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Berço de Ronaldo, São Cristóvão vive crise e perde até cortador de grama

O São Cristóvão ostenta com orgulho a lembrança da passagem de Ronaldo pelo clube - Rodrigo Paradella/UOL
O São Cristóvão ostenta com orgulho a lembrança da passagem de Ronaldo pelo clube Imagem: Rodrigo Paradella/UOL

Rodrigo Paradella

Do UOL, no Rio de Janeiro

06/06/2013 11h01

Quase 90 anos após o único título carioca de sua história, datado de 1926, o centenário São Cristóvão vive de memórias de outra época: o começo da década de 90, quando formou o maior artilheiro das Copas do Mundo, o atacante Ronaldo. Apesar do destaque na sala de troféus, as lembranças sofrem com a modesta estrutura do clube, que luta pela sobrevivência após a queda para a terceira divisão do Carioca.

A falta de recursos financeiros pode ser comprovada em pequenas situações. Sem outros bens disponíveis, o clube chegou a ter um cortador de grama avaliado em mil reais penhorado em uma ação trabalhista, junto de três aparelhos de musculação. Mesmo juntas, as máquinas têm valor de mercado em torno de R$ 5.500.

“Foram alguns bens envolvidos nesta ação judicial, mas essa situação está sendo resolvida. Acho até que penhorar um objeto desses é brincadeira. É a mesma coisa que leiloar uma bicicleta velha. Leiloar um cortador de grama não existe”, disse o atual presidente do São Cristóvão, José Augusto Quintas, que assumiu em janeiro de 2012.

No momento, o São Cristóvão luta para se reerguer após o rebaixamento para a Série C do Carioca ocorrido em 2012. Última divisão do futebol profissional do Estado, a 'terceirona' tem times semi-amadores, outros que estão iniciando suas trajetórias no esporte e poucos conhecidos, como o Canto do Rio, o Campo Grande e o CFZ - time do ex-jogador Zico.

Situação triste para o tradicional time, fundado há 104 anos e que, junto de América-RJ, Bangu e o Paissandu (que não disputa mais torneios profissionais), é um dos poucos a superar o reinado dos quatro grandes e conquistar o Estadual do Rio. Nos últimos anos, a equipe já vinha disputando sem muito sucesso a segunda divisão.

Distante, Ronaldo resiste como maior orgulho do clube

Mesmo tendo deixado o clube aos 17 anos, em 1993, Ronaldo segue como maior motivo de orgulho da equipe. O ex-atacante chegou a se aproximar do time no começo dos anos 2000, mas a parceria não foi adiante. Hoje, a passagem do pentacampeão pela agremiação é lembrada aos que passam pela Linha Vermelha - uma das principais vias rodoviárias da cidade - pela inscrição “Aqui nasceu o Fenômeno”, mantida com carinho pelo São Cristóvão.

Na sala de troféus, as conquistas de Ronaldo nas categorias de base têm destaque comparado apenas ao do único Carioca conquistado pelo clube. Numa espécie de memorial, estão as taças do jogador, inclusive a primeira de sua carreira nos campos: a Copa Infantil Mané Garrincha de 1992. A premiação está corroída pelo tempo, mas existe a promessa de uma restauração em breve.

O clube, no entanto, evita usar a ligação como saída para seus problemas financeiros. Questionado sobre uma possível retomada da parceria, o presidente do time disse que não planeja procurar Ronaldo, mas que aceitaria apenas uma contribuição técnica do craque.

“Não tive oportunidade ainda de estar com ele. Se tivesse, tentaria apenas um acordo por jogadores. Não quero dinheiro, não quero cheque. Queremos ser vitrine. Não quero um tostão para o clube, não quero um centavo”, disse José Augusto, taxativo.

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Empresa comanda futebol do clube

Sem condições financeiras de arcar com seu futebol , o São Cristóvão tem apostado em parcerias com empresas de gestão esportiva. Desde o início de 2013, a Cecmar (Centro Esportivo e Cultural Marcelo Ribeiro) comanda o time nos campos e em outras modalidades, como o futsal.

O presidente do clube culpa a empresa anterior por ter levado o São Cristóvão à Série C. Apesar de ter assumido a administração do clube no começo do ano passado, o dirigente diz não ter tido opção a não ser manter os gestores do futebol contratados pela presidência que o precedeu.

“A administração passada deixou o futebol com um pessoal que não tem conhecimento. Como assumi em janeiro de 2012 e em fevereiro já teria que botar o time para jogar, optei por mantê-los. Na época, o clube não tinha jogadores, treinador, comissão técnica, então era nossa única opção. Sem eles não teríamos dinheiro nem para pagar o necessário para realizar uma partida, cerca de R$ 8 mil”, se defende José Augusto. 

A empresa que gere o São Cristóvão atualmente diz já ter investido cerca de R$ 150 mil desde o começo do ano em reformas na estrutura do clube. A reportagem do UOL Esporte presenciou obras no gramado do Estádio Figueira de Mello, na sala de musculação e no campo sintético, enquanto o corredor parecia ter sido pintado recentemente. Segundo a Cecmar, a edificação quase centenária dificulta o trabalho já que a agremiação tem poucos recursos. Apesar da crise financeira, a dívida da agremiação não passaria de R$ 50 mil.

Construtora quis demolir estádio para levantar prédio residencial

Durante o ano passado, uma construtora ofereceu um acordo ousado ao São Cristóvão. A empresa construiria um estádio na sede náutica do clube – localizada na Ilha do Governador – em troca do terreno do tradicional campo da Figueira de Mello, casa histórica da agremiação. A proposta foi recusada pelo conselho deliberativo após longa discussão nos bastidores.

Apesar da disputa, o campo não vem sendo utilizado por estar passando por uma reforma em seu gramado. O clube divide o mando de seus jogos na Série C do Carioca por outros estádios, como Moça Bonita. Já os treinos de suas equipes são alternados entre a sede náutica do próprio São Cristóvão e o Lespan, localizado próximo ao Cefan, na altura da Penha na Avenida Brasil.

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  • Reprodução/Globo

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