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Túlio ignora tom melancólico e tenta encerrar saga do "milésimo" gol

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

30/08/2013 06h01

Ele sonhou com a camisa do Botafogo, as arquibancadas lotadas e enorme cobertura da mídia. No entanto, o desfecho da saga criada por Túlio Maravilha não terá nada disso. O atacante de 44 anos persegue o “milésimo” gol na carreira, segundo as contas dele – o que, aliás, justifica as aspas. A primeira chance para atingir a marca será neste sábado, às 15h, em Vitória-ES, onde o Vilavelhense receberá a Desportiva Ferroviária e se despedirá da edição 2013 da Copa Espírito Santo.

“Pode falar que é melancólico, mas eu não estou preocupado. Estou preocupado comigo e com o meu projeto”, disse Túlio Maravilha ao UOL Esporte. “Eu não ligo para essas coisas. Gol é gol em qualquer lugar do mundo, e não existe um gol que valha dois ou três”, completou.

Túlio Maravilha fechou com o Vilavelhense em junho deste ano. Ele assinou contrato até outubro para disputar a Copa Espírito Santo, e o jogo deste sábado será a última chance para o atacante marcar o “milésimo” em uma partida oficial.

Com quatro pontos ganhos em cinco jogos, o Vilavelhense ocupa atualmente a terceira posição no Grupo B, que tem quatro equipes. Apenas os dois primeiros colocados irão às semifinais da Copa Espírito Santo, e as vagas já são de Real Noroeste (13 pontos) e Desportiva Ferroviária (dez).

O jogo entre o eliminado Vilavelhense e a classificada Desportiva Ferroviária será realizado no estádio Salvador Costa, que acomoda apenas 2.400 torcedores. E a festa para Túlio, se o “milésimo” gol acontecer no sábado, vai ser igualmente acanhada. Inicialmente, a ideia é celebrar o feito apenas com queima de fogos e uma camisa oficial com o número mil nas costas.

“A gente preparou uma camisa especial e fogos, mas não tem muito porque a gente nunca sabe quando o gol vai sair. Futebol é incrível. A camisa é um modelo oficial do clube, com o número mil nas costas e um autógrafo digitalizado dele”, disse Marcos Santos, gestor do Vilavelhense.

O próprio Túlio também prepara uma festa particular. O teor da comemoração, contudo, é mantido em sigilo pelo atacante: “Vou homenagear alguém e dedicar a algumas pessoas. Já está tudo ensaiado, organizado e planejado, mas isso é um segredo que eu vou guardar a sete chaves até o gol”.

Se Túlio não marcar no sábado, o Vilavelhense terá pelo menos dois amistosos até o fim de setembro para o atacante tentar chegar ao “milésimo” gol. O primeiro deve ser contra o XV de Piracicaba, em Piracicaba, no dia 11. O outro ainda não tem data ou adversário.

“Eu posso dizer que o Vilavelhense tem duas histórias: uma antes e outra depois do Túlio. Toda a mídia e todos os convites que estamos recebendo são por causa dele. Fomos procurados por muitos times para fazer amistosos, mas as pessoas querem que ele vá até as cidades para marcar o gol mil. Não podemos manchar uma carreira tão bonita como a dele fazendo um acerto assim”, disse Santos.

O gestor assumiu em maio deste ano o comando do Vilavelhense, que foi fundado em 2003 e posteriormente vendido a um empresário. A equipe tem um plano de negócios que vai até 2018, e esse é um dos motivos para a diretoria evitar lamentar a eliminação na Copa Espírito Santo.

“Nós demos uma condição profissional muito boa para todos os jogadores, mas sabemos que estamos apenas no começo de um projeto de cinco anos. A derrota faz parte”, afirmou Santos.

O outro motivo para o revés ser minimizado, segundo o gestor, é justamente a campanha de Túlio. “O milésimo gol ficou muito mais importante do que o campeonato. A verdade é essa. No sábado, quando ele marcou o gol 999, todos os adversários torciam por ele”.

“Aqui o Vilavelhense não tem muita torcida. O Espírito Santo tem mais torcedores de Vasco, Flamengo e Botafogo, e por eu estar aqui as pessoas querem ver meu sucesso”, relatou Túlio.

Essa popularidade não foi suficiente para emplacar o projeto do “milésimo” gol em outras condições. Túlio chegou a lançar em 2012 uma iniciativa em conjunto com o Botafogo, time em que ele foi campeão brasileiro de 1995.

Em maio deste ano, na rede social Twitter, Túlio chamou o projeto de “falido” e encerrou a trajetória no Botafogo – ele marcou dois gols em quatro jogos da última passagem pelo clube alvinegro. “Não foi culpa minha. O presidente não abraçou a causa”, explicou o atacante.

O projeto “Túlio a mil – sete gols de solidariedade” incluía uma série de amistosos do Botafogo. Os quatro jogos dele foram contra o Santos de Angola, Boavista, Cachoeiro-ES e Rio Branco, da segunda divisão do Rio de Janeiro.

Os adversários obscuros foram apenas uma das manchas do “projeto” de Túlio. O atacante acumulou passagens por 28 clubes para chegar aos 999 gols na carreira, e os números que ele considera não batem com os dados oficiais das equipes.

O Goiás, por exemplo, considera 91 gols de Túlio pelo clube. Bem distante da lista do atacante, que contabiliza 187 tentos com a camisa esmeraldina. Os dados oficiais das equipes em que o atacante passou somam pouco mais de 600 bolas nas redes.

“O Pelé foi contestado, o Romário também. Eu não ia ser diferente. Para não entrar em polêmica, digo que a lista é como eleição: tem uma margem de 2% para mais ou para menos. A gente sempre encarara com irreverência”, brincou Túlio.

O destino de Túlio após o “milésimo” gol também é cercado de polêmica. O atacante diz que pretende se aposentar assim que atingir a marca. Os planos dele para o futuro incluem trabalhar como comentarista de futebol e lançar uma biografia chamada “A saga do milésimo gol”. O jogador espera que o livro seja publicado ainda em 2013, e o autor é outro segredo.

Enquanto isso, o Vilavelhense faz planos para estender a saga de Túlio. O time capixaba, que atualmente busca patrocinadores para o “milésimo” gol, já estuda como prolongar a exposição do feito.

“Eu ainda estou conversando com patrocinadores para o gol mil. Acreditamos que é bem possível atrelar isso a uma montadora, e eu espero fechar amanhã [hoje]”, disse Santos, gestor do time. “Depois, queremos dar sequência a essa mídia gerada. O gol 1.001 também é muito expressivo, e o Túlio quer fazer 1.003 gols para passar o Romário, que fez 1002 na carreira”, completou o dirigente.

O atacante desmentiu a possibilidade de competir com Romário, mas não rechaçou totalmente um retorno aos gramados. “A princípio, minha ideia é dar um stop. Mas é aquela coisa: Michael Jordan parou e depois voltou. De repente, Túlio Maravilha pode seguir a mesma linha”, projetou o jogador.