem estar em uma equipe grande. Mas para uma equipe grande é complicado disputar uma competição como a Libertadores. De repente, com um número menor de jogos dá para valorizar ainda mais o Campeonato Estadual, não fica uma coisa chata, uma coisa longa, você não tem de ficar jogando sempre com duas equipes. Talvez diminuindo o número de jogos poderia ser uma solução sem afetar os clubes menores, dando uma tranquilidade maior para a equipe grande trabalhar. Porque é um absurdo a gente viajar numa semana e jogar no sábado.

UOL Esporte: No elenco do Corinthians, é comum ouvir o Paulo André levantando questões como essas. Você pensa em se unir a ele em algum projeto para brigar por melhores condições?
Fábio Santos:
Nunca pensei. É óbvio que não quero sair do futebol quando eu parar, mas acho que está cedo para eu pensar nisso. Mas acho que o Paulo é um cara diferente de todos os outros, é um cara que tem opinião, e o convívio dele no dia a dia é com pessoas assim e por isso ele tem mais experiência pra falar do que eu. Mas isso não impede que, daqui para frente, daqui a uns anos a gente não possa se unir em alguma coisa para o bem do futebol.

UOL Esporte: O oposto do Paulo André no Corinthians é o Paulinho, que prefere não opinar em questões do tipo. Você responderia, por exemplo, se eu te perguntasse sobre a administração da CBF e como está o futebol nos dias de hoje?
Fábio Santos:
É complicado. Porque é como eu falei, às vezes é questão de interpretação. Às vezes as pessoas que estão dentro da CBF interpretam de maneira diferente aquilo que você quer dizer. E eu, com o sonho de estar na seleção, às vezes não posso dizer algumas cosias que eu penso. Mas também não estou no dia a dia, não sei como as coisas estão funcionando. O que eu posso dizer é que hoje os clubes brasileiros estão mais bem organizados e estruturados. Quem diria que o Corinthians teria uma estrutura dessas para oferecer? Os salários na maioria dos clubes estão em dia, tanto é que vários jogadores estão vindo para o futebol brasileiro. Até o calendário. Hoje tem bastantes jogos, mas está bem melhor que há alguns anos. Mas na questão administrativa eu não posso também dar tanta opinião porque não estou por dentro, não sei o que está acontecendo. A gente torce para que pessoas corretas possam assumir para que o futebol continue crescendo no Brasil.

UOL Esporte: No começo da sua carreira, no São Paulo, você ficou marcado por um erro decisivo na semifinal da Libertadores de 2004, contra o Once Caldas. Isso ainda te incomoda?
Fábio Santos:
Não, até porque a maioria dos torcedores [são-paulinos] que eu encontro falam: ‘Pô, tudo que você está vivendo hoje poderia estar vivendo aqui’. E não deixa de ser uma verdade. Eu era muito novo, estava com 17, 18 anos. Comecei a Libertadores como titular, saí nas quartas e voltei a jogar naquele jogo na semifinal. E foi um lance complicado. Se fosse hoje eu teria deixado o jogador impedido, não teria acompanhado. Mas o mais bacana é que os jogadores experientes da época e o Cuca assumiram a responsabilidade e falaram: ‘Cara, fica tranquilo. Isso daí não é nada demais’. A gente sabe que o torcedor é complicado, marca naquilo. Algumas pessoas da imprensa também foram maldosas. Isso tudo serviu para eu amadurecer. Foi uma baita experiência e me fez chegar aos 28 anos vivendo esse momento maravilhoso.

UOL Esporte: No Mundial, você foi um dos jogadores que rebateram o Léo pelas declarações que ele deu antes da viagem. Você se arrepende da sua resposta? O que diria sobre o assunto hoje?
Fábio Santos:
Eu falei mais em um tom de brincadeira do que qualquer outra maneira de provocação. Achei que ele faltou com respeito quando ele falou do próprio Tite e do torcedor. A gente tem de levar mais na brincadeira. Quem sou eu para perdoar ou julgar alguém? Ele falou, escutou e acabou aí também. No jogo que teve contra o Santos eu acabei não jogando, mas parece que ele se desculpou com a maioria dos jogadores. Foi uma declaração infeliz que ele teve. E é aquilo, você fala e pode receber, está exposto a isso. Mas o Léo é um grande jogador, tem uma carreira incrível, brilhante lá no Santos. Eu respeito como pessoa e profissional. Foi uma brincadeira na hora que ficou bacana. Ele provocou dali e eu provoquei daqui. E assim o futebol é.