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Daniel Alves espera Neymar ousado e sem veto para dribles e danças no Barça

Neymar e Daniel Alves no primeiro treino do atacante no Barcelona - Divulgação/Barcelona
Neymar e Daniel Alves no primeiro treino do atacante no Barcelona Imagem: Divulgação/Barcelona

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

30/07/2013 06h00

Com quase uma dezena de tatuagens espalhadas pelo corpo, brincos, penteados que mudam com frequência e dono de um guarda-roupa ousado, Daniel Alves teria muitos motivos para chamar atenção no Barcelona. Foi com a bola nos pés, entretanto, que o baiano de Juazeiro se consagrou e ganhou destaque e respeito dos catalães em cinco temporadas no clube. Protagonista no ciclo mais vitorioso da história do Barça, o lateral venceu 15 títulos ao lado de Messi e companhia.

Desde a última segunda-feira, tem em Neymar outro amigo e colega com quem já mostra entrosamento em campo. Ainda que evite ser apontado como conselheiro do novo astro do Barcelona, Daniel Alves tem sua história no clube como exemplo.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o lateral afirmou que o novo astro do clube deverá manter seu estilo e até algumas ousadias, como dribles e dancinhas após os gols marcados.

“Eu acho que vai manter o estilo dele e aconselho ele manter. Esse jeito moleque. Tem que amadurecer, mas não vai e nem quero que mude a sua essência. Foi o que levou ele a ser diferente. Tem que ser ousado”, defende o novo colega de clube.


Eu gostaria que o Barcelona recuperasse a nossa forma de competir. Perdemos um pouco isso nos últimos dois anos. Essa forma impressionante que a gente tinha, de trabalhar e jogar futebol e proporcionar aos torcedores alegrias. A ambição é muito grande.

Daniel Alves aponta a chegada de Neymar e o que define como “vício por vencer” dos jogadores do Barcelona como armas para o time voltar ao topo. Num clube com passado recente tão vitorioso, a conquista do Campeonato Espanhol na última temporada pareceu pouco.  

“Perdemos um pouco a nossa forma de competir nos últimos dois anos”, admitiu o brasileiro. “Gostaria de recuperar isso. Essa forma impressionante que a gente tinha, de trabalhar e jogar futebol e proporcionar aos torcedores alegrias. A ambição é muito grande”, completou.

UOL Esporte: No Barcelona, com o passado recente de tantas conquistas, parece até que um Campeonato Espanhol é pouco. O que você quer que seja diferente nesta temporada?
Daniel Alves: Eu gostaria que o Barcelona recuperasse a nossa forma de competir. Perdemos um pouco isso nos últimos dois anos. Gostaria de recuperar isso. Essa forma impressionante que a gente tinha, de trabalhar e jogar futebol e proporcionar aos torcedores alegrias. A ambição é muito grande. Jogadores contratados vêm com essa vontade.

UOL Esporte: Como conseguir manter essa ambição num time com jogadores que já venceram tudo?
Daniel Alves:
Ganhar já é um vício. Você se acostuma a isso. Quando perde frustra muito. A vontade, o querer não vai mudar agora. Eu sei que as coisas negativas que vieram foram para somar. Tenho certeza que a gente vai recuperar isso neste ano.

HOMENAGEM AO AMIGO ABIDAL

  • Na próxima temporada, Daniel vestirá a camisa 22 e não mais a 2, que usou nos últimos anos. A mudança é uma homenagem ao amigo Eric Abidal, que superou um câncer no fígado durante sua passagem no Barça. “É um ídolo. Eu tomei essa decisão como forma de agradecer a ele. É um gesto, uma forma de agradecimento. Por tudo que vivi com ele. É uma lição de vida como ele superou as coisas que passou na vida”, explicou.


UOL Esporte: E de você, o que você pretende ter nesta temporada que não conseguiu na última?
Daniel Alves: Regularidade, evitar as lesões que eu tive. Lesões que nunca tive durante toda a minha carreira, tive neste ano. Foi uma temporada boa. Com todos os problemas, fui um dos que mais joguei. Só de temporada boa a gente não vive. Quero espetacular. Sei que não foi o ano queria. Quando se faz o trabalho bem feito se conseguem as coisas. Estou sempre amadurecendo e crescendo. Tentar ser melhor pessoa e profissional.

UOL Esporte: Mas não há também uma maior preparação dos adversários para enfrentar o Barcelona. Eles não aprenderam a barrar o estilo de jogo de vocês?
Daniel Alves: Não, acho que foi mais demérito nosso do que mérito dos adversários. Sempre respeitando a qualidade dos adversários que é muito grande, acho que foram mais erros nosso, demérito nosso que mérito deles.

UOL Esporte: O que o Neymar pode agregar no Barcelona?
Daniel Alves: Ele pode agregar alegria de jogar futebol diferente. Tenho certeza que todo mundo vai disfrutar dessa alegria, desse futebol diferente. Espero que ele possa triunfar. Ele vai fazer isso.

UOL Esporte: No Brasil o Neymar virou um símbolo pop, chamando muita atenção também pelo que faz fora do campo. Você acha que isso pode atrapalhar ele no Barcelona?
Daniel Alves: Não acho que vai ter dificuldade no Barcelona. Neymar foi contratado porque é diferente. Tem que respeitar o jeito diferente dele. Vai amadurecer em alguns aspectos, mas vai manter a sua identidade.

UOL Esporte: Danças em comemorações de gols, por exemplo, é algo que ele deve evitar?
Daniel Alves:
Eu acho que vai manter e aconselho ele manter. Esse jeito moleque dele. Tem que amadurecer, mas não vai e nem quero que mude. Foi o que levou ele a ser diferente. Tem que ser ousado. É um diamante que tem que ser polido. Para ser melhor, brilhante, espetacular.

UOL Esporte: Mas teve um caso em que o Puyol, capitão do time, lhe chamou atenção após uma comemoração em que você dançou..
Daniel Alves:
Isso foi uma situação que já tive a felicidade de explicar. Porque não foi para menosprezar. Surgiu no momento e foi feito. Quando jogamos contra o Real Madrid no Santiago Bernabeu fizemos uma dança com o Abidal e não fomos recriminados. O mesmo no Camp Nou, também contra o Madrid. Dançamos. Achei que o Puyol e o Guardiola tiraram um pouco de vantagem daquele momento. Se você defende a filosofia, defenda sempre. Não só em algum momento. Mas isso já foi resolvido. Expus minha ideia e pronto.

“O QUE MAIS MARCOU NÃO FOI O TÍTULO, MAS, SIM, O CARINHO DO POVO”

UOL Esporte: Falando sobre seleção, o que vai ficar marcado para você da conquista da Copa das Confederações?
Daniel Alves:
Para mim o que fica marcado é o carinho do povo. Foi digno de se admirar. Mostramos que a seleção não é dos que vestem a camisa, é de todo mundo. Nós somos uma ferramenta que tenta fazer o resto da galera disfrutar. O que ficou marcado não foi a conquista, mas sim recuperar o carinho e alegria do povo.

UOL Esporte: Antes da final você deu uma entrevista reclamando das críticas para a seleção, principalmente da imprensa. Você ainda acha que o time foi muito criticado?
Daniel Alves:
Aqui é mais critico porque no nosso país tem mais criticas que elogios. O povo infelizmente compra a versão dos formadores de opinião. A realidade é muito dura para você ser jogador. Tem que se privar de muita coisa e ainda por cima você é muito criticado. Todo mundo acha que é uma vida fácil, que você tem que fazer aquilo, que não pode fazer isso. Às vezes eu paro para ver as pessoas falarem do Rubinho, do Felipe Massa, de outros atletas que fazem um esporte superdifícil como a Fórmula 1. Eu queria que as pessoas que criticam tivessem a oportunidade de subir num carro. O mesmo vale para o futebol. É muito difícil ser jogador. Tem que suceder um monte de coisas para você se destacar. Acho que temos que ser respeitados de acordo com a dificuldade da nossa profissão. Minha opinião é que jogadores deveriam ser mais valorizados. Pessoas como Cafu, Ronaldo, Roberto Carlos. Pessoas que saíram da seleção meio que meio (ironia..) e que são pessoas que teriam que ser feitas estatuas de todos eles na CBF. Pessoas que marcaram o futebol.

UOL Esporte: O Brasil conseguiu adotar um ritmo de jogo no início que foi arrasador, fazendo gols nos primeiros minutos, marcando o rival sob pressão e vencendo as partidas. Esse estilo surpreendeu a Espanha na final?
Daniel Alves:
Acho que esse era o nosso objetivo e nossa possibilidade. Eles não estavam acostumados. Quando eles não têm controlo do jogo eles sofrem e a gente entendeu que tínhamos que ditar o ritmo.  Se impressionaram. Se voltarem a ver o jogo vão se impressionar ainda. Nosso ritmo foi impressionante. Mas isso foi um passo a mais. Nosso principal objetivo está lá na frente que é a Copa do Mundo.