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Federações enriquecem enquanto Estaduais têm públicos pífios

Pato é uma das estrelas do Paulista, com público médio de 6 mil pessoas - Danilo Verpa/Folha Imagem
Pato é uma das estrelas do Paulista, com público médio de 6 mil pessoas Imagem: Danilo Verpa/Folha Imagem

Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo

01/05/2013 11h00

Os grandes clubes nacionais seguem a questionar o espaço no calendário reservado aos Estaduais, que por conta dos fracos públicos lhes fazem perder dinheiro. Mas as federações não têm do que reclamar: seus faturamentos só têm aumentado justamente por conta dessas competições. O UOL Esporte fez um levantamento sobre os balanços de cinco das principais entidades estaduais do país e todas tiveram ganhos extras em 2012 em relação ao ano anterior. A maioria também teve queda na presença de público em seus campeonatos.

Um exemplo é a FPF (Federação Paulista de Futebol), cuja receita aumentou em 20% e atingiu um total de R$ 30,9 milhões. O crescimento da renda é maior justamente nos itens campeonatos e comerciais, que são oriundos do Paulistão.

É o maior faturamento entre todas as federações. A média de público - embora seja uma das maiores dos seus pares - está longe de empolgar, girando em torno de 6 mil pessoas por jogo. É menos da metade do Campeonato Brasileiro.

"Nosso Estadual só tem contratos melhores a cada ano. Enquanto o Estadual pagar bem, não tem porque mudar. É sinal de que vale para a televisão. Isso só sobe. Ninguém paga o que não vale", afirmou o presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, que só admite uma revisão para 2014, com a redução de duas datas, por conta da Copa.

Em proporções menores, Pernambuco vive realidade parecida: a federação ganha mais a cada ano, mas o Estadual teve queda no público. A federação ganhou R$ 4,8 milhões no último ano, contra R$ 3,1 milhões em 2011. O aumento de renda tem relação com o futebol e também com medidas administrativas.

"Alugamos uma parte da sede que foi modernizada. Mas também crescemos porque temos os melhores contratos de Estaduais no Nordeste, com a Coca-Cola como patrocinadora e a Globo na televisão. Ainda obtivemos apoios locais da economia, que está em ebulição", contou o presidente da federação pernambucana, Evandro Carvalho.

O público do Estadual era o melhor do país em 2012 com cerca de 9 mil, mas isso graças ao programa de nota fiscal que prevê que os torcedores possam trocar notas por ingressos. Mesmo com a manutenção desse programa, em 2013 houve queda na média. O campeonato também foi reduzido para 12 datas só para os times grandes, o que abriu datas para a Copa do Nordeste.

"Já esperávamos essa queda. Mudamos a fórmula do campeonato. Reduziu em seis clássicos no campeonato. Era um sacrifício pela Copa do Nordeste", defendeu Evandro Carvalho. Mas os clássicos realizados até agora tiveram públicos pouco empolgantes, a maioria com menos de 20 mil pessoas.

Em Minas Gerais, houve, sim, um crescimento de público, muito resultante das boas campanhas de Atlético-MG e Cruzeiro e principalmente pela reabertura de grandes estádios no Estado. O Mineirão recebeu a empolgação do público com o clássico de abertura. E o Galo tem aproveitado o Independência.  Assim, houve um salto de 3.581 para algo em torno de 5.500. Além disso, o campeonato enxuto aumentou a média.

"A torcida está em lua de mel por conta dos estádios", explicou o presidente da federação mineira, Paulo Schettino, que ressalva que o campeonato enxuto também ajuda o público. "Temos 17 datas, com 12 clubes. Minha percepção é que tendo menos jogos aumenta a média de público."

A renda da federação, no entanto, já vem aumentando desde o ano passado, mesmo com públicos baixos. Tanto que teve um crescimento de cerca de 27% em sua receita para 2012, atingindo R$ 7 milhões. "Temos o contrato da Chevrolet, que já houve manifestação pela renovação. A federação ainda ganha 10% da renda dos jogos dos estaduais, e mais 8,5% no interior", explicou o presidente da federação mineira, Paulo Schettino.  

Ressalte-se que a média de público, com o crescimento, ainda está bem abaixo do Nacional. Muito mais abaixo estão as médias de campeonatos como o Gaúcho e o do Rio de Janeiro.

No Rio, o público patina em pouco mais de 2 mil de média em 2012. Nem por isso as rendas de sua federação deixaram de crescer, embora em ritmo menor do que seus pares. Em 2012, a receita atingiu R$ 12,5 milhões, cerca de R$ 500 mil a mais do que em 2011. O crescimento é próximo do índice de inflação. É resultante do contrato de publicidade do campeonato que saltou para R$ 1,5 milhão, valor que, antes, era R$ 620 mil.

O caso do Rio Grande do Sul é mais emblemático. Sua média de público é ainda mais baixa, em torno de 2.200. Mesmo assim, a federação teve aumento da receita com novos contratos como apontou seu presidente Francisco Noveletto.

"A receita vem em cima de patrocínio da Chevrolet, das placas, Globo e RBS. Fiz contrato também com uma farmácia. Até hoje podem querer me dizer o que fazer com a bola que eu não sei, mas sou comerciante. Sei vender", contou Noveletto.

Segundo ele, a queda na média de público deve-se ao fechamento do Beira-Rio e aos problemas ocorridos na Arena do Grêmio. Isso porque, contou o cartola, o Internacional teve que jogar em até seis estádios pelo interior. Mas ele admitiu que há outros fatores.

"A TV vende um pacote de R$ 50,00 que dá para assistir todo o Estadual. Fica difícil de o cara ter que pagar R$ 50,00 para o guardador, mais cachorro quente...Olha o Nacional, também caiu", argumentou o dirigente gaúcho, que também ressalta que, no interior, são vendidos pacotes para torcedores.

O Campeonato Baiano também patina na média de público até a entrada de Bahia e Vitória, que disputavam a Copa Nordeste. Conseguiu encher estádio com a inauguração da Fonte Nova, que lotou e teve disputa por ingressos. Sua média em 2012 era de apenas 4 mil. É possível um crescimento com o novo estádio, mas não será muita porque a primeira fase mal atingia mil torcedores por jogo.

Nem por isso a renda da Federação Bahiana é prejudicada. De 2011 para 2012, saltou para R$ 4,3 milhões, um crescimento em torno de um quarto. Nenhuma dessas federações está livre de dívidas - algumas muito altas. Mas, ao contrário de grandes empresas de mercados, as entidades aumentam suas receitas mesmo que seus produtos estejam longe de ser sucessos.