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Livro de Sócrates esbarra em atrito entre viúva e família do ex-jogador

Sócrates no hospital ao lado de Kátia; hoje a viúva tenta publicar livro de memórias - Jorge Araujo/Folhapress
Sócrates no hospital ao lado de Kátia; hoje a viúva tenta publicar livro de memórias Imagem: Jorge Araujo/Folhapress

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

28/07/2013 06h00

O livro de memórias de Sócrates, escrito pelo próprio ex-jogador em seus últimos anos de vida, ainda não tem previsão de publicação. Pronta há mais de um ano, a obra ainda depende da definição de um impasse entre a viúva, Katia Bagnarelli, e a família do ex-jogador.

Hoje, é Bagnarelli quem detém os textos de Sócrates, que escreveu 196 páginas sobre assuntos quase aleatórios, que vão desde discussões sobre aspectos do futebol até análises sobre a sociedade em geral. Para publicar a obra, porém, ela precisa que os familiares dos ex-jogadores assinem a cessão dos direitos autorais.

“Essa obra era uma estratégia para abrir comunicação e debate na Copa das Confederações. Ele queria ter essa abertura para provocar essa comunicação. Conversamos com a editora Prumo, do grupo Rocco. Topamos fazer com eles, mas nada disso andou com ele em vida”, disse Katia, em entrevista ao UOL Esporte.

EM LIVRO, SÓCRATES DIZ QUE GERAÇÃO DE PELÉ FOI OMISSA COM DITADURA

  • Jorge Araújo/Folhapress

    Em um livro de memórias e pensamentos aleatórios escrito nos últimos anos de sua vida, Sócrates falou sobre sua experiência como jogador profissional, contou causos e, como não poderia deixar de ser, desfiou algumas críticas. Na obra, que ainda não tem data para ser publicada, o ídolo corintiano reclamou, entre outras coisas, da postura apolítica adotada pela geração de Pelé no auge da ditadura, nos anos 1960.

    “Nossos jogadores eram românticos com a bola no pé, mas na conduta, absolutamente omissos”, diz Sócrates, no livro ao qual o UOL Esporte teve acesso. Leia a matéria completa.

Sócrates morreu em 2011 em decorrência de uma cirrose hepática causada pelo alcoolismo. Katia conta que ele só contou para a mãe, Guiomar, sobre o projeto do livro, mas diz ter enviado cópias aos irmãos de Sócrates, incluindo Raí, e a ex-sogra.

“É como se eu não existisse. As pessoas não falam sobre isso. Eles não aceitam falar sobre o Sócrates. Eu conversei com o Gustavo [filho de Sócrates], que está cuidando do inventário. Ele disse que teve uma reunião com os tios e os irmãos, mas decidiram que não é o momento de falar sobre o Sócrates, muito menos dos direitos autorais”, disse Katia.

A relação entre a viúva e os parentes diretos de Sócrates está longe de ser das melhores. A reportagem procurou Raí e Gustavo, sem sucesso. Quem falou pela família foi Sóstenes, outro irmão do ídolo corintiano, que deu outra versão para o imbróglio.

“Nós recebemos várias propostas de projetos sobre o Sócrates e a família decide sempre junta, é uma coisa nossa. Nisso, acaba ficando tudo lento. Tenho reconhecimento pelo que ela fez por ele, porque ela se dedicou muito fielmente naquele período, mas acho que a Katia pensa de outra forma, tem outra urgência”, disse Sóstenes.

O irmão de Sócrates e Raí confirma que existam divergências entre as partes, mas nega que o que impeça a publicação do livro seja a discussão sobre o inventário do ex-jogador. “São discussões diferentes. Ela pode achar, mas são coisas distintas”, disse ele.

Katia casou com Sócrates com separação de bens, mas mesmo assim há discussão judicial sobre a casa em que ambos viviam em Barueri, na Grande São Paulo. O imóvel não foi quitado e a decisão sobre a venda está emperrada.

Em comunicação por email, o advogado dos filhos de Sócrates atrelaram a cessão dos direitos autorais à resolução do inventário. Sóstenes, por sua vez, já acena com uma solução mais ágil.

“Ela está com pressa, então podemos avaliar mais rápido, até para evitar uma quizomba desnecessária”, disse ele.