Autobiografia perdida de Friedenreich leva "não" do São Paulo e espera patrocínio
Um documento histórico do futebol brasileiro espera patrocínio de última hora para chegar até o público. Descoberta há cerca de 3 anos, a autobiografia perdida de Arthur Friedenreich está quase concluída, mas as memórias do primeiro craque do país acabaram ignoradas pelo clube grande onde teve a relação mais estreita em vida, o São Paulo.
Morto em 1969, Friedenreich preparava nos últimos anos de vida a memória organizada de sua carreira, em parceria com o jornalista Paulo Várzea. Mas o falecimento antes do desfecho do trabalho privou o público da modalidade do "santo grau do futebol brasileiro", como o projeto é descrito por seus produtores atuais.
Arthur Friedenreich foi o maior jogador do início do futebol brasileiro, o mais famoso antes dos "anos Leônidas da Silva", goleador cujos feitos transcenderam a divulgação ainda precária de mídia da época. Foi através do mulato de origem alemã, por exemplo, que a seleção conquistou seu primeiro título oficial, no Sul-Americano de 1919 [um gol na prorrogação contra o Uruguai, no estádio das Laranjeiras, no Rio].
O acervo autobiográfico de Friedenreich foi descoberto há cerca de três anos e hoje o projeto de lançamento conta com a aprovação do Ministério da Cultura, para captação de financiamento através da Lei Rouanet. Entre as instituições procuradas, que recusaram apoio, duas delas estão ligadas à vida do antigo jogador.
O maior goleador do país pré-Pelé prestou serviço à Companhia Antarctica Paulista por mais de três décadas, viajando pelo interior do país como uma espécie de embaixador da marca de cerveja. Procurada por representantes do projeto, no entanto, a Ambev não se dispôs a apoiar a iniciativa.
Outra negativa também veio do São Paulo, clube grande com maior ligação com Friedenreich. O "Tigre" brilhou com as camisas dos amadores Paulistano e Ypiranga e teve passagens breves por Flamengo e Santos. No entanto, se eternizou como ídolo nos primeiros meses de existência do Tricolor paulista.
Friedenreich foi o primeiro grande nome do São Paulo após sua fundação, no começo da década de 30 [nos cinco primeiros anos, como São Paulo da Floresta]. Mesmo já veterano, ajudou o clube a conquistar seu primeiro título, o Campeonato Paulista de 1931, em cima do futuro arquirrival Corinthians. Com a camisa tricolor, disputou 127 partidas até 1935 e anotou 103 gols.
"Pouco depois da descoberta dei uma entrevista ao Esporte Espetacular. Em seguida o pessoal do São Paulo me ligou, mas não demonstraram interesse em prosseguir na negociação. Eu insisti através de amigos paulistanos, ligados à literatura. Também tentei com são-paulinos famosos, inclusive um dono de agência de propaganda, que dizia que o sonho dele era publicar uma biografia do Friedenreich. Mas no fim ninguém demonstrou nenhum interesse em atuar como patrocinador", relata Cesar Oliveira, editor responsável pela descoberta das memórias do "Tigre".
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Já veterano, Arthur Friedenreich defendeu a camisa do São Paulo da Floresta na década de 30 |
A valiosa descoberta se deu por acaso. Cesar Oliveira se deparou com a autobiografia de Friedenreich em uma madrugada, durante investigação no acervo de Milton Pedrosa, antigo proprietário da Editora Gol [Cesar ganhou o material de seu antigo sócio, filho de Pedrosa].
O material descoberto contava com cerca de 100 fotos, com todas as pessoas devidamente registradas no verso pelo próprio Friedenreich. No produto final, o texto original virá acompanhado por observações atuais do historiador Ivan Soter, um especialista na memória do futebol nacional.
"É uma autobiografia dele, certamente escrita pelo jornalista, amigo dele, Paulo Várzea. É escrito toda na primeira pessoa, numa dessas generosidades próprias dos amigos do peito, que escreveu o livro para ele, que não tinha a menor condição de produzir com aquele charme típico dos textos jornalísticos", relata o editor Cesar Oliveira.
"Está tudo comprovado, com contrato de edição assinado pela esposa, Dona Joana, com a Editora Gol. Tem uma carta de três laudas do Araken Patuska [ídolo do Santos na década de 20, disputou o Mundial de 1930], parabenizando pelo livro, desejando sucesso. Ainda tem uma dedicatória do Leônidas da Silva. Aparentemente o Friedenreich trabalhava no livro sem alarde, querendo fazer uma surpresa", acrescenta.
À espera de incentivadores, o texto do projeto está pronto, encaminhado atualmente à etapa de desenvolvimento visual. Quem quiser colaborar com o lançamento das memórias de Friedenreich pode entrar em contato com sua produção, pelo seguinte e-mail: cesar.oliveira@livrosdefutebol.com
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