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Juvenal: Ney fica mesmo se perder Libertadores e Lúcio foi para o banco por 'piti'

Danilo Lavieri e Luiz Paulo Montes

Do UOL, em São Paulo

22/03/2013 06h01

Juvenal Juvêncio recebeu, ao longo dos últimos dias, uma pressão à altura de seu cargo. Com o São Paulo em situação complicada na Libertadores, alguns jogadores insatisfeitos e um aparente racha entre elenco e treinador, o presidente do clube precisou intervir. Internamente, aliados sugeriam a troca de comando. Mas o cartola, escolado por tantas mudanças nos últimos anos, vetou. Bancou a permanência de Ney Franco e afirma que nem mesmo uma eventual eliminação na Libertadores o fará mudar de ideia. E mais: defendeu uma punição a Lúcio.

Na última quinta-feira, o dirigente atendeu à reportagem do UOL Esporte em um camarote presidencial no Estádio do Morumbi para uma entrevista exclusiva. Desceu as escadas, cumprimentou um a um, e sentou-se. Trajava uma camisa social, com um colete por cima, calça jeans e sapato social. Parecia bastante à vontade. Afinal, estava no local ao qual se refere como "sacrossanto". 

Em uma semana de polêmicas, Juvenal Juvêncio falou sobre as recentes insubordinações no elenco - Lúcio e Ganso, substituídos, saíram de campo irritados, e o zagueiro criticou com indiretas a decisão do técnico da equipe, que o tirou de campo na derrota por 2 a 1 para o Arsenal.  O presidente deu respaldo a Ney Franco, que no último domingo avisou que não aceitará reclamações públicas dos atletas.

"Eu concordo. O que ele diz é o seguinte: isso está em uma dinâmica. Se o jogador sai e reclama, como é que fica? E aí ele sai e reclama de novo? Causa uma desídia no grupo e ele não pode contaminar o processo. O jogador pode não gostar, que é natural, mas ele não pode incentivar esse processo com declarações, etc. Se praticar essa indisciplina contra o comandante, ele não voltará à equipe. Ele é didático", declarou Juvenal.

JUVENAL APROVA DUPLA JADSON E GANSO

  • O dirigente aprovou a dupla formada por Jadson e Ganso. Juvenal admitiu que esse é seu desejo e afirma que a equipe já mudou na última quarta, quando venceu o São Bernardo. Segundo ele, isso ainda fica melhor com a volta de Osvaldo. "O sinal para mim mais vanguardeiro foi o Ganso. Eu entendo que contra o São Bernardo o Ganso fez a melhor partida pelo São Paulo. Me pareceu mais solto, fazendo jogadas mais leves, mais soltas, mas sobretudo fazendo embaixadas, jogadas de efeito e está aí a diferença. Ele não estava fazendo. Porque isso só faz com confiança. A demonstração me pareceu um sinal de que ele está próximo de chegar a algum momento mais adequado."

Confira abaixo a primeira parte da entrevista exclusiva ao UOL Esporte:

UOL Esporte: Na terça-feira, o Lúcio pediu desculpas públicas pelas declarações que deu criticando o Ney Franco. Foi algum tipo de orientação da diretoria, da presidência, para ele fazer isso?
Juvenal Juvêncio:  Teve, teve uma prosa sim (risos). 

UOL Esporte: Você chamou ele na sua sala, fechou a porta e deu uma dura?
Juvenal Juvêncio: Não, foi o Adalberto [Baptista, diretor de futebol]. Falei para ele: "cuide disso porque você é mais suave"(risos).

UOL Esporte: Você, como presidente, está satisfeito com o desempenho do Lúcio dentro de campo?
Juvenal Juvêncio: Eu, para ser sincero, como ele não estava jogando [na Juventus], acho que ele está passando o mesmo que o Ganso, o Fabrício. Está sentindo um pouco a ausência de campo. E isso é terrível. Fisicamente ele está em ordem, mas você não tem a mobilidade, a mesma noção de espaço, onde está no campo, e o cara (adversário) está nas costas e ele está ali. E isso é ritmo.

UOL Esporte:  Você apoia o Ney Franco na declaração que ele deu no domingo, de que atleta que reclamar publicamente não joga mais com ele?
Juvenal Juvêncio: Eu concordo. O que ele diz é o seguinte: isso está em uma dinâmica. Se o jogador sai e reclama, como é que fica? E aí ele sai e reclama de novo? Causa uma desídia no grupo e ele não pode contaminar o processo. O jogador pode não gostar, que é natural, mas ele não pode incentivar esse processo com declarações, etc. Se praticar essa indisciplina contra o comandante, ele não voltará à equipe. Ele é didático

UOL Esporte: Então, o fato de o Lúcio ter ficado no banco contra o São Bernardo é parte de um castigo?
Juvenal Juvêncio: Eu entendo que sim. Não conversei com o técnico, mas está dentro disso, sim.

UOL Esporte: Hoje, qual a sua avaliação do Ney? O que falta para ele se tornar um técnico completo?
Juvenal Juvêncio: O Ney é um sujeito aplicado, isso é importante. É sério. Tem um bom comportamento. No futebol, é soldado no quartel. Almoça junto, janta, viaja, dorme no mesmo hotel, concentra no mesmo local, vai para o jogo, volta, e essa coisa é complicada. Mas o Ney tem comportamento. Tem técnico que tem sabedoria aguçada, mas neste comportamento ele morre. O Ney não. Ele tem comportamento adequado, está absorvendo o que é a equipe, a postura negativa ali, a convivência, a liderança. Ele dá tranquilidade porque é sereno. Ele tem uma nota boa por isso.

SÃO PAULO SENTE FALTA DE LUCAS

  • Juvenal disse não estar arrependido de ter vendido Lucas, mas não escondeu que ficou surpreso com a falta que ele faz ao elenco. "O Lucas, no Brasil, não tinha tanto nome, nem sei explicar isso, talvez porque fosse o São Paulo que provoca ciúme. Ele vai ficar muito mais famoso agora na Europa. Eu vejo anúncios, no final de semana, dizendo que tem jogo que o Lucas vai aparecer! Ora! Ora! Isso no Brasil nunca houve. Mas ele é absolutamente diferenciado, né? O time estava mal, ele pegava uma bola, driblava quatro e fazia o gol, ele faz diferença. Ele deixa uma lacuna, uma saudade, nos deixa uma dificuldade para encontrar alguém, porque era especial. E você não substitui o especial na rotina. Não esperava, não (essa falta). Eu tinha uma segurança de que a gente tinha uma equipe mais forte do ponto de vista competitivo, não é? Mas essa segurança diminuiu. Hoje a equipe começou em outro ritmo do que terminou 2012", afirmou Juvenal.

UOL Esporte: O que você pensa e o que aconteceria com uma eliminação ainda na fase de grupo da Libertadores?

Juvenal Juvêncio: É lamentável, muito lamentável, mas é a vida. O São Paulo, quando fui diretor, fazia 10 anos que não entrava na disputa da Libertadores. O futebol, como diz o [ex-governador de São Paulo e ex-dirigente do clube] Laudo Natel, é o próximo jogo. Eu entrei e ficou sete anos indo para a Libertadores. E agora fazia dois anos [fora] e a casa estava quase caindo. Este ano não estamos bem. A gordura que temos no Paulista, estamos no osso na Libertadores. Na importância, é uma inversão, mas é um fato. Não fomos bem. Não fomos bem! A fraqueza foi nossa, o erro foi nosso, lamentavelmente, foi nosso, todos esses erros, equívocos, são nossos. Os jogadores tem de entender isso, até entendem. Mas claro que temos jogo importante pela frente, e se a gente superar esse momento, quem sabe a gente se reergue com os mesmos valores do ano passado? Estamos sofrendo mais negativamente ultimamente, vamos ver se vamos superando, porque se não vamos apanhar muito.

UOL Esporte: Mas o Ney Franco seria mantido mesmo assim?
Juvenal Juvêncio: Ele se mantém! Não posso fazer isso (mudar o técnico). Nós estamos falando hoje, e se nós perdermos dia 4, a explicação já está dada. Fomos mal, saímos, vamos repensar algumas posições, algumas adequações, vamos precisar disso. Será lamentável, não estou fugindo do problema, mas isso não pode derrubar o técnico. Porque se não eu contrato um profissional e falo para ele: "Se ganhar, está dentro, se perder, está fora". Aí não é trabalho sério.

UOL Esporte: Essa sua decisão de não mandar o Ney embora tem relação com as diversas críticas que você recebeu por mudar tanto os treinadores do São Paulo nos últimos tempos?
Juvenal Juvêncio: É isso. Na verdade, esse negócio de técnico é um grande engodo. Tem profissionais, raros, que são bons. O Ney Franco é um deles. Mas nós trocamos muito de técnico e apanhamos muito por isso. Desta vez, tinha uma expectativa de que poderia ajustar, porque o cidadão tem bom caráter, bom comportamento. O elenco, quanto mais qualificado, a tendência é dar mais trabalho. Então, quando você coloca um Sérgio Baresi, por exemplo, você percebe que não tem a mesma aceitação que uma figura de nome. E nem a torcida aceita. Eles querem treinador bom.

O NOVO MORUMBI VAI ATRASAR

  • Depois de muito tempo de espera, o Estádio do Morumbi deverá começar a ser reformado no mês de maio. De acordo com o presidente do São Paulo, o clube passou por uma série de dificuldades burocráticas que impediram o início até agora. O processo, porém, está nos "finalmente" e, em reunião realizada na terça-feira, foi passado para Juvenal que daqui a 45 dias tudo estará pronto para as obras, que devem começar imediatamente.

    "Teve problema. Isso foi difícil, rapaz do céu! Mas aprovamos, fomos aprovados na zona aérea, sustentabilidade... Ih, rapaz... CET, aprovamos! A construtora é importante. A Andrade Gutierrez fez um fundo para bancar isso, para registrar na bolsa de valores, comissão de valores mobiliários. Nós pensávamos que o registro disso fosse mais célere. E isso atrasou. Eu tenho a impressão, nos disseram ainda na terça-fera, que até maio nós teríamos isso aprovado. Porque já tem todos os projetos, fundação, demoraram um ano para fazer tudo. Tem tudo feito, estudo de interferência do vento, etc. Tecnicamente tinha que ser assim, mas o fundo atrasou. Acabando isso, em maio, o começo é imediato, pois já temos todo o arcabouço", revelou Juvenal.