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Dualib diz não se arrepender por MSI e compara parceria com o Chelsea

Alberto Dualib, ex-presidente do Corinthians, gesticula durante entrevista ao UOL Esporte - Flávio Florido/UOL
Alberto Dualib, ex-presidente do Corinthians, gesticula durante entrevista ao UOL Esporte Imagem: Flávio Florido/UOL

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

29/05/2013 06h00

Aos 93 anos de idade (quase 94, como ele faz questão de ressaltar), Alberto Dualib não dá o braço a torcer. Quase seis anos depois do turbilhão que o tirou da presidência do Corinthians e levou o clube à Série B, o ex-dirigente segue lúcido e convicto de que acertou ao fechar com a MSI. Para ele, o Chelsea de hoje é um exemplo do que aconteceu no Parque São Jorge na última década.

“Eu estava certo, porque hoje tudo é parceria. Hoje não tem um clube que não tem cinco ou seis parceiros para ter jogador de futebol. Hoje a vida é parceria. Aqueles que achavam que na época o dinheiro da Inglaterra não era legal, reconhecem que até o Chelsea deveria também ser ilegal, porque o Chelsea tem a mesma origem do dinheiro para poder trabalhar e fazer um clube que é tão forte”, disse Alberto Dualib, que esteve na redação do UOL Esporte para conceder uma entrevista exclusiva.

Dualib foi um dos artífices da nebulosa parceria com o fundo de investimentos que começou no fim de 2004, terminou em meados de 2007 e levou o Corinthians para as páginas policiais. O ex-presidente corintiano, os empresários Boris Berezovsky e Kia Joorabchian e outros cinco pessoas respondem na Justiça pelos crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

O ex-cartola ainda é acusado em um processo que apura um suposto esquema de notas frias que teria desviado R$ 1,4 milhão dos cofres alvinegros entre 2001 e 2007. Nesse caso, Dualib já foi condenado em segunda instãncia. Mesmo assim, ele se diz inocente nos dois casos e diz levar uma vida atribulada atualmente por ter de seguir trabalhando com empreendimentos imobiliários.

Na conversa com a reportagem, o ex-cartola fala sobre a atual fase do Corinthians, relembra histórias polêmicas de sua administração e comenta sobre personalidades como seu sucessor Andrés Sanchez.

UOL Esporte: Como é sua vida hoje em dia depois da pressão que existiu pela sua saída em 2007?
Alberto Dualib:
Eu vivo minha vida normal fora do clube, trabalhando. Embora com 93 anos, mas continuo trabalhando. Tenho meus negócios que eu preciso enfrentar, porque eu deixei minhas empresas quando entrei no clube. Por me dedicar integralmente ao clube, com essa idade, tenho de continuar trabalhando para poder viver, me manter tranquilamente e acompanhando o futebol sempre. Isso não se abandona, desde criança. Fiquei corintiano com 8 anos de idade. Morava em uma cidade no interior de São Paulo onde se recebia a Gazeta Esportiva. Era um jornalzinho pequeno. Lendo esse jornalzinho eu passei a adotar o Corinthians como meu coração.

UOL Esporte: Naquela época havia uma rejeição muito grande ao seu nome, o senhor foi alvo de uma campanha da torcida. Hoje, como é sua relação com o torcedor?
Alberto Dualib:
A maioria absoluta é de muito respeito. O tempo é o senhor da razão. Isso faz com que o pessoal reconheça que tivemos uma administração vitoriosa, que deu muita alegria para eles e seus filhos também.  Hoje o Corinthians tem a maior torcida porque ganhamos 14, 15 títulos importantes. Crianças de 7, 8 anos de idade hoje são adultos e vivem uma fase boa que o clube atravessou. Isso é muito importante para mim porque faço parte de uma parte vitoriosa do clube. Agora, em relação aos acontecimentos, todo mundo sabe que 14 anos de presidente de um clube no Brasil, principalmente no Corinthians, é muito desgastante. Em relação às acusações, de parcerias, eu não fiz a parceria sozinho. Fiz com o apoio de 400 conselheiros. Por duas vezes ela foi submetida à apreciação de todos eles, e todo mundo aprovou. E eu estava certo, porque hoje tudo é parceria. Hoje não tem um clube que não tem 5 ou 6 parceiros para ter um jogador de futebol. Hoje a vida é parceria. Aqueles que achavam que na época o dinheiro da Inglaterra não era legal, hoje reconhecem que até o Chelsea deveria também ser ilegal, porque o Chelsea tem a mesma origem do dinheiro para poder trabalhar e fazer um clube que é tão forte.

UOL Esporte: Mas a parceria até hoje é investigada. Você e outras pessoas respondem por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O senhor se considera inocente?
Alberto Dualib:
Sem dúvida, tranquilo. Minha consciência é que vale. Quando o dinheiro vinha da Inglaterra, vinha através do banco central. O banco central tem um órgão lá, o Coaf, que analisa se a origem do dinheiro é legítima ou não. Ele sempre aprovou como legítima. Depois disso vem o Bradesco, fecha o câmbio e recebe esse dinheiro em favor da MSI. A MSI aplica esse dinheiro para pagar compromissos que tinha assumido em contrato. Portanto, não diz respeito a mim, como presidente, o que faziam os parceiros em relação ao dinheiro que recebiam. Portanto, eu tenho tranquilidade, sou inocente. Na época, fui usado, mesmo porque achavam que eu tinha de sair do clube. Eu aproveitei e saí, porque também achei que devia sair. Já estava lá por 14, 15 anos e meio. Quem que aguenta ficar 15 anos dentro do clube? Só mesmo Alberto Dualib conseguiu. E pacificamente, com tranquilidade, trabalhando. Eu ganhava as eleições por unanimidade. Teve eleição que eu ganhei com 5011 votos. Queriam que eu continuasse. Em relação à outra questão, sobre notas fiscais, quem é que não paga para um diretor? E na época, o estatuto permitia que se pagasse diretor que colaborasse com o clube na sua administração. E aqueles 3, 4 diretores do clube que recebiam valores ínfimos trabalhavam diuturnamente para manter o clube funcionando. E tinham de receber, porque dedicavam a vida ao clube. Hoje todo mundo reconhece que quem trabalha no clube tem de receber.

UOL Esporte: Mas a Justiça entendeu que houve crime.
Alberto Dualib:
Houve porque aqueles que trabalhavam, em vez de fazer microempresas e fazerem a nota deles pessoalmente, compravam nota. Tinha uma empresa que prestava serviço na contabilidade e fornecia nota para eles a custo zero. A bem da verdade, quem exigiu isso na época foi o Carlos Roberto Mello, meu vice financeiro. Presidente de clube não tem de ficar olhando notas fiscais. São milhares de notas fiscais diariamente. Isso passava por controle, contador, vice, por todos. Eu nunca soube que essas notas existiam. Tanto é que quando o conselho fiscal aventou essa hipótese eu mandei parar na hora.

PEÇA ÍNTIMA NA CONTA DO CORINTHIANS

Um diretor usou táxi e táxi não dá recibo. Falando com uma funcionária que era secretária, ele pediu que ela arrumasse uma nota para legitimar a despesa. E ela tinha uma nota porque ela tinha comprado um biquíni, alguma coisa desse tipo, e isso entrou na contabilidade

UOL Esporte: Entre essas notas está compra de uma tanga feminina. Como se explica que o clube pagou para alguém comprar uma tanga?
Alberto Dualib:
Acontece o seguinte. Um diretor usou táxi e táxi não dá recibo. Falando com uma funcionária que era secretária, ele pediu que ela arrumasse uma nota para legitimar a despesa. E ela tinha uma nota porque ela tinha comprado um biquíni, alguma coisa desse tipo, e isso entrou na contabilidade [risos]. Valores ínfimos, de R$ 30, R$ 40. Veja só como era o controle. Uma nota de R$ 30, R$ 40 de táxi, e teve de entrar uma nota para poder justificar a saída dos valores.

UOL Esporte: O senhor sente vontade de voltar?
Alberto Dualib:
Não.

UOL Esporte: Nem para participar de alguma forma?
Alberto Dualib:
Não. Você sente saudades dos companheiros, de bater um papo, de passar umas horas, almoçar com eles. Eu tenho almoçado com eles fora do clube. [A gente] tem marcado reuniões, almoço com eles. Batemos papo e colocamos os assuntos em dia. E tem sido isso praticamente todos os meses. Agora, eu tenho trabalhado muito, não tenho tido tempo de me dedicar ao lazer de ir ao clube ficar horas e horas batendo papo. Não vou fazer isso porque tenho uma atividade de obras de construção civil e me toma todo tempo de trabalho para estar permanentemente acompanhando.

UOL Esporte: Desde que deixou o clube, o senhor perdeu ou ganhou patrimônio?
Alberto Dualib:
Perdi muito. Eu entrei rico e saí remediado. Naquela época, para ser presidente do clube tinha de ser abonado, porque a receita era muito pouca. Você tinha de bancar muitas vezes. Toda vez que banquei, nunca fui ressarcido. Cheguei uma época a levantar R$ 1,5 milhão da minha empresa para comprar o Dener. Fechei o negócio com o [José Augusto] Pacheco, que era presidente da Portuguesa na época. Depois o Cori não aprovou, devolveu o dinheiro e o assunto foi encerrado.

UOL Esporte: O Corinthians deve dinheiro para o senhor?
Alberto Dualib:
Eu não vou dizer que deve porque na época eu doei. Se você está doando, não é débito.

UOL Esporte: Quanto o senhor doou?
Alberto Dualib:
Não sei quanto, mas milhões. Eu tenho cópia de cheque até.

UOL Esporte: Hoje o senhor tem 93 anos. O que o senhor acha de pessoas nem tão mais novas que o senhor, como José Maria Marin, seguirem no futebol?
Alberto Dualib:
É uma outra mentalidade. Hoje é diferente. Na época, não se contava pela idade. Tanto que o [Vicente] Matheus tinha quase 90 anos e ainda estava no clube. É diferente. Não sei qual é o processo hoje em vigor, por isso não cabe a mim opinar sobre estarem no cargo porque foram legitimados. Aquilo que é legitimado você não pode discutir.

UOL Esporte: O que o senhor acha do Marin? Teve contato com ele em seu tempo de presidente?
Alberto Dualib:
Eu tive pouco relacionamento com ele. Não foi do meu convívio. Uma vez ou outra ele acompanhava o Corinthians. Outras vezes encontrava na FPF. Mas não era do meu relacionamento mais chegado.

UOL Esporte: E o Ricardo Teixeira, o senhor ainda tem contato com ele?
Alberto Dualib:
Não.

UOL Esporte: O senhor se surpreendeu com as denúncias que ele recebeu?
Alberto Dualib:
Sem dúvida. É uma coisa que não foi só eu. Todo aquele que acompanha esporte viu que realmente eram coisas que não vinham ao conhecimento do público. E ele mesmo veio a público de que teria de renunciar, para que isso não prosperasse.

UOL Esporte: Há comprovação de que ele recebeu propina. Isso, especificamente, surpreendeu, que o conhecia tão bem?
Alberto Dualib:
Também não tive essa convivência tão chegada com o Ricardo. Ele era da CBF e eu do Corinthians. A gente só se encontrava quando eram disputas do Brasileiro. Uma vez foi em Porto Alegre em um jogo com o Grêmio. Mas ele não era do meu convívio, a gente não tinha um relacionamento mais junto.

RELÓGIO PARA TEIXEIRA

Sérgio Lima/Folha Imagem
Era aniversário dele. O presente que eu levei era o mais barato de todos que estiveram lá. Ele recebeu presente de todos os presidentes de clube no seu aniversário. Era um jantar em homenagem a ele que fizeram em São Paulo

UOL Esporte: Em 2005, o senhor deu a ele de presente um relógio de R$ 7 mil. Por que ele merecia um presente tão caro?
Alberto Dualib:
Era aniversário dele. O presente que eu levei era o mais barato de todos que estiveram lá. Ele recebeu presente de todos os presidentes de clube no seu aniversário. Era um jantar em homenagem a ele que fizeram em São Paulo. Eu reembolsei esse valor. Na época houve uma polêmica e eu dei o cheque na hora. É só falar no controle, que era o Marcos [Roberto Fernandes], que ele vai dizer que eu fiz um cheque meu na hora.

UOL Esporte: Mas o Marcos é um ex-funcionário do clube que está sendo acusado no processo das notas frias. Não é estranho que justamente ele vá defende-lo?
Alberto Dualib:
Não posso opinar por outra pessoa. Posso opinar por mim. Estou me defendendo porque sou inocente, e um homem de 93 anos não vai mentir. Porque eu podia perfeitamente assumir se tivesse feito algo errado. Eu sou inocente, estou tranquilo e levo minha vida feliz com todos os meus familiares, com todos aqueles que têm relacionamento comigo. Sigo como chefe de família e trabalhando.

UOL Esporte: Naquele ano, o Corinthians ganhou o Brasileiro sob circunstâncias polêmicas. O senhor acha que foi justo?
Alberto Dualib:
Houve aquelas 11 partidas que foram anuladas, né? Realmente, aquelas partidas beneficiaram a gente. Na época, jogo que nós tínhamos perdido ganhamos depois.

Nota da Redação: Em 2005, o árbitro Edilson Pereira de Carvalho assumiu ter interferido nas partidas que apitou. De forma polêmica, o então presidente do STJD, Luiz Zveiter, determinou que todos os 11 jogos com a participação do juiz deveriam ser refeitos. 

UOL Esporte: E o senhor achou isso justo?
Alberto Dualib:
O Corinthians ganhou porque fez mais pontuação que os outros.

UOL Esporte: Mas tem uma gravação da Polícia Federal em que o senhor se refere a essa conquista e diz que o campeão de fato e de direito foi o Internacional e que o título foi roubado. São termos usados pelo senhor. O senhor mantém esses termos?
Alberto Dualib:
Não. Jogando conversa fora você fala muita coisa. Fui um cara que ficou grampeado 1 ano e 11 meses. Sem saber e sem autorização. Hoje, estão levantando grampos e vendo que isso é criminoso. Eu fui grampeado dois anos diretamente. Tudo que você joga conversa fora não tem valor. Foi até na brincadeira que eu falei. Ganhamos o jogo, o importante é que ganhamos o título.

Nota da Redação: A gravação faz parte da investigação da Polícia Federal sobre vários dirigentes relacionados ao Corinthians, que resultou, entre outras coisas, na acusação contra a parceria com a MSI. 

UOL Esporte: O senhor esteve também no episódio do um-zero-zero. O senhor lembra disso?
Alberto Dualib:
Mas você está lembrando coisa de 15 anos atrás. Eu vim aqui para falar de coisa presente, não é para falar da minha vida.

UOL Esporte: Mas é um episódio importante, até para o senhor explicar o que aconteceu.
Alberto Dualib:
Um-zero-zero eram cem camisas que o indivíduo lá me pediu para arrumar do Marcelinho Carioca. Como ele não entendeu a primeira expressão minha, eu falei um-zero-zero, que eram cem camisas. Dou minha palavra de honra que foi isso.

Nota da Redação: Em 1997, a Rede Globo divulgou uma gravação em que Ivens Mendes, então chefe de arbitragem da CBF, supostamente aparecia em uma conversa suspeita com Mario Celso Petraglia, presidente do Atlético-PR. Uma outra gravação, por sua vez, mostrou a voz que seria do mesmo Ivens Mendes pedindo ajuda financeira a Dualib, que teria respondido com o número um-zero-zero, interpretado como uma referência velada a R$ 100 mil. 

UOL Esporte: E isso foi interpretado como uma doação à campanha dele. Era o chefe da arbitragem na época.
Alberto Dualib:
Nem lembro quem era viu. Você há de convir que estou até com cabeça boa demais para lembrar de tanta coisa.

UOL Esporte: Hoje o senhor acredita que possa haver esquema de arbitragem?
Alberto Dualib:
Não acredito. Ganha quem estiver bem no campo. Nunca existiu.

UOL Esporte: Dá para afirmar isso?
Alberto Dualib:
Havia muito comentário, mas nunca existiu. Não tem quem possa dar a vitória.

ESCÂNDALO DE ARBITRAGEM NO BRASILEIRÃO DE 2005

EFE
É um acidente de percurso

UOL Esporte: Mas existe o caso do Ivens Mendes em 1997 e o Edilson em 2005. Pode ser que não haja hoje, mas em algum momento existiu, não?
Alberto Dualib:
Houve esse fato em que parece que o juiz confessou. Faz parte também. É um acidente de percurso.

UOL Esporte: Como o senhor vê o Corinthians hoje?
Alberto Dualib:
Muito bom. É evidente. Contra evidência não há como contestar. O Corinthians está muito bem administrado. O Andrés Sanchez hoje é uma liderança consolidada no futebol brasileiro, alavancou todos os clubes nos contratos de TV, ganhou títulos, administrou bem. Fico orgulhoso porque ele é minha cria, era meu vice. O Mário Gobbi eu coloquei como conselheiro vitalício, porque para ser presidente tem de ser vitalício. Fico muito feliz de ver o Corinthians ganhando tudo, fazendo CT, campo de futebol. Campo que era um sonho de todos os corintianos, embora deva reconhecer e falar também que tenho mérito nisso, porque eu consegui recuperar o terreno de Itaquera. Foi na época da reintegração de possa, que ele servia de canteiro de obra do metrô. Depois disso, reconquistamos, fizemos o CT lá para os meninos da base, trabalhamos bem, mantivemos a propriedade. Assim como no Parque Ecológico tem trabalho nosso de quatro anos com o [Luiz Antônio, ex-governador de São Paulo] Fleury. Foram mais de 5 mil caminhões de terra para aterrar o lugar, que era um brejo. Tudo isso foi feito na minha administração. Hoje, o CT serve para a seleção brasileira.

UOL Esporte: Por que o Andrés conseguiu o estádio e o senhor não?
Alberto Dualib:
Ele conseguiu o apoio do governo, em primeiro lugar. Da Prefeitura em segundo lugar, que é governo também. Na época, eu tinha feito projeto para um estádio em Itaquera, mas não foi avante porque apareceu a história da rede da Petrobras, porque passava o oleoduto por lá. O assunto gorou. Ficou para ser aprovado e não foi. Na época, eu já estava interessado, mas todas as parcerias queriam na zona sul e na zona oeste. Eu queria usar mais como atrativo para outras modalidades de eventos esportivos. Então não teve como levar avante. Chegamos a comprar um terreno na [rodovia] Raposo Tavares, com a Hicks Muse. No fim, eles quebraram e não saiu o negócio. Eles quebraram, não o Corinthians. Tinha até um contrato para fazer. Mas eles quebraram.

UOL Esporte: Quando o senhor fala em apoio do governo, o senhor entende que o Lula foi fundamental?
Alberto Dualib:
Depende também. Houve iniciativa da parte do Andrés. Iniciativa da parte dele. Tinha de conquistar apoio da Prefeitura, conseguiu. Conseguiu da Odebrecht, que na época tinha aparecido para nós também e não deu certo. E conseguiu do Governo Federal. Tudo isso faz parte de um contexto. Quem consegue as coisas tem mérito, conseguiu apoio para fazer. O estádio é um estádio para São Paulo, moderno, avançado. Tem todas as condições de, no futuro, receber outras modalidades de lazer.

UOL Esporte: Como é sua relação com o Andrés? Vocês se falam?
Alberto Dualib:
É boa. Sempre lhe telefono ou ele me telefona e nós conversamos muito.

UOL Esporte: Fala com outros também?
Alberto Dualib:
Sim.

UOL Esporte: Com quem?
Alberto Dualib:
Com aqueles que me telefonam. Eu não procuro.

UOL Esporte: Quem lhe telefona?
Alberto Dualib:
Diversos. Não vou citar nomes. Eu deixei amizades no futebol.

UOL Esporte: O Andrés não oficializou ainda, mas deve tentar ser presidente da CBF. Ele está preparado para isso?
Alberto Dualib:
É o Corinthians. Ele é um ex-presidente do Corinthians, tem direito como qualquer outro presidente do clube a pleitear o cargo.

RELAÇÃO COM ANDRÉS

Fernando Donasci/ UOL Esporte
Ele foi meu aluno, mas sabe muito mais que eu

UOL Esporte: O senhor disse que ele é sua cria. O que ele aprendeu com o senhor?
Alberto Dualib:
Ele foi meu aluno, mas sabe muito mais que eu.

UOL Esporte: O que ele sabe mais e o que ele aprendeu com o senhor?
Alberto Dualib:
A parte política [ele sabe] mais que eu. Porque eu não fiz a parte política. Se eu tivesse feito a parte política, eu estaria até hoje lá. É o apoio da torcida em primeiro lugar.

UOL Esporte: E o que ele aprendeu?
Alberto Dualib:
A administrar o futebol. Tanto é que está ganhando tudo. Estamos ganhando tudo.

UOL Esporte: O senhor se sente injustiçado?
Alberto Dualib:
Ah, sem dúvida. Tanto é que entrei abastado e sai remediado. Tanto que estou com quase 94 e trabalhando. E pelas conquistas que eu deixei no clube eu me acho injustiçado.

UOL Esporte: Nós falamos sobre as denúncias mais graves contra a sua administração. Nas duas, o senhor diz não ter ciência, mas não diz que os crimes não aconteceram. Não faltou então ter checado, ter certeza de que não tinha nada errado?
Alberto Dualib:
O presidente tem outras atividades, o presidente é representativo. Eu passava mais tempo viajando para cima e para baixo do que dentro do clube. Dentro do clube tinha a administração do Nesi Curi [vice de Dualib, falecido em 2011] com outros diretores. Presidente não tem de ficar na administração, essa época já foi. Tem nove vices, cada um na sua atribuição.

UOL Esporte: Mas o senhor não precisaria estar ciente justamente para evitar que aconteça o que aconteceu?
Alberto Dualib:
Isso é inevitável. Aí são mais aspectos políticos. Esses acontecimentos foram mais aspectos políticos, originando problemas para poder fazer com que eu saísse.

UOL Esporte: Isso mudou sua vida pessoal? O senhor teve medo de morrer?
Alberto Dualib:
Não, absolutamente. Já vivi muito, nunca tive medo de morrer. Se tivesse, não estava trabalhando até hoje, saindo todo dia na rua.

UOL Esporte: O senhor não teve medo pela sua família, ao menos de que eles fossem hostilizados? Seus bisnetos, por exemplo?
Alberto Dualib:
A preocupação como chefe de família você sempre tem de ter.

UOL Esporte: Isso chegou a acontecer?
Alberto Dualib:
Não, nunca. Nem comigo nem com meus familiares.

UOL Esporte: Mas sua casa foi cercada, a reunião do Conselho foi invadida. Qual o momento de maior perigo que o senhor lembra daquela época?
Alberto Dualib:
Foi quando cercaram a minha casa. Duas vezes. Aí foi... Sorte que eu não estava em casa. Eu estava na chácara.

UOL Esporte: No Conselho também foi violento. O senhor lembra?
Alberto Dualib:
Lembro [risos]. Derrubaram a mesa. A mesa de trabalho. Falavam que iam me matar.

UOL Esporte: Hoje o senhor acha engraçado, mas na época foi um grande susto, não?
Alberto Dualib:
Eu nunca me impressionei muito. Sempre soube administrar como fato corriqueiro de um presidente de um clube como o Corinthians. Não fui o primeiro. Meus antecessores tiveram de fugir muitas vezes de campo.

UOL Esporte: Desde que o senhor saiu, o Corinthians ganhou vários títulos, entre eles a Libertadores. Você acha que essas coisas aconteceriam se o senhor estivesse na presidência do Corinthians?
Alberto Dualib:
A renovação hoje é necessária. São novas ideias, novos relacionamentos. Eu mesmo pensei em ter saído quando ganhamos o Mundial em 14 janeiro de 2000, mas não me deixaram sair. Eu saía por cima, conquistando o titulo mundial, mas não me deixaram sair porque não tinha nem candidato. Não tinha nem pretensões políticas para assumir o clube.

UOL Esporte: Por tudo que aconteceu, o senhor se arrepende de ter acertado com a MSI?
Alberto Dualib:
Não.

UOL Esporte: Não acha que foi prejudicial ao clube?
Alberto Dualib:
Foi prejudicial a mim, ao clube ganhou um titulo. Não foi uma iniciativa minha. Fui como presidente, apoiado por 400 conselheiros que aprovaram a parceria. Se tivessem votado contra eu não teria aprovado a parceria. Você não é dono de um clube. O Conselho fazia eleição do presidente ano sim e ano não. Hoje não é assim, é só assembleia geral.

RESPONSABILIDADE PELAS IRREGULARIDADES DA MSI

Rubens Cavallari/Folhapress
O clube tem de ser responsabilizado, não eu. Não é o Alberto Dualib

UOL Esporte: Então o senhor entende que, se a Justiça enxerga algum problema na parceria, todo o conselho deve ser responsabilizado?
Alberto Dualib:
Não, o clube tem de ser responsabilizado, não eu. Não é o Alberto Dualib. O clube tem suas entidades. Tem o conselho fiscal, o Cori. O Conselho deliberativo é o que manda mais no clube. Na época pelo menos, mandava.

UOL Esporte: Como o senhor vê o processo de apuração dos erros da parceria com a MSI? O senhor espera que alguém seja considerado culpado?
Alberto Dualib:
Isso é a Justiça que pode dizer, não sou eu. Só sei dizer que todos os depoimentos, todas as testemunhas que foram lá foram favoráveis a mim. Todas.

UOL Esporte: O senhor falou com o Kia?
Alberto Dualib:
Não. Não temos um relacionamento bom .Já não tínhamos na época.

UOL Esporte: O senhor divide a responsabilidade da queda em 2007 com o Andrés?
Alberto Dualib:
Eu saí em agosto.

UOL Esporte: Mas ela é maior para quem?
Alberto Dualib:
Para quem estava administrando, né? Caiu no último jogo, no Vasco, né? Quem estava administrando o futebol na época. Eu saí em agosto. Até o fim do ano você tem muitas partidas. Foi por um ponto. Um ponto não era difícil de reverter.

UOL Esporte: Depois daquilo, o Corinthians foi para a Série B e frequentou as páginas policiais, viveu problemas financeiros. O senhor se sente responsável por tudo isso?
Alberto Dualib:
Quando eu saí falavam que tinha R$ 100 milhões de dívidas. Entrou dinheiro e eu estava lá ainda. Licenciei e passou para o doutor Clodomir [Orsi, conselheiro do clube]. Vendemos o Willian por R$ 40 milhões. Carlos Alberto foram R$ 20 milhões. Ainda teve Everton, Zelão e Marcelo Mattos. O total dava R$ 80 milhões de entrada no clube. Daí não participei mais, porque eu tive de renunciar. Se devia R$ 100 milhões, tinha R$ 80 milhões para pagar.