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Berezovsky viu dono do Chelsea ir de protegido a inimigo na Inglaterra

Boris Berezovsky (esq.) e Roman Abramovich; ex-parceiros viraram inimigos - Ivan Sekretarev/AP
Boris Berezovsky (esq.) e Roman Abramovich; ex-parceiros viraram inimigos Imagem: Ivan Sekretarev/AP

Fernando Duarte

Do UOL, em Londres

24/03/2013 10h45

Se ficou conhecido no Brasil por seu envolvimento com o escândalo MSI/Corinthians, o oligarca russo Boris Berezovsky em muito diferia de seu ex-protegido transformado em inimigo, Roman Abramovich. Enquanto o último ganhou notoriedade em 2003 ao comprar o Chelsea, a fama do primeiro foi construída em torno de um relacionamento acrimonioso com os centros de poder em Moscou, sobretudo o presidente Vladmir Putin.

As ligações perigosas de Berezovsky, por sinal, são a principal razão pela qual a polícia inglesa cercou de cuidados especiais a investigação sobre a morte do oligarca, cujo corpo foi encontrado no interior de sua mansão, em Ascot, um rico vilarejo no entorno de Londres, na tarde deste sábado. Agentes de uma divisão de elite da Scotland Yard, especializada em situações de risco químico e radioativo, fizeram uma varredura do imóvel, por exemplo.

Uma precaução justificável: em 2006, o ex-espião Alexandr Litvnenko, aliado de Berezovski nos ataques a Putin, foi envenenado em Londres com uma cápsula de material radioativo, numa operação que, antes de morrer, Litvnenko atribuiu diretamente ao presidente russo. 

Vivendo em Londres desde o início da década passada, quando ganhou asilo político do governo britânico, Berezovsky e Putin nem sempre estiveram em lados diferentes do difuso espectro político russo. Os dois fizeram parte do que ficou conhecido como ‘’A Família’’, um grupo de políticos e empresários que teve ascensão meteórica na Rússia após o colapso da União Soviética.

Berezovsky, por sinal, teve participação ativa na campanha de Putin para a eleição presidencial russa de 2000. A família tinha, entre seus integrantes, Roman Abramovich.

Berezovsky por si só é um exemplo da velocidade da transição russa do socialismo para a economia de mercado. Um professor universitário de matemática que ganhava o equivalente a US$ 12 por mês, ele viu no colapso econômico soviético uma oportunidade de ganhar dinheiro. Muito dinheiro: montou uma concessionária de veículos que se beneficiou intensamente da hiperinflação russa para comprar a carros a preço de banana e vendê-los a preços muito mais altos.

Ele também se aventurou no ramo da mídia, adquirindo o controle de um ex-canal estatal. Seu golpe de mestre, porém, foi participar do controverso esquema de privatizações da indústria de base soviética, no qual membros da Família se apoderaram, por custos baixíssimos e métodos obscuros, do controle de empresas estratégicas, como a companhia de aviação Aeroflot e a petrolífera Sibneft.

Bilionários, Berezovski e Abramovich tomaram rumos diversos depois da ascensão de Putin. Um bateu de frente publicamente com um presidente pouco disposto a governar por métodos democráticos, outro fez vista grossa. Putin e Berezovsky trocaram farpas públicas e o empresário alegou ter sido alvo de pelo menos duas tentativas de assassinato.

A semente da discórdia com Abramovich, porém foi a venda das ações de Berezovsky na Sibfnet para Abramovich, em 2001, por US$ 1,3 bilhão. Os dois ex-amigos travaram uma batalha nos tribunais britânicos depois de Berezovski alegar que foi coagido a fazer a transação por um valor muito menor que o real. Mas a Alta Corte de Londres deu ganho de causa a Abramovich, condenou Berezovski a pagar algo em torno de US$ 60 milhões em custos processuais e ainda questionou publicamente a veracidade das informações por ele fornecidas.

BEREZOVSKY É INVESTIGADO POR PARCERIA CORINTHIANS/MSI

  • AFP

Foi um duro golpe para Berezovski, que segundo informações da mídia britânica, já estaria vivendo problemas financeiros, agravados pelo milionário divórico da segunda mulher, Galina, em 2010 (o processo custou mais de US$ 150 milhões a ele).

Já havia rumores de que sua fortuna teria encolhido durante a crise financeira de 2008 e três anos mais tarde ele apareceu avaliado em ‘’apenas’’ US$ 900 milhões na lista anual de mais ricos publicada pelo jornal ‘’Sunday Times’’.

Segundo amigos, Berezovski caiu em depressão profunda, o que deu margem à muita especulação que ele teria se suicidado. A resposta ainda vai demorar para ser conhecida oficialmente: de acordo com a legislação britânica, toda morte não-natural ocorrida no Reino Unido têm de ser investigada por inquérito.

Tudo sobre o que se tinha certeza  até o início da tarde deste domingo era que um dos personagens mais controversos da Rússia pós-Gorbatchov, tinha deixado o mundo dos vivos.