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Betão critica atacantes brasileiros e comemora, enfim, defender time pequeno

Betão marca Valbuena durante a partida entre Evian e Marseille - AFP PHOTO / JEAN-PIERRE CLATOT
Betão marca Valbuena durante a partida entre Evian e Marseille Imagem: AFP PHOTO / JEAN-PIERRE CLATOT

Luis Augusto Simon

Do UOL, em São Paulo

07/05/2013 06h00

Ebert Willian Amâncio tem pouco, além do apelido Betão, do figurino idealizado dos jogadores de futebol. Filho de funcionário público, de classe média, estudou dois anos de fisioterapia, é articulado, passa longe do estilo pagodeiro. Nada de correntes, colares e nunca foi visto na noite.

Quando se transferiu do Santos para o Dínamo de Kiev, na Ucrânia, o zagueiro, atualmente com 29 anos, resolveu radicalizar seu modo de ser. Decidiu que o tempo que passasse na Europa não seria em branco. Não viveria de hotel em hotel, ganhando dinheiro para gastar no Brasil, após uma aposentadoria que ainda está longe.

Pela primeira vez, eu entro em campo com um time que não é favorito, não é o principal em campo. No Corinthians, no Santos, não era assim

Se ganhou culturalmente, Betão também gostou de seu rendimento dentro de campo. Fez aproximadamente 200 partidas pelo Dínamo e chegou a uma semifinal das quatro edições da Liga da Europa que disputou. Esteve também em três Ligas dos Campeões.

Enfrentou grandes atacantes, como o sueco Zlatan Ibrahimovic, por quatro vezes. “Ele é um jogador forte e rápido. Faz seu jogo e não incomoda. Não fica simulando faltas”. Simulação é uma crítica que faz ao atual nível dos atacantes brasileiros. “No Brasil, os jogadores não ficam dois minutos sem cair e sem reclamar. Tentam ganhar na “malandragem” e passam a responsabilidade para os árbitros. É um estilo que não leva a nada”, disse.

Com quatro anos e meio no Dínamo, Betão procurou o presidente do clube e pediu a liberação dos últimos seis meses. Gostaria de tentar um salto na carreira, em uma liga mais importante da Europa. Ouviu que, em agradecimento aos bons serviços prestados, seria liberado caso apresentasse uma proposta concreta. Ela veio, do Evian. “Está sendo muito legal para mim porque pela primeira vez eu entro em campo com um time que não é favorito, não é o principal em campo. No Corinthians, no Santos, não era assim, no Dínamo também não. Agora, a gente entra para se defender mesmo e nós, zagueiros, temos muito mais trabalho”.

O trabalho foi bem feito contra o milionário PSG de Lucas e Ibrahimovic, eliminado pelo Evian, na Copa da França. Com o resultado, começaram a aparecer especulações sobre a possibilidade de Betão se transferir para o Bordeaux.

Ele não sabe de nada. “O contrato termina no final do semestre e não sei o que vou fazer. Posso continuar por aqui, acho que consegui fazer um pouco de nome ou posso voltar para o Brasil. A educação das crianças é importante”.

FUTURO

Posso continuar por aqui, acho que consegui fazer um pouco de nome ou posso voltar para o Brasil

O filho Lucca, de três anos, ainda é novo e aproveita a experiência na Europa. Na Ucrânia, frequentou, por pouco tempo, uma escola. “Não gostei, é um esquema muito rígido. No Brasil, é melhor, tem mais espaço, as crianças podem brincar mais.”. Fala também de Katherine, que nasceu dia 22 de abril. Terá, como Lucca, passaporte italiano, fruto da ascendência da mãe, Priscila.

Já Betão usou esse tempo na Europa para aprender a falar russo, espanhol, inglês e agora francês. Também consegue entender o italiano, mas ainda não fala. Na Ucrânia, foi a muitos museus e se interessou por um assunto pouco comum a maioria das pessoas. “O povo da Ucrânia sofreu muito com a Segunda Guerra Mundial e isso está retratado em muitos lugares. Visitei vários e é impressionante você ver quanta atrocidade o ser humano pode cometer. Posso dizer que vi uma parte da história que pouca gente viu”.

A CARREIRA DE BETÃO ATÉ AQUI

PeríodoClubeJogos/Gols
2001 a 2007Corinthians214 / 4
2008Santos32 / 2
2008 a 2012Dinamo de Kiev (UCR)156 / 1
Desde janeiroÉvian (FRA)16 / 1

“Conheci mais de 20 países. Passei pela Bulgária, Moldávia, Belarus, Ucrânia, além dos outros muito mais conhecidos como França, Itália, Inglaterra. Sempre vou passear, tento conhecer os lugares, aprender um pouco da cultura de cada um e posso dizer que isso me engrandeceu muito”, conta Betão, que atualmente está no Evian, time da cidade de Thonon-Les-Bains, no leste da França.

O choque cultural também foi sentido nas pequenas coisas do dia a dia. Como quando descobriu que há boas pizzas na Ucrânia. Não quis arriscar muito e fixou-se na de peperone com queijo, deixando as de carne para lá. Carne de quê, como saber?

E surpreendeu-se também com a cor branca das maçãs que os ucranianos devoravam com generosas mordidas. A surpresa aumentou quando viu que as maçãs eram cebolas. Quando viu que também comiam alho cru já estava acostumado com as excentricidades culinárias. Não perguntou nada. “São pessoas melancólicas, mais fechadas, nem sei se gostariam de perguntas desse tipo”.

Como a experiência dentro do campo tem agradado e fora do campo também, Betão ainda não pensa em retornar ao Brasil. Se voltar, não escolhe clube. “O ápice de um jogador é a seleção brasileira. Eu não consegui, mas acho que fiz uma história bonita no futebol. Posso colaborar com muitos clubes e não escolho trabalho. O bom é que, com 29 anos, eu é que decido para onde ir. Estou em boas condições para escolher meu local de trabalho.”