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Demitido do São Paulo, Luiz Rosan ataca Adalberto: "Ele é amador"

Luiz Rosan (à esquerda) diz que "não daria nem um time de várzea para Adalberto dirigir" - Divulgação/saopaulofc.net
Luiz Rosan (à esquerda) diz que "não daria nem um time de várzea para Adalberto dirigir" Imagem: Divulgação/saopaulofc.net

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

06/09/2013 06h00

Luiz Rosan foi fisioterapeuta do São Paulo por mais de 20 anos, foi um dos idealizadores do Reffis e tem mais de 180 jogos pela Seleção Brasileira. Em março desse ano ele foi demitido do clube pelo ex-diretor de futebol Adalberto Baptista, que agora retorna em outro cargo à cúpula são-paulina. Rosan nunca falou sobre sua saída, mas agora, cinco meses depois, rebate e ataca o dirigente.

Adalberto Baptista foi nomeado na última terça-feira diretor-secretário geral do São Paulo. Voltará a ser braço-direito do presidente Juvenal Juvêncio. Antes, deixou o cargo após criticar publicamente o goleiro Rogério Ceni, o que voltou a fazer nessa semana em entrevista ao jornal Lance!.

Rosan também foi atacado. Adalberto disse que seu maior acerto no São Paulo foi ter demitido o fisioterapeuta, que responde: diz ter sido vítima de “perseguição implacável” do dirigente, que “não daria um time de várzea para Adalberto dirigir”, que o ex-diretor de futebol contratava jogadores sem exames médicos ou opinião dos profissionais do clube – e que isso pode ter influenciado na recuperação de atletas que chegaram lesionados. Fala que o dirigente tem péssima relação com elenco e funcionários, que não tem amigos no clube e conta das desavenças que culminaram em sua demissão.

O fisioterapeuta está com a Seleção Brasileira em Brasília, na preparação para o amistoso contra a Austrália, no sábado, e concedeu entrevista ao UOL Esporte por telefone, nesta quinta-feira. Adalberto foi procurado pela reportagem, mas não respondeu às ligações.

UOL Esporte: Por que você foi demitido do São Paulo?
Luiz Rosan: Foi uma perseguição implacável, desde quando ele assumiu o marketing, quando eu já discordei de uma ideia dele, que queria fazer franquias do Reffis. A partir daí começou uma perseguição implacável. Ele começou a fazer algumas coisas que não condiziam com minha linha de conduta e aí começou um atrito pessoal, isso ainda em 2010...

UOL Esporte: E como esse atrito evoluiu até sua demissão?
Luiz Rosan:
Esse atrito nunca foi reparado. Todas as vezes procurei o diálogo. Quando não, tentava outra solução com outro diretor e a palavra dele prevalecia. Isso evoluiu com a chegada dele ao futebol. Fui demitido por um motivo pessoal. Ele chegou no futebol e logo de cara, nós que temos alguma experiência, percebemos que ele era inexperiente. Mas ninguém nasce sabendo. O problema foi que ele não soube aprender, não soube gerir o futebol. Culminou com ele deixando o clube na situação que deixou.

UOL Esporte: Quais eram os atritos específicos entre você e ele?
Luiz Rosan:
No episódio da contratação do Luis Fabiano, discordei da presença do jogador na Espanha. Eu conheço o atleta há dez anos e pedi o tratamento no Brasil. Foi ordem do Adalberto para que ele ficasse lá, já que ele queria fazer da chegada do Luis um “megashow”. Eu pensava na saúde e na instituição enquanto ele pensava no “megashow”. O resultado disso foi que nós mandamos o Ricardo Sasaki [fisioterapeuta] para lá e o atleta perdeu três semanas de tratamento. Eu era sempre vencido por ele, porque a autoridade do diretor prevalece. A partir daí eu comecei a direcionar para outro lugar atletas que me procuravam para se tratarem no Reffis. Teve o episódio do Ganso, que tinha uma lesão, e o Adalberto negociou por 30 dias e não me ouviu. Tudo bem, não gostava de mim, não precisava me consultar. Mas ouvisse o José Sanchez [médico], outra pessoa. Quando fechou, ele disse que o Ganso estrearia em 15 dias. Ele costumava contratar sem fazer exame médico.

UOL Esporte: Como era a relação do Adalberto com funcionários do clube?
Luiz Rosan:
Péssima. Não vou citar nomes, mas eu saí do São Paulo e com certeza deixei 99 amigos e um inimigo. Eu duvido que ele, quando saiu, tenha deixado mais do que cinco ou seis amigos. Ele é amador. Ao longo da minha carreira, jamais vi um dirigente como ele. Eu não quero dizer que ele é fraco, eu acho que ele teve tempo para aprender, mas ele tem atitudes que não condizem com o clube. Eu não daria um time de várzea para ele dirigir.

UOL Esporte: E a relação com os jogadores?
Luiz Rosan:
Ele fazia algumas diferenças com jogadores. Tratava uns de uma maneira e outros de outra. E isso o elenco não admite.

UOL Esporte: Como acha que Rogério Ceni encara a volta do Adalberto à diretoria e mais uma crítica pública?
Luiz Rosan:
Não vou falar pelo Rogério. Vou falar por mim. Quando ele disse que a reposição de bola do Rogério estava ruim, eu achei um absurdo. O cara está sem noção. Ele atacou o Rogério injustamente. Agora veio e reiterou, no momento em que o clube poderia sair dessa situação. Quem é que pensa na instituição? Rogério ou ele? A gente conhecendo o Rogério como conhece, a gente imagina como ele está passando com essa situação ruim do time. Penso o quanto ele deve estar sofrendo com isso. Quem é egocêntrico aí?

UOL Esporte: Fora a parte médica, você desrespeitou uma ordem dele de pegar ingressos para funcionários para os jogos no Morumbi. Acha que você errou? Isso selou a demissão?
Luiz Rosan: Nossa relação ficou distante. Ele não vê o lado do ser humano. Fui barrado oito vezes no Morumbi depois dessa medida dos ingressos, com minha carteirinha do Reffis. Fui humilhado. Não só eu, outros também. Determinada vez fiquei tão constrangido, quando o presidente do Conselho Deliberativo do São Paulo, José Carlos Ferreira Alves, viu o imbróglio e me deu um ingresso para entrar. Maior constrangimento que passei em duas décadas de São Paulo. Quando isso aconteceu fui falar com o Juvenal, e ele me mandou falar com Adalberto. Marquei reunião com ele. Pedi para que ele fizesse uma credencial, para não precisarmos dos ingressos, e ele não fez. Acabou que um dia xinguei todo mundo quando me barraram, me excedi.

UOL Esporte: Houve reclamação sua sobre premiação financeira? Isso desgastou a relação?
Luiz Rosan:
Sobre premiação, eu reclamei, sim, porque comecei ganhando 5% de um valor, e a cada ano aumentava 5%. Chegou um momento que eu ganhava 100%. E sem mais nem menos ele tirou isso e fui questioná-lo. Ele falou que iria resolver, não resolveu. Ele disse que eu frequentava pouco o CT, mas isso foi me oferecido ao São Paulo. Eu tinha uma escala, eu ia à tarde.

UOL Esporte: Como você se sentiu após a demissão?
Luiz Rosan:
Fiquei extremamente chateado e abalado. Ele me demitiu às 7h da manhã em um dia que eu e o Osvaldo estávamos chegando de um desembarque com a Seleção. Tenho 30 anos de fisioterapia, nunca havia sido demitido. O que iria falar para minha família? Da maneira como foi, aquilo me chocou muito. Achei que faltou respeito. Ele me perseguiu, uma perseguição implacável. Ele me tirou o emprego, mas não me tirou a dignidade e meus princípios. Eu fiquei humilhado perante meus amigos e minha família.

UOL Esporte: Você chegou a conversar com o Palmeiras, mas não houve acordo. Profissionalmente, como foi esse período e qual seu objetivo?
Luiz Rosan:
Hoje quero apenas me concentrar na Seleção. Estou completamente concentrado com a Seleção.