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Alemanha faz cartilha para incentivar atletas gays a saírem do armário

Cartolas da Federação Alemã são entusiastas do apoio a jogadores homossexuais - Arte UOL
Cartolas da Federação Alemã são entusiastas do apoio a jogadores homossexuais Imagem: Arte UOL

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

19/03/2013 11h00

“É talvez o último tabu que os gays precisam derrubar”. É com esse pensamento que o sociólogo Gerd Dembowski, da Universidade de Hannover e consultor da DFB (sigla em alemão para Federação Alemã de Futebol), retrata a ausência de atletas homossexuais assumidos no futebol do país.

Especialista em xenofobia e discriminação no esporte, Dembowski faz parte de um grupo que formula desde 2012 uma cartilha encomendada pela DFP para encorajar os jogadores gays a saírem do armário.

“O guia será para os jogadores, para dirigentes e técnicos também. É para  mostrar como eles podem sair do armário, como agir com a pressão da mídia. Mas mais do que os jogadores é para ajudar os dirigentes, os técnicos sobre o que eles devem falar, que mensagem devem passar. Estamos perto, acredito, dos jogadores assumirem”, afirmou Gerd Dembowski em entrevista ao UOL Esporte.

O documento foi encomendado pelo ex-presidente da DFB,  Theo Zwanziger, um simpatizante na causa gay. Seu sucessor, Wolfgang Niersbach, manteve o projeto. O texto final deve ser concluído este ano.

“Se um jogador sair do armário será uma atitude valente e teria o meu apoio e da federação", afirmou Zwanziger em março de 2011. Um dos autores do guia anti-homofobia acredita que em até cinco anos o homossexualidade não será mais um tabu no país. “Até lá, acho, teremos jogadores assumidos”, diz Dembowski.

A Alemanha é um dos países que mais combatem a homofobia. O capital do país, Berlim, é governada por um politico assumidamente gay. O St. Pauli, clube da segunda divisão, já teve um presidente homossexual.

No futebol, porém, o tema ainda gera controvérsias. Em setembro de 2012 um jogador da Bundesliga, primeira divisão do Campeonato Alemão, deu uma entrevista a revista “Fluter” assumindo sua homossexualidade. A identidade do atleta, entretanto, foi mantida sob sigilo para evitar problemas na sua carreira.

“Não te preocupes”, afirmou na época a chanceler alemã, Angela Merkel, incentivando os homossexuais a não se esconderem. A posição contrasta com a opinião do capitão da seleção alemã Philipp Lahm. “Um jogador conhecido como gay iria se expor a comentários depreciativos”, afirmou o lateral.

SOCIÓLOGO VÊ DIRIGENTES E TÉCNICOS COMO ENTRAVES MAIORES QUE TORCEDORES
UOL Esporte: Qual você acredita ser o maior entrave para jogadores assumirem sua homossexualidade?

Gerd Dembowski: O maior problema são os dirigentes e os técnicos. Eles têm receio do que pode acontecer. Quem está no negócio, acho que se um jogador assumir as coisas podem ser problemáticas, a carreira pode ser ameaçada, o clube pode ter problemas com faz. As pessoas pensam que se um jogador importante assumir, os torcedores vão vaiar ele, que haverá problemas. Eu não penso isso. Eu acho que há uma grande mudança no futebol alemão. Os torcedores mudaram na Alemanha. Quem vai está acostumado com pessoas gays. Nas empresas isso já é aberto.

UOL Esporte: Mas você não acredita que setores mais radicais das torcidas não reagiriam?

Gerd Dembowski:
Eu pesquiso torcidas há algum tempo e acredito que não. Existem 18 torcidas organizadas na Alemanha que são abertamente gays. Eles estão mostrando aos jogadores como isso pode acontecer, como eles podem sair do armário também.

NA HOLANDA, PROPAGANDA INCENTIVA JOGADORES A SAÍREM DO ARMÁRIO

  • Gay? Não há nada de estranho nisso. Este é o slogan da campanha desenvolvida pela agência Delight que foi oferecida à Federação Holandesa de Futebol, com o objetivo de incentivar jogadores a assumir a homossexualidade. O comercial tem o objetivo de combater a homofobia no futebol. Mostra a rotina de um jogador que vive literalmente dentro de um armário, e lança a pergunta: “Por que não sair? Seu time está ao seu lado”. VEJA O VÍDEO