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Apesar dos bolsos "fundos", ingleses não atraem nomes de impacto na janela

Edinson Cavani era especulado no Chelsea e Manchester City antes de acertar com PSG - Frank Pennant/AFP
Edinson Cavani era especulado no Chelsea e Manchester City antes de acertar com PSG Imagem: Frank Pennant/AFP

Fernando Duarte

Do UOL Esporte, em Londres (Inglaterra)

10/08/2013 06h00

A três semanas do encerramento da janela europeia de transferências de verão de 2013, a Premier League lidera a lista de dinheiro desembolsado por reforços – a estimativa mais recente é de que os 20 clubes da primeira divisão tenham gasto até agora algo em torno de €456 milhões. No entanto, os clubes ingleses estão atraindo mais atenção pelas contratações que deixaram de fazer: apesar da combinação de ‘’músculo” financeiro e reputação competitiva, os ingleses estão perdendo a corrida pelo chamado talento de impacto.

Dois jogadores que nos últimos meses tinham sido abertamente cortejados por Chelsea e Manchester City, os atacantes Radamel Falcão e Edinson Cavani, tomaram o rumo da França, atraídos pelos bolsos profundos das oligarquias por trás de Monaco e Paris St. Germain, respectivamente. O todo-poderoso Manchester United recebeu um não duplo de dois jogadores do Barcelona, Cesc Fabregas e Thiago Alcântara – um preferiu continuar sendo reserva na equipe catalã e outro foi tentado pelo mentor Pep Guardiola assinar com o Bayern de Munique.


E o fato de Tottenham, Arsenal e Liverpool, terem sido preteridos em favor do Shakhtar Donetsk pelo atacante Bernard não foi visto como uma demonstração de prestígio por parte dos ingleses. Na verdade, a Premier League corre é mais risco de perder astros na janela. O galês Gareth Bale, que acumulou os principais prêmios individuais ingleses na temporada passada, é alvo de uma proposta robusta do Real Madrid que o Tottenham se desespera para tentar rechaçar. E o Barcelona ainda acredita que pode convencer David Luiz a deixar o Chelsea.

“Onde estão as contratações de peso?”, resmungou na última terça-feira um artigo no jornal ‘’Times”.  Acostumados a ver sua liga atrair uma gama de astros só comparada ao da dupla Real Madrid e Barcelona, os ingleses nos últimos anos viram a partida de ídolos, como Cristiano Ronaldo, e agora enfrentam também a concorrência dos clubes novos ricos, seja na França ou na Rússia.

“Sim, chegou o momento em que já não basta para a Premier League simplesmente exibir o talão de cheques para atrair jogadores. Só que antes de acreditar em algum tipo de fenômeno irreversível ,  prefiro analisar que se trata de um ajuste do mercado por causa dos efeitos provocados pela chegada de Paris St. Germain e Mônaco e o desequilíbrio financeiro na Espanha. A Premier League ainda é a liga mais forte em termos financeiros e a longo prazo tende a continuar sendo atraente”, analisa o economista Stefan Szymanski, co-autor de ‘’Soccernomics”, um dos mais celebrados livros sobre o negócio do futebol.

Szymanski se refere ao duopólio Real e Barcelona na divisão das receitas de TV na Espanha, em que a venda individual colocou os outros clubes da primeira divisão em dificuldades financeiras. Na França, PSG e Mônaco ainda são exceções na Ligue 1, em que nas últimas duas décadas os clubes se conformaram com o papel de fornecedores de atletas para as ligas mais robustas ao redor, algo comprovado, por exemplo, com a venda de Franck Ribéry pelo Olimpique de Marselha para o Bayern, em 2007.

“A Premier League ainda é a liga mais transmitida ao redor do mundo e os clubes ingleses são os que mais fazem turnês internacionais. Preocupante para eles é muito mais perder audiência do que um ou outro jogador. Até porque a liga ainda atrai jogadores de qualidade e você sempre vê atletas em outras ligas falando em como um dia querem encarar o desafio de jogar na Inglaterra”, completa Szymanski, apontando para as contratações de Paulinho pelo Tottenham, como exemplo.

Para Raffaele Poli, diretor do CIES Football Observatory, grupo de estudos suíço que monitora o mercado de transferência, os sinais são de uma mudança de filosofia por parte dos principais clubes do país. “Nas última temporada, tanto Chelsea quanto Manchester City, os principais gastadores ingleses, vêm mostrando mais interesse por jogadores mais jovens e sem a mesma projeção internacional, mas com potencial para brilhar”, opina, numa alusão a contratações como a do belga Eden Hazard junto ao Lille e de Oscar ao Internacional.

Poli também vê os clubes ingleses mais focados na consolidação de seus elencos do que no impacto de grandes contratações. “O Paris St. Germain e o Mônaco precisam de estrelas muito mais do que o Manchester United, por exemplo. Nossos estudos mostram que o título de uma Liga dos Campeões, por exemplo, costuma ocorrer em grupos cuja espinha dorsal joga junta por pelo menos cinco temporadas”, completa o italiano.

A percepção pública, no entanto, é de queda de prestígio. E de que clubes se desesperam no mercado. A contratação do volante Fernadinho pelo City por €40 milhões de euros junto ao Shakhtar, por exemplo, foi recebida como supervalorizada. “O City gastou mais de €100 milhões na janela e o time parece mais fraco que o do ano passado. É um desperdício” afirma Carlo Garganese, blogueiro da edição inglesa do site Goal.com.