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Após selinho, Emerson será ganhador do Oscar Gay de 2014

Sheik beija amigo e posta foto no Instagram - Reprodução/Instagram/10emerson10
Sheik beija amigo e posta foto no Instagram Imagem: Reprodução/Instagram/10emerson10

Daniel Marcusso

Do UOL, de São Paulo

19/08/2013 17h36

Se tem gente condenando Emerson após o selinho que ele deu no amigo Isaac, na noite desse domingo, para comemorar a vitória do Corinthians, a comunidade gay está festejando. Tanto que, após o beijo, ele vai ganhar o Oscar Gay de 2014. Em entrevista ao UOL Esporte, o antropólogo, historiador e fundador do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott, ativista brasileiro conhecido no mundo todo, adiantou que o jogador será vencedor do Oscar Gay de 2014 na categoria personalidade. A premiação, criada pelo grupo baiano, dá o troféu Triângulo Rosa para famosos de todos os setores que deram apoio aos direitos humanos dos cidadãos LGBTs.

“A atitude dele só faz bem para a tolerância e ajuda a minimizar o preconceito. É ótimo que dois heterossexuais troquem beijos na boca, ainda mais nessa onda do ‘Fora Feliciano’. Está na moda. E um selinho não é sinônimo de homoerotismo". Mott ainda vê o esporte como um ambiente extremamente preconceituoso. “O esporte, que deveria ter como princípio a famosa citação ‘Mente sã, corpo são’, infelizmente tem a cabeça insana. O futebol é marcado pelo machismo onde jogadores que ousam ter mais jogo de cintura são hostilizados, técnicos dão declarações preconceituosas, embora a homossexualidade esteja presente em todos os lugares, inclusive no esporte e nas equipes: sejam jogadores, juízes, dirigentes... O futebol é um esporte que tem de superar esses equívocos de racismo, machismo e homofobia para contribuir para o progresso e não para a discriminação.”

Mas ele acredita que as coisas estejam mudando. “Há luz nesse túnel escuro de preconceito do esporte quando se vê, por exemplo, lugares com torcidas organizadas formadas por gays. A tendência é o esporte se abrir mais. Os jogadores estão cada vez mais vaidosos com seus cortes de cabelo, roupas de grife. Estão fugindo ao rígido padrão estético do macho troglodita. A violência e a intolerância têm de ser enterradas para sempre.”

Diretor de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT, a maior rede LGBT da América Latina, Toni Reis também considera a atitude de Sheik um ato louvável. "Isso demonstra segurança, não tem nenhuma ligação com a orientação sexual do jogador. Ele foi muito corajoso. O parabenizo pelo que fez."

Para ele, que também é diretor executivo do Grupo Dignidade, o esporte é um universo onde o machismo é exacerbado, mas isso não o torna mais preconceituoso do que outros setores da sociedade. "Não se trata de uma ilha, é apenas mais um setor da sociedade que reflete o preconceito do todo. Não é diferente do resto." A situação, ele avalia, já foi muito pior. "Hoje existe uma tolerância maior.

O problema para ele ainda é o caso de esportistas que se assumem. Infelizmente, acredita Toni Reis, a vida é mais difícil para eles. “Há muita discriminação. A pessoa tem que estar muito segura de sua capacidade técnica, de seu talento como esportista, para se assumir. Porque com certeza irá se tornar motivo de gozação e vai sofrer bullying até mesmo dentro do próprio clube."