Andrés influencia votação e Corinthians pode manter Conselho sem oposição
Uma reunião na próxima segunda-feira, no Parque São Jorge, vai decidir como o Conselho Deliberativo do Corinthians será formado daqui em diante. Atualmente composto por 200 conselheiros de uma mesma chapa vencedora, o grupo poderia ser eleito de forma proporcional, mantendo viva a oposição interna. Por influência de Andrés Sanchez, no entanto, isso pode não acontecer.
O UOL Esporte apurou que o ex-presidente é o principal articulador de um movimento que pede que o atual estatuto seja mantido. Hoje em dia, o Conselho corintiano é formado por 160 membros vitalícios (número que no futuro cairá para cem) e 200 eleitos, todos pertencentes à mesma chapa de situação.
O sistema é conhecido internamente como “chapão”. Desde o ano passado, uma comissão formada por membros da situação e da oposição se dedicou a pensar em possíveis mudanças para o estatuto. No início de 2013, o texto elaborado por eles propôs quatro grandes mudanças (leia mais no box no fim da matéria).
A mais importante delas prevê a mudança na formação do Conselho. Ao contrário do “chapão” atual, foram sugeridos três modelos distintos. Pelo primeiro, os interessados se candidatam individualmente, cada sócio escolhe cinco deles e os 200 mais votados são eleitos.
Na segunda hipótese, são formadas mini chapas com 20 candidatos cada. Neste cenário, cada sócio escolheria duas delas e as dez mais votadas elegeriam seus membros. Por último teria uma opção intermediária, em que se define um número mínimo de pessoas por chapa. Neste cenário, o eleitor escolheria cinco delas e o Conselho seria formado a partir de um quociente eleitoral parecido com aquele utilizado para a escolha de vereadores e deputados.
A comissão daria, portanto, três novas opções de formação do Conselho para que a melhor fosse escolhida na reunião da próxima segunda, todas elas contemplando o conceito de proporcionalidade, mantendo viva a oposição interna. Antes que isto possa acontecer, no entanto, o grupo liderado por Andrés Sanchez ameaça mudar este cenário.
Principal aliado do ex-presidente, André Luiz Oliveira chegou a se reunir com a comissão, mesmo sem fazer parte dela. André “Negão”, como ele é conhecido, propôs algumas alterações para o grupo, entre elas o fim da “quarentena”. A medida que hoje está vigente obriga qualquer ex-presidente a aguardar dois mandatos completos para poder tentar uma nova eleição.
Derrubar a quarentena, como queria André Luiz, significaria permitir que Andrés Sanchez pudesse suceder Mario Gobbi em 2014. O problema é que o autor dessa medida foi ninguém menos que o atual presidente alvinegro. A comissão decidiu descartar a sugestão, que mesmo assim seguiria para apreciação do Conselho e poderia ser inserida caso o grupo assim decidisse.
André Luiz, no entanto, recuou. Dias antes do texto final da comissão ser recebido pelo Cori, último órgão a apreciar o texto antes dele ir para a votação final no Conselho, ele comunicou aos colegas que retirava todas as suas sugestões. Dias depois, foi o próprio Andrés quem interveio.
O ex-presidente conversou com membros do Cori e ajudou a convencê-los de que o estatuto, na verdade, não deveria ser modificado. O lobby foi feito pessoalmente, em uma das reuniões do Cori, e seu maior alidado no processo confirma isso. “Ele [Andrés] já pediu no Cori para que não mude nada. Nós somos do mesmo grupo. A gente acha que do jeito que está é bom”, disse André Luiz de Oliveira ao UOL Esporte.
A sugestão de Andrés foi acatada. De forma quase unânime, o Cori encaminhou o texto ao Conselho Deliberativo orientando que ele fosse ignorado e o estatuto atual, mantido.
A sinalização frustrou aqueles que queriam mudança. Entre eles está o próprio presidente Mario Gobbi, que preferiu não fazer campanha para nenhum dos dois lados mas promete discursar a favor da proporcionalidade no Conselho, tentando derrubar o “chapão”.
Além dele, outros grupos ligados à situação, como os “Corinthianos Obsessivos”, também apoiam a mudança. A oposição, que seria a maior beneficiada pela medida, se mantém calada no processo, e está dividida quanto ao assunto. O problema é que grande parte do Conselho segue as orientações do grupo encabeçado por Andrés e André Luiz.
No último mês, os preparativos para a reunião da próxima segunda-feira esquentaram, e os dois lados fizeram campanha por e-mail. Em uma carta enviada para todos os conselheiros, André Luiz de Oliveira argumentou que “alterar o estatuto é regredir, retornar aos tempos de um único poder, aceitar que alguém de torne maior do que nossa instituição”.
O texto foi assinado por André Luiz, mas se autoproclamou como a posição do grupo "Renovação e Transparência". Este é o nome da chapa montada por Andrés e André Luiz em 2007, quando o ex-presidente chegou ao poder pela primeira vez. Foi sob a mesma alcunha que Gobbi, no fim de 2011, assumiu o cargo de mandatário alvinegro.
VEJA QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS MUDANÇAS PROPOSTAS NO ESTATUTO
- Os diretores do clube poderiam ser remunerados. Se a diretoria assim quisesse, ele poderia profissionalizar a gestão do clube. Antes de isto ser posto em prática, no entanto, um projeto teria de ser apresentado ao Conselho, que precisaria dar seu aval.
- A próxima eleição, inicialmente marcada para fevereiro de 2015, seria antecipada para novembro de 2014. A iniciativa teria como objetivo evitar que o novo presidente assumisse com a temporada já em andamento. A experiência do Palmeiras, que elegeu Paulo Nobre no fim de janeiro, foi levada em consideração.
- O Cori, Conselho de Orientação do clube, passaria a ser formado apenas por ex-presidentes do clube e de seu Conselho Deliberativo, além do presidente e do vice deste último órgão. Os responsáveis pela proposta entendem que o Cori hoje é composto por muita gente, o que impede seu funcionamento em um ritmo considerado adequado.
- A mais importante das propostas diz respeito à formação do Conselho. O "chapão" atual, que elege 200 conselheiros de uma mesma chapa, seria substituído por um dos três modelos de votação apresentados, todos contemplando proporcionalidade e possibilidade de oposição interna.
Teoricamente, todos estes formariam a situação no espectro político corintiano, mas ultimamente o cenário não tem sido esse. A carta de André Luiz não foi bem recebida por vários dos conselheiros ligados a Gobbi, que apoiam a mudança no estatuto e não se sentiram representados pela mensagem. Entre os que são favoráveis ao fim do chapão, há o temor de que as propostas sequer sejam discutidas na reunião da próxima segunda. Ademir de Carvalho, presidente do Conselho e responsável pela condução dos trabalhos, promete que isto não acontecerá assim.
"Nós vamos discutir item por item proposto pelos conselheiros. Eu sei da posição deles [André Luiz e Andrés, que sugerem que se mantenha o estatuto como está], ela é legítima, mas esta é uma questão superada. Lá atrás, quando decidimos montar a comissão, nós já entendemos que deveriam haver alterações. No fim, pode até ser que tudo se mantenha, mas só se todos os itens levantados forem descartados", disse ele.
Em contato com o UOL Esporte, Andrés disse que votará contra a mudança e negou que tenha interferido no voto de alguém. “Não conversei e nem orientei ninguém sobre o voto. Não faria isso”, afirmou.
Se os partidários de Andrés Sanchez conseguirem valer sua posição, será a segunda “sobrevivência” do “chapão” em poucos anos. Em 2011, às vésperas da eleição, o assunto foi tema de uma votação no Conselho.
Na época, os mesmos grupos de hoje defenderam a mudança naquela oportunidade. A oposição, no entanto, argumentou à época que a eleição estava muito próxima e pediu que a discussão foi adiada. Andrés, beneficiado pela medida, apoiou a sugestão e já naquela época votou a favor da manutenção do "chapão". Naquela vez, no entanto, ele teve o apoio do hoje presidente Mário Gobbi, que nesta segunda promete estar do outro lado da disputa.
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