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Corinthians usa doutor em futebol para encurtar distância entre Brasil e Europa

Rodrigo Leitão, técnico do Corinthians, é doutor em ciências do desporto pela Unicamp - Rodrigo Coca/Ag. Corinthians
Rodrigo Leitão, técnico do Corinthians, é doutor em ciências do desporto pela Unicamp Imagem: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

14/08/2013 06h00

Mestre e doutor em ciências do desporto, Rodrigo Leitão está à frente do time sub-17 do Corinthians desde 2010 e destoa do tradicional técnico boleiro que predomina no país desde sempre. Dono de vasto currículo acadêmico, o aspirante a jogador que passou por Ponte Preta e Guarani opina sobre temas polêmicos, compara o futebol brasileiro ao europeu e tem, como um dos objetivos de profissão, melhorar a formação dos jogadores em terras verde-amarelas. Tudo para que, no futuro, a distância para o Velho Mundo no esporte não seja tão grande. 

Na teoria, além do mestrado e do doutorado, ambos realizados na Unicamp, Rodrigo Leitão tem cursos de especialização em nutrição, psicologia e pedagogia aplicadas ao esporte. Na prática, ele trabalhou com futsal, futebol feminino e foi assistente-técnico de futebol profissional antes de comandar times da base do Paulista e do Desportivo Brasil (clube aliado à Traffic).

Hoje, ele faz parte de um sistema integrado do Corinthians, que envolve outros profissionais com experiência acadêmica em diferentes categorias. Um dos objetivos do trabalho é entregar ao time profissional, no futuro, jogadores mais capazes de compreender a estrutura de jogo. Na visão de Rodrigo Leitão, esse é um dos grandes motivos para a distância que existe entre o futebol que se pratica na Europa e no Brasil.

TITE ESCOLHE R. AUGUSTO PARA A VAGA DE DANILO, POUPADO POR CANSAÇO

  • Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians

    Sem poder contar com Danilo, que apresentou alto índice de cansaço e será poupado, Tite decidiu que Renato Augusto vai entrar em campo como titular contra o Fluminense. Depois de uma folga no último domingo, o camisa 8 treinou com o time principal e começará jogando no Maracanã, nesta quarta.

    Com isso o Corinthians deve ser escalado com Cássio, Edenílson, Gil, Paulo André e Fábio Santos; Ralf, Guilherme e Renato Augusto; Emerson, Romarinho e Alexandre Pato. Leia a notícia completa

“Eu vejo que o futebol europeu se preparou há mais de uma década para formar jogadores que tenham melhor entendimento do jogo e sejam tecnicamente desenvolvidos. Nós sofremos porque damos atenção para isso há menos tempo”, disse Leitão, em entrevista ao UOL Esporte.

O sofrimento é visível. Há um ano e meio, o Santos foi até o Japão e perdeu de 4 a 0 para o Barcelona, grande símbolo do novo modelo de futebol que é jogado no Velho Continente. Nas últimas semanas, o mesmo Santos e o São Paulo sofreram em confrontos diretos com gigantes europeus. Neymar, hoje no Barcelona, identificou em poucos dias a diferença no trabalho do dia-a-dia que se realiza nos dois lugares.

“Lá todos os 55 países filiados à Uefa têm capacitação profissional para os treinadores. Não há mais sentido ter só ex-jogadores sem capacitação profissional. Há de se entender que um treinador tem de ter conhecimento de pedagogia, gestão”, defende João Paulo Medina, idealizador da Universidade do Futebol, projeto que oferece conteúdo multidisciplinar sobre esporte, e uma das maiores autoridades do país no setor.

Rodrigo Leitão faz parte de uma geração de estudiosos que, aos poucos, vai ganhando espaço nos clubes. Em entrevista ao programa Juca Entrevista, da ESPN Brasil, em 2009, ele chegou a reclamar da estrutura viciada do futebol brasileiro, que impunha obstáculos a quem chegasse ao campo vindo da academia.

“Particularmente, eu não tenho mais esse problema. As portas se abriram. Os resultados vão acontecendo e vão mudando a percepção. Não há mais um estereótipo. Uma coisa que contribuiu é que o futebol está se qualificando como um todo. As pessoas que estão acima já vêm da universidade, entendem a importância do conhecimento”, disse Rodrigo Leitão.

As mudanças vão desde a implantação de um sistema tático até a aplicação de um método de treinamento mais eficiente. Nada, porém, é tratado com simplicidade. Mesmo as diferenças entre o futebol europeu e o brasileiro são relativizadas.

“Nossos campos não têm condição de jogo rápido. Geralmente, as linhas [de defesa, meio e ataque] das equipes daqui são mais espaçadas, mas isso é cultural. A gente joga com sobra [na zaga], na Europa não. Se não jogo com sobra, tenho de subir rápido. Isso não é um defeito ou qualidade. É óbvio que prefiro um jogo mais rápido, mas há um motivo cultural, técnico e tático para isso”, disse Rodrigo Leitão.

A ressalva é importante para explicar as exceções que marcaram o confronto entre Brasil e Europa nos últimos anos. O próprio Corinthians, por exemplo, brigou de igual para igual com o Chelsea e foi campeão mundial. A seleção de Felipão, igualmente, atropelou a Espanha na Copa das Confederações.

“Eu vejo que há uma preocupação grande de quem está no campo de conseguir entender. Felipão e o Parreira mostraram muita inteligência, eles entendem muito de futebol e sabem que não é só dentro de campo, é muito mais do que isso”, diz ele, que também rasga elogios a Tite. “É um cara excepcional, ele pega jogadores bons tecnicamente, mas que não vêm de uma cultura tática. Ele faz um cara já profissional ver o jogo de forma coletiva e tentar resolver problemas de forma coletiva. Não é qualquer um que faz isso”, concluiu.

Os resultados de aos poucos aparecem. Sob o comando de Rodrigo, o Corinthians foi campeão mundial sub-17 de clubes em 2010 e 2011, por exemplo. Hoje, está na disputa do título paulista e da Copa do Brasil da categoria. O que não alivia em quase nada as críticas que a base do clube ainda recebe.

No fim de 2011, quando deixou a presidência do Corinthians, Andrés Sanchez apontou a formação de atletas como grande problema de sua gestão. Até hoje, a torcida cobra a presença de mais jogadores do “terrão” no time profissional. A geração que ganhou tudo com Tite, por exemplo, não teve nenhum jogador de destaque oriundo da base. Rodrigo jura que esse cenário pode mudar nos próximos anos.

“Vários jogadores treinam pelo profissional e voltam para a base. Isso valoriza e faz parte da educação. Treinar com Emerson Sheik, Paulo André, Pato, você volta qualificado. Tem jogadores para quem nós temos um plano de carreira, e eles estão sendo seguidos à risca. A geração [nascida em] 1995 e 1996 talvez apareça mais, porque eles tiveram o privilégio de fazer parte desse processo todo, que no médio prazo vai gerar muitos frutos positivos”, promete Rodrigo.