Topo

Roberto Carlos critica falta de jogo de despedida pela seleção: "a CBF tem esse defeito"

Roberto Carlos trabalha como técnico do Sivasspor, da Turquia - Divulgação
Roberto Carlos trabalha como técnico do Sivasspor, da Turquia Imagem: Divulgação

Renan Prates

Do UOL, em São Paulo

01/08/2013 06h00

Aos 40 anos, Roberto Carlos decidiu aceitar um novo desafio na carreira e ser o técnico do Sivasspor, da Turquia. Ele se consultou com a maioria dos treinadores com quem trabalhou e tem encarado a pré-temporada com a pretensão de lutar pelo título do Campeonato Turco e uma vaga na Liga Europa.

Empolgado com o novo desafio fora de campo, Roberto Carlos também relembrou a carreira como jogador. Em entrevista ao UOL Esporte, o agora treinador criticou a CBF por não ter realizado uma partida de despedida para a sua geração.

"Não fizeram nem pro Zico, por que vai fazer pra gente? A CBF tem esse defeito de não fazer uma despedida decente para os jogadores que fizeram história com a camisa da seleção brasileira. Não falo só por mim, falo pelo Rivaldo e outros jogadores que fizeram história. Uma homenagem simples já significa muito. Um jogo, uma cerimônia. A CBF não pensa nisso", desabafou.

NA BRONCA COM TITE


Falei pra o Tite que queria jogar. Mesmo sem jogar, fui culpado [da eliminação]. Foi a primeira vez que aconteceu isso na minha carreira. Mas tudo bem. Pela experiência que a gente tem no futebol, assume essa responsabilidade

Na entrevista, Roberto Carlos falou com carinho sobre o Corinthians, apesar de demonstrar mágoa com parte da torcida que o perseguiu após a vexatória eliminação contra o Tolima na Pré-Libertadores de 2011 e com o técnico Tite por não permitir que ele entrasse em campo na ocasião.

Confira a entrevista na íntegra: 

UOL Esporte: Como está na nova empreitada de treinador? Está tendo dificuldade, especialmente pelo idioma? Fala em que língua com os caras?
Roberto Carlos: Está muito legal, estou gostando, muito feliz. Tenho um tradutor que me ajuda a traduzir o que eu quero. O time está dando resultado dentro de campo. Está melhor do que eu esperava.

UOL Esporte: Quais são as metas no Sivasspor? Título turco?
Roberto Carlos:
Dá pra brigar, mas tem que ir devagar. Estamos arrumando o time ainda para ver. Mas vaga na Liga Europa dá sim.

UOL Esporte: Quais são os planos como técnico? Clube grande da Europa? Futebol brasileiro está nos planos?
Roberto Carlos:
Fazer bom trabalho aqui. Se renovar contrato, continuar. O importante é começar bem. Começando, as portas vão se abrir. Algum dia sim [futebol brasileiro], mas ainda não. Deixa eu pegar experiência primeiro.

UOL Esporte: Qual vai ser seu perfil como treinador. Disciplinador? Tático? Se preocupa com extracampo?
Roberto Carlos:
No treinamento e nos jogos tem que ir bem. Fora do campo, cada um faz que quer. O que importa é no treino e nos jogos, cada um entender sua função. Fica mais fácil.

Vou mais na conversa mesmo, para os jogadores entenderem o que a gente quer. Sem pegar no pé, criar inimizades. Tem ser amigo. Aí ele vai correr em campo por você.

UOL Esporte: Você já disse que tem o Felipão e o Mourinho como referência. Conversa com eles?
Roberto Carlos:
Conversei com todos que me comandaram. Conversei com Luxa, Felipão, Zagallo, Parreira, Candinho, Capello. Todos treinadores que me ensinaram muito. Foi essa experiência que tive.

UOL Esporte: Você que indicou o Cicinho? No que ele pode contribuir no time?
Roberto Carlos: Já vinha acompanhando no Sport. Aqui estou colocando mais no meio campo no 4-1 4-1. Ele não vai jogar nem na lateral, nem na ponta. Vai nos ajudar com a qualidade de passe e a experiência.

Madrugada na Globo tem beijo de Ronaldo em Roberto Carlos em lembrança de parceria

  • Reprodução

    O programa Central da Copa, transmitido nas madrugadas da TV Globo após dias de jogos do Brasil na Copa das Confederações, teve uma cena "tocante": um beijinho de Ronaldo, hoje comentarista do canal, em Roberto Carlos, ex-lateral e convidado do programa.

UOL Esporte: Você tinha pedido despedida contra o Real Madrid. Por que não rolou?
Roberto Carlos:
O Real Madrid já tinha programado o [Santiago] Bernabéu, e não deu tempo porque não tinha data. Aí fui embora para o Anzhi e deixei de lado. Já tinha falado com o Florentino [Perez, presidente do Real] e acertado tudo. Mas não estou muito preocupado com isso. Quero trabalhar como treinador. Nessa correria enorme, não está dando tempo para pensar.

UOL Esporte: Acha que você e o Cafu mereciam um jogo de despedida da seleção?
Roberto Carlos:
Não fizeram nem pro Zico, por que vai fazer pra gente? A CBF tem esse defeito de não fazer uma despedida decente para os jogadores que fizeram história com a camisa da seleção brasileira. Não falo só por mim, falo pelo Rivaldo e outros jogadores que fizeram história. Uma homenagem simples já significa muito. Um jogo, uma cerimônia. A CBF não pensa nisso.

UOL Esporte: A história do gol do Henry contra a França ainda repercute? Você fez as pazes com o Galvão e o Renato Maurício Prado?
Roberto Carlos:
Sobre o Galvão, sempre foi meu amigo. O Renato nunca foi. Não tem nem o que falar dele. Não merece minhas opiniões.

UOL Esporte: Você nunca negou que gostaria de jogar pelo Santos para satisfazer um desejo do seu pai. Se sente frustrado por não ter dado certo?
Roberto Carlos:
Falei com o Santos, mas o Vanderlei [Luxemburgo] foi embora e eu acabei não assinando. Ia lá por causa do Vanderlei. Mas acertei pela estrutura do Corinthians, o Andrés [Sanchez], o Ronaldo. Por isso não foi possível ir para o Santos.

ELOGIOS PARA A SELEÇÃO
E PARA MANO MENEZES

Pablo Porciuncula/AFP Photo
O Felipão acabou conseguindo reorganizar o que o Mano deixou pronto. O Felipão conseguiu ser campeão, mas se eu pudesse deixaria ele, Parreira e Mano no comando da seleção.

UOL Esporte: Sobre a sua despedida do Corinthians, repercutiu na imprensa um post que você respondeu a um torcedor no Twitter dizendo: “um dia você vai saber da verdadeira história”. Por que você nunca explicou o que realmente aconteceu?
Roberto Carlos:
Foi maravilhoso. Tive uma passagem maravilhosa lá. Aos 38 anos, ser eleito o melhor lateral do Paulista e Brasileiro foi maravilhoso, foi muito bom. Tive uma experiência maravilhosa com a torcida do Corinthians, tirando cinco, dez, 100 pessoas irresponsáveis que não têm educação. Por isso eu resolvi sair quando recebi a proposta do Anzhi.

Eu fiquei muito chateado porque naquele jogo da Libertadores [contra o Tolima], não me colocaram pra jogar.

UOL Esporte: Mas você não estava machucado?
Roberto Carlos: Tava nada. Se tivesse machucado, não teria viajado.

UOL Esporte: Mas você não conversou com o Tite?
Roberto Carlos: Falei pra ele que queria jogar. Mesmo sem jogar, fui culpado [da eliminação]. Foi a primeira vez que aconteceu isso na minha carreira. Mas tudo bem. Pela experiência que a gente tem no futebol, assume essa responsabilidade.

UOL Esporte: Acha que enfim o Marcelo assumiu o posto deixado por você na seleção brasileira?
Roberto Carlos:
O Marcelo é bom, o Filipe [Luis] é bom. O Brasil mereceu o título da Copa das Confederações. A gente entrou com um pouco de dúvida, jogamos contra o atual campeão do mundo e ganhamos. O Felipão acabou conseguindo reorganizar o que o Mano deixou pronto. O Felipão conseguiu ser campeão, mas se eu pudesse deixaria ele, Parreira e Mano no comando da seleção.

UOL Esporte: Você disse para a revista "Playboy" em 2010 que quando parasse de jogar, iria lançar um livro pra contar os bastidores do futebol. Ainda tem essa ideia? Revelações bombásticas virão por aí?
Roberto Carlos:
Continuo com a mesma ideia. A gente vai sentar e fazer daqui um ano ou dois. Vai ter muita coisa boa, muita coisa boa. São 25 anos de futebol né? Muita história legal, de vestiário, de hotel, bem legal. Tudo que vivi no futebol eu vou contar.

UOL Esporte: Quando jogador, você tinha fama de conquistador. Em 2005, até falaram que você teve um romance com a Ana Maria Braga. O quanto disso é verdade ou lenda?
Roberto Carlos:
[Risos] Ana Maria Braga é uma grande amiga. Não tem nada disso. É tudo conversa fiada. Sou um rapaz caseiro.